27 de dezembro

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Niterói na contramão do desmonte do audiovisual do governo Bolsonaro

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Cineastas locais comentam Mostra Curta Niterói e criticam os boicotes ao setor cultural promovidos pelo governo federal
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Felipe Soares é cineasta e participa da Mostra Curta Niterói. Foto: Zara Studio Criativo.

Na contramão dos constantes cortes e boicotes ao setor cultural promovidos pelo governo Bolsonaro, Niterói parece oferecer um oásis de oportunidades para produtores baseados na cidade, em especial os cineastas. A cidade está realizando até o dia 31 de agosto a primeira Mostra Curta Niterói, que exibe 12 curta-metragens nacionais, muitos deles produzidos na cidade ou por artistas locais, sobre três temas: “Livre”, “Pandemia” e “Niterói”. A mostra ocorre no formato online, uma forma de manter a programação em meio à pandemia.

Seja em histórias que se passam no Mercado São Pedro, ou entre um pai e um filho que pescam na Baía de Guanabara, a cidade é protagonista e cenário em diversas das produções exibidas, e selecionar os participantes dentre as 141 inscrições foi um grande desafio, segundo conta a cineasta Rosa Miranda, uma das três curadoras da mostra:

– Tivemos uma reunião com a Niterói Filmes e eles colocaram alguns critérios, para além da qualidade técnica, que é importante. A gente pensou a territorialização, e em critérios de gênero, racial… Eram muitos filmes bons e poucos lugares, então foi um processo dolorido. É difícil dizer qual é meu predileto.

Mas Niterói parece ser mesmo um ponto fora da curva em termos de investimento público e valorização da Cultura nos últimos anos. Enquanto o governo Bolsonaro, logo no primeiro ano de governo, reduziu o Ministério da Cultura a uma Secretaria Especial e cancelou diversos editais públicos de financiamento a produções audiovisuais devido ao conteúdo dos filmes, Niterói segue seu programa de fomento ao audiovisual. Ele foi lançado em setembro de 2017, com medidas articuladas da Prefeitura voltadas especificamente para o setor, com objetivo de diversificar, através da economia da cultura, a matriz econômica da cidade.

– Estão tendo editais na cidade, para além dos emergenciais. Tem algumas coisas que podem melhorar (…), mas no audiovisual, há uma potência e um real investimento por parte da cidade, tanto que tem muitos produtores do Rio que enviam projetos para os nossos editais aqui – avalia a curadora, que é formada em Cinema pela Universidade Federal Fluminense e membro do Quilombo Virtual das Artes e Cultura de Niterói.

Valorização da cena local

Mostra exibe curtas de todo o país. Divulgação.

O cineasta Felipe Soares, selecionado para a Mostra com o filme Meu Melhor Amigo está muito feliz com a seleção. É o primeiro festival de que o curta participa. Ele também acredita que os últimos dois anos foram ruins para os trabalhadores da cultura, em nível nacional:

– Na minha opinião, não existem políticas públicas por parte do governo federal que favoreçam em aspectos culturais nesses últimos dois anos. Estamos passando por um grande desmonte, sendo desassistidos e desvalorizados. Por outro lado, temos o privilégio de morar em uma cidade que respira cultura. A prefeitura de Niterói tem proporcionado diversas chamadas públicas, eventos online e festivais, movimentando de forma satisfatória a cultura local.

Cartaz do filme de Felipe Soares selecionado para a mostra

O “Meu melhor amigo”, produzido antes da pandemia, conta a história de um comprador de peixe e seu vendedor preferido, em um cenário familiar aos moradores, o tradicional Mercado de São Pedro. Baseado na crônica homônima e com narração do jornalista Luiz Claudio Latgé, o curta proporciona a experiência de estar e andar no corredor do tradicional mercado de peixe de Niterói.

– O mercado nos proporciona diversos elementos cênicos, como cores, texturas e ruídos… pena que o cinema ainda não transmite cheiro!


Confira a programação da Mostra:

6/7 – “Dias de quarentena”, de Davidson Davis Candanda (RJ). Tema: pandemia.
13/7 – “Nana & Nilo na cidade verde”, de Sandro Lopes (RJ). Tema: Niterói.
20/7 – “Distopia”, de Lilih Curi, BA. Tema: livre.
27/7 – “107”, de Pedro Ladeira (DF). Tema: pandemia.
3/8 – “Meu melhor amigo”, de Felipe Soares (Niterói, RJ). Tema: Niterói.
10/8 – “Descompostura”, de Alline Torres, Anaduda Coutinho, Marcio Plastina e Victor Alvino (RJ). Tema: livre.
17/8 “Feliz aniversário”, de Patrícia Cordeiro e Briele Fernanda (RJ). Tema: pandemia.
24/8 – “Saudades de Amélia”, de Gaboroto (Niterói, RJ). Tema: Niterói.
31/8 – “Sobre nossas cabeças”, de Susan Kalik e Thiago Gomes (BA). Tema: livre.

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