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Luiz André Alzer entrevista Araribóia sobre a Covid-19

Por Luiz André Alzer

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Fundador da cidade quer usar máscara e tem saudade do Caneco do Mário
Estátua do Araribóia, no centro de Niterói. Foto: leitor
O jornalista e escritor Luiz André Alzer carrega uma série de feitos em sua carreira. Foi repórter do Globo, editor e diretor do Jornal Extra. É autor de livros como O Almanaque dos anos 80, um grande sucesso editorial, e fundador da editora Máquina de Livros. Alzer é apaixonado por Niterói, e conhece a cidade como poucos. Foi colunista do Globo Niterói. Com toda esta bagagem, nunca poderia imaginar o convite que recebeu do A seguir: Niterói: entrevistar Araribóia. Se surpreendeu, sim, mas não refutou o desafio. E ainda conseguiu um furo de reportagem: Araribóia quer usar máscara contra a Covid-19.
 
Luiz André Alzer: Quem te traiu mais, o coronavírus, Estácio ou Mem de Sá?
 
Araribóia: Sem dúvida alguma, este vírus maldito. Eu perdi mais homens agora do que na batalha contras os franceses, em 1564 . O corona é um inimigo traiçoeiro, que fica na espreita de forma invisível e nos ataca mesmo fora do campo de guerra. Nem os tamoios eram tão perigosos! Um espirro contaminado pode ser mais letal do que a flecha que matou Estácio de Sá, porque pode ser capaz de dizimar minha tribo… ops!.. meu povo.
 
Você já foi multado pela Prefeitura por estar sem máscara?
 
Ao contrário, daqui do alto, em frente às barcas, eu fico vigiando quem chega sem máscara! Sou um guardião da saúde da cidade. E se eu vir alguém que não esteja de máscara, faço meu canto para os pássaros que cuidam de mandar um “recado” bem na cabeça dessas pessoas descuidadas. Mas por falar em máscara, você me deu uma boa ideia: alguém bem que podia subir aqui e botar uma em mim, como fizeram lá no Rio com o Drummond, o Tom Jobim e o Chacrinha. Ei, prefeito, será que alguém da Guarda Municipal não traz uma máscara pra mim, não? Seria bem simbólico pra Niterói, hein?!
 
Com todo mundo confinado em casa, no isolamento social, você tem se sentido solitário sem a multidão habitual a seus pés?
 
Pois é, no início senti muita falta das pessoas que ficam encostadas aqui ou que me usam como ponto de encontro. Elas sumiram nas primeiras semanas da quarentena. Mas nos últimos dias o movimento está voltando a aumentar, por mais que eu cruze os braços e faça cara feia pra todo mundo ficar em casa. Nesses tempos, é melhor a solidão segura do que meu povo morrendo nas ruas.
 
Quem você levaria para a sua oca quando sair da praça?
 
Em primeiro lugar levaria meu amigo Antônio Pedro, médico tão simbólico para Niterói quanto eu sou. E quando essa pandemia enfim acabar, quero promover uma grande pajelança com todos os médicos, enfermeiros e profissionais de saúde daqui da cidade que estão se dedicando a salvar vidas.
 
Do que mais sente saudades em Niterói no meio dessa pandemia e isolamento?
 
É tanta coisa… Sinto falta dos mergulhos no mar de Camboinhas, Itacoatiara, Piratininga e todas as praias que receberam nomes de índios e tribos. Aliás, já reparou que são quase todas? Mas também sinto falta de passar a tarde contemplando o pôr do sol na rampa do Parque da Cidade, de subir a trilha do Costão e de praticar canoa havaiana nas águas da Baía de Guanabara, que conheço tão bem e onde já nadei muito quando as águas eram limpas. E, claro, também sinto falta do bolinho de bacalhau do Caneco Gelado do Mário, aqui pertinho. Afinal, ninguém é de ferro, né?

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