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Laranjas da região fluminense de Tanguá conquistam selo de Indicação Geográfica

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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As laranjas de Tanguá são a 100ª Indicação Geográfica por Denominação de Origem, do país, sendo o único registro do tipo para a fruta
laranja tanguá a seguir
Região tem cerca de 200 sítios com o cultivo da fruta que formam o Circuito da Laranja. Fotos: Divulgação

Os municípios de Tanguá, Itaboraí, Rio Bonito e Araruama, no estado do Rio de Janeiro,  conquistaram o primeiro e único registro, atualmente, de Indicação Geográfica (IG) de laranjas no Brasil. O selo reconhece todo o processo produtivo da fruta, tornando únicas as “Laranjas da Região de Tanguá”. Uma festa está sendo organizada para celebrar a conquista, no próximo dia 25.

A Indicação Geográfica serve para identificar a origem de um produto ou serviço quando certa característica ou qualidade se deve ao local onde é produzido. As laranjas de Tanguá são a 100ª Indicação Geográfica, do país, feita pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). No caso, é uma IG de por Denominação de Origem. De acordo com a secretaria estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a IG viabilizou-se através de estímulos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro (Emater-Rio).

O registro funciona como um selo de qualidade, reconhecendo fatores naturais e humanos exclusivos. Especifica a Denominação de Origem de laranjas da espécie Citrus sinensis, das variedades Seleta, Natal Folha Murcha e Natal Comum. Nessas frutas, uma característica que se destaca é a “doçura intensa perceptível ao paladar e o maior rendimento de sucos”. A secretaria explicou que provoca a peculiaridade das laranjas de Tanguá “o regime de chuvas e o clima da região que enriquecem o solo de fósforo e potássio e influenciam diretamente na composição físico-química dos frutos”.

Para o exame de mérito do INPI, as análises físico-químicas da fruta demonstraram que as principais características das laranjas da região são o maior rendimento de suco, a baixa acidez, o alto “ratio” (relação entre os sólidos solúveis e a acidez), bons valores de sólidos solúveis totais (ºbrix), entre eles os açúcares, cor alaranjada expressiva e alto teor de potássio. Isso decorre essencialmente pela variação de altas e baixas temperaturas em períodos bem definidos, com abundância de água na fase de desenvolvimento dos frutos e deficiência hídrica na fase de maturação.

Esse selo começou a ser pleiteado em 2017, como informou o engenheiro agrônomo e extensionista da Emater-Rio, Licínio Louzada:

– A nossa laranja tem uma cor muito forte, um alaranjado que não é comum, além de um adocicado marcante. A vontade de oficializar o produto era antiga, contando com a parceria de diversas instituições que trabalharam para que os produtores conquistassem a Indicação Geográfica.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) realizou as análises das frutas e identificou os fatores naturais da região, através das entidades vinculadas Embrapa Agroindústria de Alimentos e Embrapa Solos. Louzada afirmou que semanalmente, durante três anos, foram feitas reuniões com os produtores a fim de definir um padrão de qualidade.

A região tem cerca de 50 produtores de laranja. Somente em Tanguá são cerca de 200 sítios com cultivo da fruta, em sua maioria, de agricultura familiar. Juntos, somam um milhão de pés de laranja plantados.

A IG leva em conta o “saber fazer”, passado de geração em geração, como um dos critérios de garantia à denominação de origem. A Emater-Rio, com o conhecimento dos produtores rurais e suas tradições culturais de plantio, atuou para fazer a identificação dos fatores humanos que justificam esse “saber fazer”, além de realizar um diagnóstico criado e aplicado especificamente para mapeamento da citricultura na região.

Dentre os fatores humanos destacados estão o uso de um único tipo de porta enxerto; escolhas preferenciais por áreas de plantio arenosas; baixo uso de máquinas agrícolas e baixa compactação do solo; plantio em covas grandes; plantio direto; uso baixo de agrotóxicos; plantio de culturas consorciadas e maior cobertura de vegetação no solo.

A presidente da Associação dos Citricultores e Produtores Rurais de Tanguá (Acipta), Alessandra Bellas, informou que o produtor interessado em vincular o selo da Indicação Geográfica às suas laranjas deverá procurar a instituição para o credenciamento. O processo será feito pelo Conselho Regulador das Laranjas da Região de Tanguá, órgão da Acipta criado para esta finalidade.

Segundo ela, a expectativa é que o selo ajude a conseguir um aumento de renda para os  produtores de laranja, com um maior reconhecimento e valorização da fruta. Somente no município de Tanguá, foram cerca de mil hectares de laranjais georreferenciadas no processo para obtenção do selo.

A técnica em agropecuária da Emater-Rio, Maria Rosélia da Silva, que acompanhou os trabalhos de mapeamento, comentou que o maior efeito do IG é o de “valorização das cadeias produtivas e da agricultura familiar local”:

– A laranja cultivada aqui é mais limpa que em outros lugares, com menos agrotóxicos, e isso não é tão reconhecido como deveria. Sempre incentivamos o reaproveitamento consciente da matéria orgânica, com caldas alternativas e biofertilizantes para o melhoramento das lavouras. Tudo que a Emater-Rio faz é nesse sentido de facilitar e melhorar o trabalho do produtor porque já é uma vida difícil, então o selo ajuda as famílias a permanecerem no campo e dá visibilidade ao trabalho em conjunto.

Produtores da região brindam com suco de laranja a conquista do selo.

Dentre as instituições envolvidas nesse processo estão a Associação dos Citricultores e Produtores Rurais de Tanguá (Acipta), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Prefeitura Municipal de Tanguá, Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento, através de suas vinculadas, Emater-Rio e Pesagro-Rio, e a Superintendência de Defesa Agropecuária.

– O nosso estado vem fomentando o crescimento e a revitalização da citricultura, que tem se destacado pela sua qualidade. Além disso, a produção movimenta outras atividades econômicas, como o turismo das cidades que formam o Circuito da Laranja, destacou o secretário estadual de Agricultura, Alex Grillo.

O Circuito da Laranja foi criado em 2010. É a principal atividade turística de Tanguá e permite que o visitante conheça um pomar de laranja, realize a colheita, deguste a fruta e também veja algumas propriedades rurais importantes na história do desenvolvimento da cidade. Faz parte da programação também café da manhã rural, visita a uma casa de farinha e a uma cachoeira.

As atividades ocorrem durante o período de safra. Atualmente é possível produzir citros quase o ano todo. O cultivo consorciado com diferentes variedades de laranja já permite a sua colheita de abril a janeiro.

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