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Niterói, 450 anos e depois

Por Redação A Seguir
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Niterói revê sua história, seus lugares de afetos e enfrenta desafios para ser um lugar melhor
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A melhor vista de Niterói, não é do Rio, é de Niterói. Foto: arquivo

Niterói completa, nesta quarta-feira, 22 de novembro, 450 anos, melhor do que era antes e devendo ao morador fazer mais. É uma cidade com muita história, com papel importante no Império e na República, antiga capital do estado do Rio, e que tem uma dimensão maior que seu território de 133 mil km2 e uma população de 481.758 moradores. Uma cidade tão próxima do Rio, durante anos centro da vida brasileira, tinha tudo para desaparecer no mapa, desdenhada como papa-goiabas. Mas Niterói foi capaz de produzir conhecimento, cultura, soluções para problemas urbanos e ser reconhecida entre mais de 5.500 municípios do país.

A cidade, hoje, aparece orgulhosa no mapa de desenvolvimento do país. Tem alguns dos melhores índices de desenvolvimento humano do país.  O melhor IDH do Rio, maior renda, melhor saneamento… É comum que os moradores de Niterói exibam nas redes sociais a sua ligação afetiva com a cidade, além da “mais bela vista do Rio de Janeiro”. Praia de Icaraí, antes e depois do trampolim, Itacoatiara, Itaipu, a fortaleza de Santa Cruz, a Ilha da Boa Viagem, o Parque da Cidade, o MAC… e o Caneco do Mário, a Gruta de Santo Antônio, o Seu Antônio do Bacalhau e o italianinho, é claro. Até as barcas que construíram no tempo manifestações de amor e ódio fazem parte da vida da cidade. Mesmo quando virou troça: “Só mesmo vendo como é que dói, trabalhar em Madureira, viajar na Cantareira e morar em Niterói.”

Numa entrevista ao A seguir Niterói, o historiador Paulo Knauss revelou alguns dos mitos que cercam a história da cidade, a começar por Arariboia, o guerreiro temiminó que sai do Espírito Santo para lutar com Estácio de Sá para expulsar os franceses da Baía de Guanabara e fundar o Rio de Janeiro. No livro que o jornalista Rafael Freitas da Silva escreveu sobre Arariboia, o pesquisador  Luiz Antônio Simas diz que deveria ser homenageado como herói do Rio de Janeiro. Mas ficou confinado às terras que recebeu para guardar a colonia portuguesa, até que todos os vestígios da presença indígena fossem apagados de Niterói.

– Arariboia é um mito republicano – disse Paulo Knauss, lembrando que só depois da queda da monarquia Niterói resgata esta origem para apagar os vínculos com a realeza. A presença indígena ficou nos nomes dos lugares mais queridos da cidade: Icaraí, Itapuca, Itacoatiara… Niterói.

A história da cidade tem sido marcada, de certa forma, pela construção e destruição de sua história. Foi assim na passagem do Império para a República. E seria mais tarde, quando se afirma, politicamente, como capital do estado, principal porto para o escoamento a produção do Leste e do Norte Fluminense. A construção da ponte Rio-Niterói e a fusão dos estados do Rio de da Guanabara, em 75, empurrou a cidade para uma crise financeira e de identidade, que mexeu com o orgulho do morador.  Foi mais uma vez a janela para o mar que resgatou a importância de Niterói, com a produção de petróleo e os royalties.

O Presidente da Firjan Leste Fluminense, Ricardo Fernando Guadagnin, acredita que a produção de petróleo estabeleceu um novo eixo de desenvolvimento no estado, que passa pelas cidades que atuam no mercado de óleo e gás, como Niterói, Maricá, Saquarema, Cabo Frio e até Campos.  A cidade que já foi local de armação de baleeiras, sede de estaleiros e enfrentou aa decadência da indústria naval, tem a chance de se reinventar.

Mas qual seria a vocação da cidade para os próximos anos, considerando que os recursos do petróleo são decadentes e a contribuição dos royalties para um orçamento milionário de R$ 5,8 bilhões deve começar a declinar ainda nesta década?

A principal atividade de Niterói hoje está no setor de serviços. Comércio e serviços respondem pela maior fatia do emprego e da renda, mais de 90%. A oferta de bares, restaurantes, lojas, escolas, hospitais, clínicas e consultórios médicos, centros culturais e cinemas se multiplica a cada ano. O setor cultural também cresce, numa cidade durante pelo menos dez anos, o único cinema da cidade foi o Plaza Shopping.  O teatro ganhou intensa programação. E tem todos os shows. Além disso, só a presença da UFF, com mais de 65 mil professores e alunos, garante um papel importante para Niterói. Quase uma cidade dentro da cidade. Um centro de conhecimento importante para o desenvolvimento de uma economia criativa.

O Prefeito Axel Grael gostaria que Niterói fosse reconhecida por sua qualidade de vida e pelo investimento na preservação e proteção ambiental. Se empenha há anos na preservação da reserva da Tiririca, na recuperação da lagoa de Piratininga e na criação de uma rede de ciclovias. Mas a proposta de “adensamento urbano”, com a licença para a construção de prédios cada vez mais altos em bairros antes protegidos parece paralisar a cidade num engarrafamento crônico.  O plano de zoneamento e novo gabarito da cidade se tornaram questão de justiça. O trânsito tira o humor do morador da cidade e se torna ainda pior diante da crise das barcas e dos transportes públicos. Cada vez mais, tem sido frequente encontrar pessoas sentadas na calçada esperando ônibus que não chegam.

Mas o grande desafio de Niterói para o futuro é muito parecido com o de todo o Brasil. A redução das desigualdades, que empurram mais da metade da população para empregos precários e para favelas. Nem mesmo com o orçamento privilegiado, Niterói conseguiu resolver problemas como a Educação e a Saúde, e as filas por falta de atendimento.

O aniversário de Niterói não acontece como a cidade esperava, depois da queda do palco montado na praia de Icaraí e de três dias de falta de luz. Não teve Marisa Monte, não teve Barão Vermelho. Não tivemos a chance de rever Dalto e Biafra. O município também não soube promover os debates que o nosso tempo cobra a todas as cidades. Vai ser marcado por um evento fechado para convidados no Theatro Municipal, com discursos e apresentação da Orquestra da Grota e do grupo Azimuth. Mas a população tem o que comemorar. A cidade é melhor do que era antes. Cabe cuidar para resolver tudo que ainda está devendo.

 

 

 

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