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O Museu Antônio Parreiras foi reaberto no Palacete do Ingá, depois de doze anos fechado. Mas ainda há muito a fazer para que funcione plenamente e possa exibir todo seu acervo, que conta com cerca de 6 mil obras, entre telas e objetos.
Segundo a historiadora e museóloga, Fátima Marotta, que dirige a casa, falta ” concluir a restauração do conjunto de prédios e trazer o público de volta.”
Marotta era recém formada quando chegou ao Museu Antônio Parreiras para trabalhar, em 1988. Passados 44 anos e de volta à casa como diretora, ela tem, agora, o desafio de encher a casa, construir um elevador e deixar o ateliê onde trabalhava o pintor que dá nome ao local como era em 1942, quando o museu foi inaugurado.
– Eu tinha terminado a faculdade. Vim, me encantei, e comecei a pesquisar, estudar, cuidar do acervo. O museu, nessa época, estava pleno, funcionando completamente – disse Marotta.
Em seu retorno, em 2022, ela sentiu um “baque” ao ver a casa transformada num canteiro de obras. Em seguida veio a esperança de reviver os bons momentos.
Hoje, já não há cimento e tintas espalhados pelo chão, mas, se tudo der certo, eles retornam em breve. No mês que vem, o governo do estado vai publicar o edital da licitação para contratar a empresa de engenharia que vai tocar a segunda etapa de obra, orçada em R$ 6 milhões. A conclusão do trabalho é esperada para 2028.
– Será outra fase do restauro. O museu não foi reformado (na primeira fase). Ele foi restaurado, por isso demorou tanto tempo. Cada item foi feito detalhadamente: o piso, as paredes… Para tudo teve uma pesquisa. Cada taco foi retirado, lixado, impermeabilizado, tratado e colocado de volta”, disse Marotta, ressaltando que o prédio é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
As minúcias foram tantas que até mesmo a tinta escolhida para as paredes é especial. O produto tem origem mineral, assim como o usado na época da construção da casa, em 1895. O mesmo grau de exigência vai se repetir na continuidade do trabalho.
Até agora, foram restaurados o prédio principal, de 1895, e a Vila Olga, onde está todo acervo que não está exposto. Falta reparar o ateliê, de dois andares, onde estão guardadas as telas maiores, de até 4 metros de altura, instalar um elevador interligando o pátio à parte mais elevada do terreno e refazer o jardim, num trabalho paisagístico.
A principal preocupação de Marotta, hoje, no entanto, é trazer o público de volta. Já no último fim de semana, logo após a reinauguração, as visitas diárias chegaram à marca de 50 pessoas. O espaço foi tomado por famílias em busca de cultura, história e de um refúgio ao calor e à agitação urbana.
“Há uma geração inteira que não conhece o espaço e as obras de Parreiras. Agora, o trabalho é de formiguinha para cativar o público novamente. O público antigo está voltando”, afirmou a diretora.
O primeiro dever de casa será procurar as escolas. O segundo, encher a casa de artistas – músicos, escritores, cineastas…
Assim como acontecia na época em que Parreiras recebia pintores amigos para longos almoços. Outra novidade será a visitação noturna, uma vez por mês, para quem não consegue chegar do trabalho a tempo de encontrar o museu aberto. O atual horário de funcionamento é de 12h às 17h, de quarta-feira a domingo.
Quem chegar até abril, vai encontrar a exposição de 27 quadros originais das ilustrações usadas por Parreiras em seu livro História de um pintor contada por ele mesmo, de 1926. Mas, a partir de maio, a programação vai mudar. As prioridades serão os acervos brasileiro e estrangeiro, formado por trabalhos de outros artistas doados a Parreiras, e também por doações do governo do estado ao museu.
Além do reconhecimento da sua obra, adquirida até mesmo pelo Imperador Dom Pedro II durante uma exposição, o pintor era também um agregador de artistas dedicados à mesma escola de pintura paisagística.
Pela sua casa, passaram, expuseram e deixaram quadros artistas de peso, como o italiano Eliseu Visconti e o alemão Georg Grimm. Foi uma geração de pintores unidos, inicialmente, pelas aulas na Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro, que ganharam autonomia e relevância no cenário artístico do fim do século XIX e início do XX.
Ao todo, há 1.120 trabalhos do próprio Parreiras na casa, incluindo quadros, desenhos e objetos. E mais 4 mil doações. No meio de todo material há, até mesmo, uniformes de soldados da guerra dos Farrapos, usados como modelo pelo artista durante a pintura de imagens históricas.
O Palecete da Tiradentes, como era chamada a residência de Parreiras, no bairro do Ingá, é por si só uma arte. Desenhada pelo arquiteto Ramos de Azevedo, a casa foi paga com o dinheiro da venda de uma série de quadros em uma exposição em São Paulo. O artista começou a vida trabalhando em lojas de sapato, mas logo ganhou notoriedade com a pintura e passou a viver entre Niterói e Paris.
– Há relatos de que, quando ele pegava o bonde, as mulheres se afastavam. A neta dele contava que ele tinha uma voz poderosa, forte. Devia ser uma figura marcante, carismática. Ele usava uns lenços no pescoço, umas coisas bem diferentes para a época. Ele vivia muito em Paris e trouxe toda influência dos artistas franceses. Imagina como foi quando ele chegou com uma francesa (esposa do pintor) na cidade. Deve ter sido um escândalo! – contou Marotta, demonstrando divertir-se com a biografia do pintor ao qual se dedica há décadas.
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