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Há 11 anos, na noite de 11 de agosto, a juíza Patrícia Acioli foi executada com 21 tiros, quando chegava em sua casa, em Piratininga, Região Oceânica de Niterói. Ela dirigia o próprio carro, após um dia de trabalho, no Fórum de São Gonçalo. O crime, reproduzido nos mínimos detalhes, é uma das primeiras cenas do documentário “Patrícia Acioli, a juíza do povo”, que terá pré-estreia na próxima quinta-feira, 11 de agosto, às 18h, na Sala Nelson Pereira dos Santos, em São Domingos.
A obra, porém, não é um thriller policial, de acordo com seu diretor e roteirista, o jornalista Humberto Nascimento. Ele diz que buscou, antes de mais nada, recontar a vida da juíza: ” Ela era uma humanista. Sua história é riquíssima porque ela era uma pessoa generosa e abnegada, aberta ao próximo”, comenta Nascimento, de 57 anos, que era primo de primeiro grau de Patrícia.
Para não esquecer
Mostrar o crime, na sua opinião, era preciso para dar “uma pancada” na audiência e jogá-la de volta ao passado. Nascimento, porém, foi quem levou essa pancada primeiro.
Ele filmou a reconstituição do crime tendo como cenário exatamente a porta da casa da prima, no Tibau. E fez questão que tudo fosse feito à noite, sem uso de filtros:
– Eu me senti péssimo, após as filmagens. Foi horrível. Fiquei remoendo as imagens por muitos dias. Sei que vai ser terrível para todos rever isso, mas o filme tinha que ter esse impacto – conta.
Apesar de ser um documentário, o longa contou com a participação de sete atores, todos de Niterói. Maíra Porto, Lucas Toledo e Pablo Marcell são três deles. Interpretam a juíza e seus assassinos.
Nascimento informa que gravou mais de 50 horas de entrevistas com 35 pessoas. Um dos entrevistados foi o defensor público de dois dos criminosos que, em delação premiada, revelaram detalhes dos bastidores do crime, o que permitiu chegar ao mandante e prendê-lo.
Titular da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, no dia do seu assassinato, Patrícia, então com 47 anos, havia assinado os pedidos de prisão de dois policiais militares. À noite, eles a seguiram e a mataram. Ambos integravam uma milícia que atuava no 7º BPM (São Gonçalo), alvo de investigação da juíza. Patrícia analisou mais de 100 autos de resistência na região e encontrou dezenas de relatórios forjados para encobrir execuções.
Onze policiais militares foram condenados pelo assassinato de Patrícia e estão presos, inclusive, o tenente-coronel Cláudio de Oliveira, na época o comandante do 7º BPM. Ele e outro tenente, também preso, seguem, porém, como integrantes dos quadros da PM e recebem mensalmente seus salários.
– A Justiça foi feita. Agora, o filme vai resgatar histórias que a imprensa não mostrou, ao cobrir o crime. Por exemplo, poucos sabem que Patrícia adotou três menores infratores. Ela tinha muita compaixão pelas pessoas – afirma Nascimento que tem uma carreira de 30 anos na televisão e, agora, realiza seu primeiro longa.
O filme venceu um edital da prefeitura de Niterói, em 2019. Seria realizado em 2020, mas a pandemia do Coronavírus não permitiu. As primeiras cenas começaram a ser gravadas no final do ano passado. Após essa pré-estreia para convidados, a expectativa de Nascimento é que o filme faça “carreira” no cinema, antes de ir para os canais de Streaming.
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