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Nessa quinta-feira, 31 de outubro, uma data importante, porém pouco falada, é celebrada em Niterói. Nesse mesmo dia, há um ano atrás, uma lei considerava a pesca artesanal do bairro da Boa Viagem como patrimônio cultural e de natureza imaterial.
Para celebrar a data, o MAC promove uma ação inédita “Fotografia Expandida: As Marisqueiras” nesta quinta (31) a partir das 14h, com entrada franca (programação mais abaixo)
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Nascida no Morro do Palácio, Carolina da Conceição Caetano tem 31 anos. Desses, 18 anos foram dedicados ao trabalho com mariscos.
– Eu sempre gostei de trabalhar. Minha família veio do marisco, graças a minha mãe e meu pai, nunca passamos necessidade. O marisco é um trabalho digno como todos, ajudou meus pais a criarem a gente, somos quatro filhos. Marisco é uma coisa que dá renda, sabe? Dá dinheiro. Muita gente não sabe, mas dá dinheiro – contou Carolina.
Ela lembra que as pessoas olhavam torto porque a água do marisco que sai quando tira lata quando ele está cozido, costuma feder muito
– Às vezes, a praia estava lotada. A gente subia, todo mundo ficava olhando. A gente suja de marisco, a roupa toda preta, de carvão, por causa da lata, porque fica muito suja. Tem brigas também, mas tem muitas coisas boas, entendeu? E eu gosto, sempre gostei de trabalhar no marisco, mesmo com as dificuldades do trabalho – completou.
O orgulho de Carolina e sua dedicação à pesca de mariscos não a impede de desenvolver um olhar crítico sobre sua relação com o trabalho
– A gente descascava para os homens. No caso, a gente ganhava R$ 50, R$ 70, e a gente descascava mais de 15 latas de marisco, que é muita coisa, e eles ficavam com a maioria da renda maior, e dava, toma 50, 70. Aí a gente começou a trabalhar para a gente. E foi indo, e graças a Deus agora apareceu vocês pra dar visibilidade pra gente. Tenho que agradecer bastante, muita gente já se foi.
Caren da Conceição Caetano, também moradora do Morro do Palácio, tem 29 anos e dois filhos. Seu maior desejo é que as marisqueiras sejam reconhecidas, porque essa invisibilidade me deixa triste. Seu grande sonho é ter sua própria casa. Já trabalhou em uma loja de comida e tem boas recordações da época da Semana Santa, com seu tio Titio.
– Ah, que a gente não trabalha no marisco. A gente trabalha! A gente trabalha para isso, para se manter, para se vestir, para comer, para cuidar dos nossos filhos, da nossa casa… O fato de a gente ficar com infecção urinária, é da gente prender muito, né? Porque eu prendo muito a urina, quando eu não quero ir lá atrás, porque tem que sair do meu local de trabalho, passar
pelo local de trabalho das pessoas, pra depois eu conseguir ir passar pela Pedra. (…) Fumaça, então, o que prejudica mais a saúde é a fumaça do marisco, da praia, da lenha – conclui.
A exposição no Museu de Arte Contemporânea (MAC) captura com riqueza de detalhes relatos sinceros e a exposição que as mulheres marisqueiras muitas das vezes se colocam. A mostra reúne atrações nos mais variados formatos do audiovisual, entre elas uma exposição fotográfica na fachada do MAC, com 10 fotos das marisqueiras em tecido, em grandes formatos.
Também será lançado o catálogo digital e interativo pelo celular, “Fotografia Expandida: As Marisqueiras” e os documentários dirigidos por Júlia Botafogo e Tais Lobo, “As Marisqueiras de Boa Viagem” (2024, 15min) e “As Marisqueiras de Jurujuba” (2024, 15min), seguida de roda de conversa com as marisqueiras.
O catálogo digital contempla os conhecimentos e memórias das mulheres pesqueiras da região costeira do Rio de Janeiro e provoca reflexões através das fotografias, da arte e da difusão de um artigo científico inédito. A pesquisa foi realizada pela historiadora Tainá Mie e pela educadora popular Marina Freire, pesquisadoras e gestoras de ações socioambientais e culturais, envolvidas na salvaguarda de patrimônio imaterial em parceria com comunidades tradicionais e pesqueiras do Estado do RJ.
A direção de arte do catálogo “Fotografia Expandida: As Marisqueiras” foi conduzida pela artista visual amazonense Uýra Sodoma, seguida de um ensaio fotográfico registrado pelo fotógrafo Josemias Moreira, filho de marisqueiros, nascido no bairro de Boa Viagem.
O trabalho da mostra foi todo idealizado e produzido pela artista e diretora, Júlia Botafogo, que utiliza metodologia de cinema auto referencial, comunitário e de impacto.
Segundo Júlia, o objetivo é dar visibilidade para as marisqueiras como um registro oficial.
– Busco responder às suas demandas por reconhecimento e visibilidade no território em que vivem e trabalham”, reflete Júlia que retrata os cotidianos e convivências das pescadoras, Ana Carolina Anastácia de Morais, Ana Paula de Jesus, Caren da Conceição Caetano, Carol da Conceição Caetano, Cintia de Araujo Teodoro, Cláudia das Neves, Cristina da Conceição, Rayane Jesus Vitória e Salete Feliciano da Silva.
O trabalho é realizado pela Geodésia Produções, Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Lei Paulo Gustavo e com o apoio do MAC.
14h: Exposição fotográfica na fachada do MAC* e Abertura do Auditório
15h: Lançamento do Catálogo Digital: Fotografia Expandida – As Marisqueiras
15h30: Lançamento dos Documentários: “As Marisqueiras de Boa Viagem” (2024, 15min) e “As Marisqueiras de Jurujuba” (2024, 15min), ambos dirigidos por Júlia Botafogo e Taís Lobo
16h: Roda de Conversa com as marisqueiras
17h: Confraternização
18h: Encerramento
Evento lançamento: Fotografia Expandida – As Marisqueiras
Data: Quinta-feira, 31 de outubro
Horário: 14h às 18h
Local: MAC – Museu de Arte Contemporânea de Niterói
Endereço: Mirante da Boa Viagem, s/nº – Boa Viagem – Niterói
Capacidade: 60 lugares (sujeito à lotação)
Gratuito | Livre
(*) O evento ocorrerá mesmo em condições de chuva.
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