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No estado do Rio de Janeiro, três municípios se destacam em quantidade de adeptos do swing: a capital, Niterói e Nova Iguaçu. Estamos falando de uma prática sexual consensual que envolve troca de casais em busca de novas experiências sexuais.
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Levantamento feito pelo Ysos, aplicativo especializado em conectar pessoas interessadas na prática do swing, indicou que, em Niterói, a maioria dos adeptos (61,44%) é formada pelo que se poderia chamar de casal hétero convencional, ou seja, formado por um homem e uma mulher.
Porém, homens (28,28% ) e mulheres solteiros (9,15%) também estão se colocando disponíveis para esse tipo de prática sexual, na cidade.
E o que tipo de parceiros essas pessoas estão procurando quando se propõem a fazer uma programação que envolve swing? Segundo a pesquisa, a maioria (63,29%) busca por outro casal hétero. No ranking das preferências, as mulheres cis ficam em segundo lugar (39,34%) seguidas pelos homens cis (34,57%).
Casal formado por mulheres e as mulheres trans empatam em quarto lugar ((13,33%) na preferência dos swingueiros de Niterói. Em quinto (10,11%) estão os travestis, seguido por casal formado por homens (7,19%); homens trans (6,64%) e crossdresser (6,02%).
Em termos de faixa etária, os maiores adeptos, em Niterói, têm entre 25 e 34 anos (41,66%), seguido pela turma entre 35 e 44 anos (32,32%) e de 45 a 54 anos (12,08%). Jovens entre 18 a 24 anos representam 11,10% dos swingueiros da cidade, tendo a prática também conquistado adeptos em pessoas com idades entre 55 e 64 anos (2,49%) e até entre os que têm 65+ (0,35%).
– O swing já não é mais exclusividade de grandes centros urbanos. Em todos os estados brasileiros, há cidades liderando a adesão ao movimento No Acre, por exemplo, as cidades de Rio Branco, Cruzeiro do Sul e Acrelândia concentram os maiores números de adeptos. De Oiapoque (AP) ao Chuí (RS), o swing parece estar conectado por um único fio condutor: a busca por experiências que transcendam as convenções tradicionais – afirmou Gustavo Ferreira, Head de marketing do aplicativo.
Segundo ele, o perfil dos adeptos do swing, em Niterói, “bate” com o perfil nacional traçado pela pesquisa feita pelo Ysos, que tem 2 milhões de usuários.
Os principais adeptos, com 45%, são os casais héteros, enquanto 38% são homens e 14% são mulheres. Já em termos de preferências, as declarações de interesse selecionadas pelos usuários ao configurar seus perfis no aplicativo, segundo Ferreira, “reforçam a pluralidade do swing”: casais “ele/ela” lideram as preferências (45,03%), seguidos por mulheres (27,61%) e homens (23,54%). Interesses como “casais ela/ela” (10,37%) e “mulheres trans” (10,33%), “indicam uma abertura crescente para novas possibilidades dentro do universo do swing”, observou o executivo.
A faixa etária dos praticantes também chamou atenção, na pesquisa. A maioria (37,40%) está entre 25 e 34 anos, seguidos por usuários de 35 a 44 anos (28,63%). Apesar de menos expressivos, jovens de 18 a 24 anos (10,54%) e pessoas acima de 55 anos (7,50%) também mostram interesse no swing.
Engana-se quem pensa que, em um local destinado para a prática do swing rola um “vale tudo”. Estudiosa do tema, a antropóloga mineira Maria Silvério, em entrevista ao podcast “É tudo culpa da cultura”, comandado pelo também antropólogo Michel Alcoforado, explicou o Be-A-Bá da prática.
– São espaços cheios de regras e moralidades. A começar que é de bom tom, para quem quer chegar pela primeira vez, ter um “padrinho” no local. Funciona como uma espécie de garantia de segurança. Em uma casa de swing, “não é não”. Nada é feito sem consentimento. Não tem essa história de todo mundo é de todo mundo. É bom lembrar que todo mundo, ou a maioria, tem “dono” por lá – afirmou Maria Silvério que é doutora em Antropologia Social pelo Instituto Universitário de Lisboa (ISQT), tendo se dedicado às pesquisas sobre conjugalidade, sexualidade e outras múltiplas formas de relacionamento.
Segundo ela, são os maridos dos casais héteros que convencem suas esposas a experimentar o swing – um convencimento que pode levar até alguns anos para serem conseguidos.
Nas trocas de casais, o sexto pode ou não ir às “vias de fato”. Porém, segundo a estudiosa, raramente acontecerá entre dois homens – práticas homossexuais masculinas em casas de swing não são muito bem aceitas.
– A principal regra de etiqueta de uma casa de swing é que tudo é permitido, mas não obrigatório – afirmou a antropóloga.
