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MAC-Niterói estreia primeira exposição com curadoria de Emicida

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Mostra é a primeira do artista visual Marcelino Melo e trata da representação do ser periférico em direção ao lúdico e o afetivo
marcelino expo
Foto: Divulgação

O artista visual Marcelino Melo, também conhecido como “Quebradinha”, ouviu o termo etnogênese pela primeira vez em um espetáculo teatral. A curiosidade foi tanta que serviu de faísca para uma pesquisa, que acabou entrando em profunda simbiose com o trabalho do artista.

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O resultado desse trabalho dá título a sua primeira exposição individual: “Etnogênese – O Que É e O Que Pode Ser”, que entra em cartaz no sábado, dia 7 de setembro, no MAC, em Niterói.

Foto: Divulgação

A mostra reúne 43 obras, entre quadros, vídeos, fotografias e instalações e marca a primeira imersão do rapper Emicida no mundo das Artes Visuais, será dividida entre o prédio principal do museu e o Macquinho, espaço sociocultural localizado no Morro do Palácio.

Emicida foi convidado pelas outras curadoras, Luiza Testa e Patricia Borges, e vem trabalhando com Marcelino no desenvolvimento do conceito e na criação de algumas obras.

Isso porque a mostra tem como propósito o diálogo com a comunidade e a oferta de ações educativas para os moradores.

Performance na abertura

Na abertura será apresentada uma performance inédita comandada por Marcelino Melo, que começará no Macquinho e seguirá depois em direção ao MAC.

Do lado de fora, uma grande instalação irá convidar o público a conhecer o universo das periferias apresentado pelo alagoano de 30 anos, nascido em Carneiros, cidade de apenas 8 mil habitantes no sertão de Alagoas e radicado em São Paulo.

Mas afinal, o que é etnogênese?

O termo antropológico etnogênese é utilizado de diversas formas no universo acadêmico, a mais comum é para se referir a um processo de insurgência de novas identidades étnicas ou de ressurgimento de etnias já reconhecidas, pelo qual um grupo humano começa a ver-se a si próprio ou a ser visto pelos outros como um grupo étnico distinto.

Novas camadas

Marcelino ganhou o apelido de Quebradinha depois de produzir um trabalho que remonta à arquitetura da favela. A partir da adesão do termo ‘etnogênese’, sua pesquisa ganha novas camadas.

– A ideia era chegar na definição visual do que seria a etnogênese, a partir das periferias. As pessoas vão conhecer de perto um trabalho que elas já sabem que existe, no entanto, com uma nova proposta, em direção ao lúdico, ao afetivo, à memória e à territorialidade, não só das favelas, mas do interno, do que nos habita – destacou Marcelino.

O artista Marcelino Melo estreia sua exposição individual neste sábado (7). Foto: Divulgação

Nas obras da nova série, pessoas em favelas usam máscaras em formato de casa e a favela ganha, assim, vida e formato humano, transformando-se num ser que vem do barro, o que o artista vem chamando de “faces”.

– É como se as casinhas fossem o casulo e o casulo abrisse e surgissem esses personagens que vou apresentar agora em diversos formatos. Com a etnogênese, eu trago esse ser, feito de barro, essa representação do ser periférico – revela o artista.

A relação com Emicida

Já Emicida afirma que vem aprendendo com as curadoras, com Marcelino e espera criar um ambiente provocativo para novas reflexões:

– Sinto que meu papel aqui é ajudar em tudo o que for possível para que possamos fazer a experiência da exposição ser linda, provocativa, contemporânea fugindo de qualquer clichê. Marcelino já tem uma arte que conversa com um mundo que está além das galerias e museus, talvez nossa luta aqui seja criar uma bela intersecção entre esses dois mundos, com toda a verdade de ambos, que faça as pessoas saírem da exposição se perguntando se favelas já não deveriam estar nos museus, em todos os sentidos – destacou.

A música também é parte das referências e inspirações de Marcelino para a criação da nova série, pois durante o processo de pesquisa, ele mergulhou de cabeça no universo de artistas como Chico ScienceNação Zumbi e Racionais MCs.

A ideia de confluência de Nego Bispo, a literatura de Carolina Maria de Jesus e uma canção de Leci Brandão, que dá título a uma das obras, também compõem o universo de inspirações do artista.

Conhecido por abordar de maneira muito sutil a questão da violência em suas obras, desta vez, Marcelino apresentará uma obra em que o tema aparece com mais destaque.

– O meu trabalho sempre vai no caminho do singelo, da sutileza mas desta vez, trago uma pistola pendurada em uma das obras, vai na ideia de ‘o que é e o que pode ser’. Ela estará incluída numa instalação que tem diversos objetos e terá uma interpretação ambígua, pois a arma faz parte da construção do imaginário do ser periférico, seja como um agente do Estado, para matar, ameaçar ou, na mão do favelado, quando ela ganha outra conotação: ‘entre o corte da espada e o perfume da rosa’. Eu deixo essa interpretação à escolha do público – acrescentou Marcelino.

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