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Niterói lamenta a perda de um dos médicos mais respeitados da cidade, Dr Márcio Torres

Por Redação
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Médico e professor, Márcio Torres era referência para os colegas e formou gerações de profissionais da cidade; UFF lamenta a perda
dr. torres corte
O médico Márcio Torres, um humanista dedicado à medicina, com a mulher, Maria de Nazareth, quando ele foi homenageado pela Academia de Medicina

O médico Márcio José de Araújo Torres parecia fazer o diagnóstico só de olhar para o paciente, tão bom e experiente era na sua profissão. Mas era também extremamente detalhista e cuidadoso, e nenhum doente saía de seu consultório antes de uma demorada entrevista e exame completos. Os laboratórios ele usava apenas para confirmar aquilo que já descobria ali na consulta. E não importava se o paciente podia ou não pagar. Humanista, Márcio Torres dedicou sua vida à medicina.

Como professor da UFF, formou gerações de niteroienses, grandes médicos da cidade que também se tornaram amigos.  Pelo menos três deles, todos seus ex-alunos, Luiz Cláudio Bruno, Ricardo Carneiro e Agnaldo Zagne, dedicaram os últimos três meses a cuidar de Márcio, internado desde fevereiro no CHN após complicações cardíacas e pulmonares. Inúmeros outros médicos estiveram no CHN no período da internação para tentar ajudar o amigo e antigo mestre.

Aos 87 anos, Márcio Torres lutou bravamente pela vida, como lutou nos mais de 50 anos de medicina para salvar seus pacientes. Mas faleceu nesta terça-feira, no começo da noite.

A relação com a UFF

A data de formatura vai longe, 1958. Ela reflete bem a longa e generosa trajetória do Dr Márcio José de Araújo Torres no atendimento aos pacientes e na formação de novos profissionais. Formado em Medicina pela Universidade Federal Fluminense e com em Especialização em Medicina Interna pela Associação Médica Brasileira(1960),  foi Livre docente e professor titular de Clínica Médica da UFF. A universidade distribuiu nota de pesar pela morte do médico.

Em 1961, o Dr. Márcio fez parte da equipe médica que atendeu, no Hospital Universitário Antonio Pedro, as vítimas do incêndio do Gran Circo Americano, tragédia que matou  503 pessoas em Niterói. De acordo com a nota da UFF, o professor era reconhecido pela sua generosidade, sensibilidade e competência, “foi um ícone da clínica médica formando gerações de excelentes médicos e fará muita falta para a nossa sociedade.”

O reconhecimento dos colegas

– Que perda o falecimento do dr. Márcio Torres. Que ele, na presença  de nosso Pai Maior, possa se juntar ao dr Edgard Venâncio, dr Guilherme Eurico e alguns outros mestres da nossa medicina de Niterói – escreveu o médico Carlos Murilo numa rede social de médicos do Antônio Pedro.

– Márcio era pai de um grande amigo meu e uma inspiração intelectual muito especial – escreveu o reitor da UFF, o médico Antônio Claudio Lucas da Nóbrega, que também foi aluno de Márcio Torres. A UFF divulgou nota de pesar e reconhecimento pela dedicação de Márcio à formação de novos médicos.

– Escolhi a Clínica Médica por admiração a ele. Bruno, Ricardo e Agnaldo foram incansáveis. Meus sentimentos à família. Trabalhei com ele e Agnaldo como acadêmico e no Santa Monica e depois no HUAP.  Admirava muito sua capacidade de diagnosticar. Dizia que diagnosticar é ação. Mais um amigo que se vai – lamentou o médico José Luiz Reis Rosatti em uma rede sociais de médicos.

– Deixou muitos discípulos, que com certeza sempre honraram ou honrarão seu nome e ensinamos _ escreveu o dr Antonio Salgado.

Dedicação aos pacientes de Niterói

A vida do Dr Márcio Torres esteve sempre ligada ao Hospital Antônio Pedro. Na página da sua clínica na internet, exibia uma foto do hospital, com a legenda: “Assim era o Hospital Antonio Pedro na época em que me formei (1958).” E contava um pouquinho de história. Uma história que conhecia de perto e ajudou a construir.

