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De Niterói para o mundo, o pianista e compositor Sergio Mendes, consagrado como astro internacional da música brasileira pela sua contribuição na bossa nova, morreu aos 83 anos, nesta sexta-feira (6), em Los Angeles, nos Estados Unidos.
O prefeito de Niterói Axel Grael decretou luto oficial da cidade.
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A causa da morte ainda não foi confirmada, mas familiares do artista afirmam que, desde o fim de 2023, o músico vinha enfrentando doenças decorrentes de problemas respiratórios.
Principal expoente do gênero samba-jazz, Sergio Mendes deu os primeiros passos na carreira ao lado de nomes como Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Baden Powell, a quem conheceu no Beco das Garrafas, principal reduto da bossa nova, em Copacabana, no Rio de Janeiro, durante os anos de 1950 e 1960.
Foi no local, aliás, que ele ouviu pela primeira vez a canção “Mas que nada”, na voz do autor Jorge Ben Jor, até hoje seu maior sucesso, e que impulsionou no exterior o grupo Brasil ’66 — com o LP de estreia “Herb Alpert presents Sergio Mendes & Brazil ’66”.
Sérgio Santos Mendes nasceu em 1941, em Icaraí, e começou a estudar piano ainda criança, em um conservatório, com o objetivo de tornar-se músico clássico.
No entanto, contrariando suas intenções, foi conquistado pelo jazz de Stan Getz e Dizzy Gillespie, e por uma novidade lançada por João Gilberto e Tom Jobim: a bossa nova.
Aos 16 anos, junto com o amigo Tião Neto, contrabaixista, começou a se apresentar na Petit Paris, casa noturna cobiçada pelos artistas de maior sucesso localizada na Praia de Icaraí.
Não demorou muito para cruzar a Baía de Guanabara rumo a Copacabana, no Beco das Garrafas, onde minúsculas casas como o Bottle’s e o Little Club ferviam noite adentro com shows de grupos de samba-jazz.
Em 1961, Sérgio Mendes gravou seu LP de estreia, “Dance moderno”, que trouxe releituras de “Oba-lá-lá” (João Gilberto) e “Tristeza de nós dois” (Durval Ferreira e Maurício Einhorn), entre outras.
No ano seguinte, montou o Sexteto Bossa Rio, com Paulo Moura (sax), Pedro Paulo (pistom), Octávio Bailly (contrabaixo), Dom Um Romão (bateria) e Durval Ferreira (violão). Com esse grupo, apresentou-se no histórico Festival de Bossa Nova, realizado no Carnegie Hall de Nova York.
Quarenta anos depois, em 2006, a música foi regravada pelo grupo americano de hip hop Black Eyed Peas.
Em 1963, o pianista gravou, com arranjos de Tom Jobim, o LP “Você ainda não ouviu nada!”, que saiu no ano seguinte e rapidamente foi consagrado como um clássico da bossa nova instrumental e do samba-jazz. Ao lado do seu Bossa Rio (do qual faziam parte craques como Tião Neto, o baterista Edson Machado e os trombonistas Raul de Souza e Edson Maciel), ele deixou interpretações definitivas para canções como “Garota de Ipanema” (de Tom e Vinicius) e “Nanã (Coisa Nº 5)” (de Moacir Santos e Mário Telles).
Depois de gravar um disco com o saxofonista e expoente do jazz americano Cannonball Adderley (“Cannonball’s Bossa Nova”, de 1962) e de excursionar pela América do Norte, América do Sul e Japão com o Sérgio Mendes Trio (ao lado de Tião Neto e Edson Machado), o pianista sentiu a pressão da ditadura militar e decidiu mudar-se para Los Angeles, onde fundou o grupo Brasil 65, que abriu espaço para brasileiros como os cantores Marcos Valle e Wanda Sá e a violonista Rosinha de Valença.
O sucesso com o grupo seguinte, o Brasil 66 (que tinha duas cantoras americanas, Lani Hall e Karen Philip) fez de Sérgio Mendes uma celebridade, figura assídua nos programas de TV ao lado de artistas como Perry Como, Jerry Lewis, Fred Astaire e Frank Sinatra. Em seus LPs, ao longo dos anos, nunca deixou de gravar brasileiros, como Dorival Caymmi, Edu Lobo, Marcos Valle e Gilberto Gil (de quem produziu, em 1979, o LP em inglês “Nightingale”, voltado para o mercado internacional).
Sérgio Mendes colecionou prêmios: foi vencedor de um Grammy e de dois Grammys Latinos, além de ter sido indicado ao Oscar em 2012 pela canção Real in Rio, composta para o filme de animação “Rio”.
A trajetória do artista é marcada por uma série de sucessos que alcançaram grande notoriedade, incluindo 14 músicas que chegaram ao top 100 das paradas dos Estados Unidos.
Mendes foi tema do documentário “Sérgio Mendes: No Tom da Alegria”, lançado em 2020. A produção explora não apenas a trajetória do artista na música, mas também suas colaborações com outros músicos de renome, seu impacto global e sua relevância cultural.
Com imagens de arquivo raras, depoimentos de grandes nomes da música, como Quincy Jones, John Legend, Carlinhos Brown e Harrison Ford, e entrevistas com o próprio Mendes, o documentário revela momentos cruciais de sua carreira, desde seu início como pianista no Brasil até sua ascensão internacional.
O documentário ainda revela cenas da sua vida enquanto morava em Niterói, os lugares que frequentava, o percurso da barca, lugar que Sergio tinha predileção.
Sergio Mendes vivia há seis décadas em Los Angeles, nos Estados Unidos, ao lado da mulher, a cantora Gracinha, com quem estava casado há mais de 50 anos.
Os dois eram parceiros musicais — ela cantava na banda de Sergio desde o início da década de 1970.
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