Quando o assunto é regras, uma casa de swing no bairro niteroiense do Gragoatá tem, literalmente, seus 10 mandamentos bem às claras. São eles:
1º – Usar sempre preservativos.
2º – O casal que irá praticar o swing deverá estar preparado psicologicamente, pois o momento poderá ser o primeiro ou o último.
3º- Não deve haver sentimento de culpa entre o casal, mas somente aproveitar o momento.
4º- Cabe a cada casal preparar-se antes da iniciação, entender que os mesmos buscam o prazer, a superação no casamento, a realização de fantasias, e nunca um lance de culpa ou traição.
5º- Ambos devem somar ao prazer de terem um relacionamento agradável com um novo parceiro ou parceira.
6º- Durante a fase de conhecimento, o interessante é preservar a amizade, sendo que a afinidade é uma consequência natural da aproximação entre as partes.
7º- No primeiro encontro, procure evitar qualquer tipo de constrangimento ou inibição, o ideal é visitarem um clube de swing, onde a segurança e a tranquilidade são fatores importantes para a iniciação.
8º- A sugestão para o primeiro encontro é sempre em locais discretos ou em uma Casa de swing, jamais na residência dos envolvidos.
9º- Seja educado com o seu parceiro (a) e trate os demais como gostarias de ser tratado.
10º- Se o casal tiver alguma experiência e for se relacionar com um desconhecido (a) pela primeira vez, o cuidado deve ser redobrado. É importante que sejam estabelecidos todos os limites pelas partes envolvidas, visando assim um perfeito relacionamento.
E não é tudo. No quesito regras, o estabelecimento de Niterói expõe sua receita para que os convidados aproveitem ao máximo a “balada”:
– Muitas pessoas não frequentam um ambiente liberal porque não sabem como funcionam ou têm uma visão equivocada do que acontece em uma boate-ambiente liberal. A máxima do swing é o respeito e aqueles que não sabem respeitar não podem frequentar nossa boate – afirma a direção do estabelecimento do Gragoata, uma casa que dispõe tanto de ambientes coletivos quanto locais mais reservados.
Nesses locais, podem acontecer desde shows surpresas a noites temáticas. No Gragoatá, a programação da casa é diferenciada a cada dia, voltada, ora para quem curte somente troca de casal, ora para os que preferem ménage só feminino ou só masculino. Tem também o “dia livre” aberto para todas as preferências da prática.
Outra observação feita pela antropóloga Maria Silvério diz respeito à ideia de que os locais para a prática do swing são “liberais”:
– Esses espaços reproduzem, de certa forma, a estrutura machista, patriarcal e heteronormativa da sociedade. O sexo entre duas mulheres é o principal fetiche dos homens. Já entre dois homens é mal visto pelos frequentadores, de uma maneira geral. Não por acaso, as mulheres solteiras são sempre bem-vindas, já homens solteiros chegam a ter número de frequentadores limitados, dependendo do dia. O corpo feminino padrão é muito valorizado. Corpos brancos “sarados” são os mais desejados.
Confira a lista das três cidades com mais adeptos do swing em cada estado do país
Acre: Rio Branco, Cruzeiro do Sul e Acrelândia
Alagoas: Maceió, Arapiraca e Marechal Deodoro
Amapá: Macapá, Santana e Amapá
Amazonas: Manaus, São Paulo de Olivença e Manacapuru
Bahia: Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista
Ceará: Fortaleza, Juazeiro do Norte e Caucaia
Distrito Federal: Brasília, Águas Claras e Valparaíso de Goiás
Espírito Santo: Vitória, Vila Velha e Serra
Goiás: Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis
Maranhão: São Luís, Imperatriz e São José de Ribamar
Mato Grosso: Cuiabá, Rondonópolis e Sinop
Mato Grosso do Sul: Campo Grande, Dourados e Três Lagoas
Minas Gerais: BH, Uberlândia e Contagem
Pará: Belém, Ananindeua e Parauapebas
Paraíba: João Pessoa, Campina Grande e Patos
Paraná: Curitiba, Londrina e Maringá
Pernambuco: Recife, Jaboatão dos Guararapes e Caruaru
Piauí: Teresina, Parnaíba e Picos
Rio de Janeiro: Rio de Janeiro, Niterói e Nova Iguaçu
Rio Grande do Norte: Natal, Mossoró e Parnamirim
Rio Grande do Sul: Porto Alegre, Caxias do Sul e Canoas
Rondônia: Porto Velho, Ji-Paraná e Vilhena
Roraima: Boa Vista, Rorainópolis e Caracaraí
Santa Catarina: Florianópolis, Joinville e Blumenau
São Paulo: São Paulo, Campinas e Guarulhos
Sergipe: Aracaju, Itabaiana e Nossa Senhora do Socorro
Tocantins: Palmas, Araguaína e Gurupi
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