“Durante os seus primeiros anos de existência, o Hospital Municipal Antônio Pedro sobreviveu com verbas da Prefeitura e, também, com aquelas obtidas através da cobrança de serviços médicos prestados. Em 1957, a Prefeitura proibiu a cobrança de serviços, e, em oito meses, à míngua de recursos, o Hospital fechou suas portas. Em dezembro de 1961 chegou a ser reaberto em caráter de emergência, com um corpo clínico composto às pressas por médicos da Prefeitura e estudantes de Medicina da UFF, para que pudessem ser atendidas as vítimas de uma catástrofe, o incêndio do Gran Circo Americano, que resultou, sem contar os feridos, a maior parte gravemente queimados, na morte de mais de 500 pessoas, a maioria crianças. Como Niterói tivesse necessidade de um estabelecimento hospitalar de grande porte, houve um esforço no sentido de manter aberto o hospital. Asfixiado pela insuficiência de fundos, privado da reposição de equipamento e de material de consumo, o hospital agonizou até desativar-se inteiramente, em pouco menos de um ano, sem que, para isso, fosse necessário qualquer ato administrativo formal. Em 1964, depois de três anos de abandono, e como resultado de prolongada mobilização dos estudantes de Medicina, o Hospital Municipal foi cedido pela Prefeitura à UFERJ, tornando-se, assim, o Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP).

Márcio Torres participou de cada etapa da vida do hospital da cidade. Foi clínico do serviço público federal – 1963 a 1993; Livre docente de Clinica Médica da UFF – 1976; Professor de Clinica Médica da UFF – 1966 a 1989; e Professor titular de Clínica Médica concursado da UFF – 1994 a 2005. No consultório da rua Miguel de Frias, atendeu gerações de moradores da cidade.

Contemporâneo de Márcio Torres, o médico Luiz Augusto de Freitas declarou:

– Deixo à família uma palavra reconhecimento pela vida social e humanística de Márcio Torres, como cidadão, médico e professor. Pranteio a morte, todavia exalto a vida reta, útil e fecunda –  herança que fica para outras gerações.  Presumo que Márcio colou grau em 1958, ano em que eu iniciava o curso médico. Portanto, se assim o for, fomos contemporâneos por um ano na antiga e saudosa Faculdade Fluminense de Medicina. Caso não o seja, com certeza compartilhamos a docência da Faculdade de Medicina da UFF, sempre entre as várias paredes do HUAP por muitos e muitos anos.  Clínico destacado em uma geração de colegas de especialidades clínicas de diferenciado saber médico, Eduardo Imbassay, Tito Alencar Ruch, Geraldo Chini, Ruy Villela, Valdemar Wanderley, René Garrido Neves, Waldenir de Bragança, Herbert Praxedes, Nelson Lamy etc, etc, etc… Desculpem a não citação de vários outros, incluidos nos etcs, da geração médica formada na década de 1950 em Niterói. Ocorre que escrevo este texto emocionalmete abalado, à distância, sem uma pesquisa em fontes apropriadas.  Márcio Torres, independentemente de concordância com todas as suas idéias, pensamentos e posições, foi uma figura humana diferenciada, com  opiniões fortes e abalizadas, polemizador, de elevada cultura médica e geral. Algumas vezes, ácido; outras vezes, dotado de fina ironia; outras ainda, crítico contundente. Contudo, assumia essas posições de maneira afável, “fala mansa”, e aberto à discussão de controvérsias.
E completou:
– Sem dúvida, um homem de caráter,  sem jaça, cavalheiro e sempre disposto a engrandecer a cultura médica e geral. A morte não apaga a vida que escrevemos, para o bem ou para o mal. Márcio Torres a deixa indelevelmente gravada com a tinta eterna de quem valorizou o ser humano!

O dentista Marcelo Zagne, filho de Agnaldo,  também se manifestou:

– Meu padrinho. Eu estava acompanhando o quadro dele pelo meu pai. Ele sempre será bem lembrado pela excelência que foi como médico e pessoa. Que se doou inteiramente à medicina e serviu de exemplo e formador de grandes profissionais e professores.

Velório e cremação

Márcio Torres deixa a viúva, Maria de Nazareth Machado Torres,  os filhos Sérgio, João Paulo, Cintia, Susana e Dione e os netos Eduardo, Vivian, Fábio, Clara, Marcos, Mateus e Marcelo, além dos bisnetos Benício e Nicolas.

O velório do dr. Márcio Torres será nesta quinta-feira, das 10h30m às 12h, no Parque da Colina, em Niterói.

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