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A prefeitura do Rio de Janeiro quer revitalizar uma das ruas mais tradicionais da cidade com cerveja. Atualmente com 50% das suas lojas fechadas, a Rua da Carioca, no Centro, vai passar por uma transformação para virar a Rua da Cerveja. O projeto foi lançado na quarta-feira (20), no Palácio da Cidade, sede da prefeitura do Rio, em Botafogo.
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Dentre as 134 lojas vazias da rua, 37 delas poderão vir a ser ocupadas por fábricas de cerveja. Para tornar o negócio atraente, a Prefeitura do Rio vai dar subsídios para os empresários do segmento investirem na região.
Nesta quinta-feira (21), está previsto o lançamento de dois editais: um para chamamento dos donos dos imóveis que queiram alugar seus espaços e outro para selecionar as cervejarias que estejam interessadas em se instalar no local.
Secretário de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação (SMDEIS), Chicão Bulhões informou que os imóveis, apesar de tombados (como toda a rua) são propriedades particulares e o entendimento se dará entre os proprietários e os cervejeiros, sem intermediação pública.
O que caberá à Prefeitura do Rio é fazer um repasse de R$ 1.000 por m² para reforma e de R$ 75 por m² para despesas mensais, considerando um teto para imóveis de até 200m². Os repasses mensais duram entre 30 e 48 meses. A cidade do Rio é, atualmente, a única capital do Brasil que classifica a produção de cerveja como de baixo risco, para empreendimentos de até 200m2.
Segundo os cálculos da SMDEIS, a Rua da Cerveja deve movimentar R$ 222 milhões em 4 anos e gerar uma massa salarial (soma dos salários) de R$ 41,8 milhões, no mesmo período. A expectativa é que sejam criados 500 novos empregos.
Para participar do edital a cervejaria deverá ter pelo menos dois anos de experiência comprovada da sua atividade. Além de produzir e comercializar a bebida no local, deverá apresentar propostas de ativação do espaço público, funcionar nos finais de semana e exercer a atividade na rua por, pelo menos, 30 meses.
Pelo cronograma estabelecido pela prefeitura, as propostas aceitas serão divulgadas em novembro e a Rua da Cerveja inaugurada em janeiro de 2024.
Dentre os cervejeiros que participaram do lançamento do projeto, batizado “Reviver Rua da Carioca”, a maioria se mostrou interessada em aderir. Duas dúvidas, porém, foram as mais comuns: a quantidade mínima que poderá ser produzida no local e a data prevista para a inauguração – já tida como impossível pelos cervejeiros.
– Nós não vamos estabelecer quantidade de produção mínima e máxima. Nem determinar como devem ocupar os espaços. Cada cervejaria deve apresentar a sua proposta e nós analisamos. Quem quiser ter restaurante ou outra atividade, sem problemas. Desde que a atividade principal seja produção de cerveja – explicou o secretário Chicão Bulhões.
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Dentre as marcas de Niterói, Masterpiece e Noi participaram do lançamento do projeto.
Andre Valle, CEO da Masterpiece, disse que iria estudar o edital, mas afirmou que tem “grande chance de ter Masterpiece e Máfia na Rua da Cerveja”.
Bianca Buzin, diretora da Noi, afirmou ter gostado do que ouviu e também ficou de estudar o edital assim que fosse lançado.
Dono da cervejaria Piedade, no bairro carioca da Piedade, o niteroiense René Saleme também participou do evento e disse que “provavelmente” iria aderir ao projeto.
Apesar de estar em vigor, no Rio, a Lei de Liberdade Econômica (LLE) e o Alvará a Jato, a Prefeitura só aceitará inscrição de cervejarias já registradas junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária. O registro do Mapa, por se tratar de uma burocracia do âmbito federal, a prefeitura não pode “desenrolar”. De acordo com o Anuário da Cerveja 2022, publicação do Ministério da Agricultura e Pecuária, que apresenta os números relativos ao registro de estabelecimentos e produtos junto ao órgão, o Rio de Janeiro tem 120 cervejarias registradas.
Bruno Mansur, sócio-diretor da cervejaria Hocus Pocus, afirmou que após a aprovação da LLE viu surgir cervejarias menores em Botafogo, na Lapa e na Barra, o que ele considerava “impensável” quando foi aberta a fábrica da marca, entre 2017 e 2018, em Três Rios, apesar de o produto ter surgido no Humaitá.
– A multiplicação desse tipo de modelo de negócio é muito positiva para o setor e para a cidade do Rio de Janeiro, para que sejam identificados como um berço dessa revolução cervejeira. A gente inaugurou nosso bar em 2016 e vimos a diferença que faz ter um local onde você consegue transmitir a experiência completa para o consumidor. Isso foi fundamental para a trajetória da Hocus Pocus, para a gente chegar onde a gente está hoje e continuar crescendo – afirmou Mansur.
Marco Guedes, sócio da cervejaria Mohave, considerou “boa” a ideia apresentada pela Prefeitura do Rio e está considerando a possibilidade de voltar a ter um bar. Entre 2018 e 2019, a marca teve um estabelecimento em Botafogo. O espaço, porém, foi vendido para a Overhop que, atualmente, tem um brewpub no local.
– É uma oportunidade de voltarmos em um outro momento, em um outro cenário da cerveja no Rio – afirmou Guedes.
André Guedes, da Backbone, marca que tem um bar no Mercado Municipal de Niterói, foi outro CEO cervejeiro que também gostou do que ouviu:
– Vou estudar o edital, mas a ideia é aderir – afirmou ele.
Na opinião do secretário Chicão Bulhões, a Rua da Cerveja tem condições não apenas de revitalizar um espaço praticamente abandonado, no Centro do Rio, mas de trazer um gás a mais para o turismo da cidade.
– Em vários lugares do mundo e do Brasil, visitar fábricas de cerveja é atração turística. Esse é um setor muito promissor e a Rua da Cerveja pode vir a se conectar com outros polos de turismo cervejeiro pelo país, inclusive Niterói. Estamos abertos à conexões com a cidade – disse ele que afirmou gostar de beber cerveja, mas admitiu que sua bebida preferida é o gin.
Dentre os participantes do evento estavam também o presidente da Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar), Gustavo Guerrante, outros secretários municipais, vereadores e subprefeitos como o da Zona Sul, Flávio Valle, filho de André Valle da Masterpiece.
A história da rua começa no século XVII (1697), segundo o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). Já o nome atual remonta do ano 1848, pois a rua ficava no caminho do Chafariz da Carioca. A decadência do local tem sido atribuída, em grande parte, à pandemia do Coronavírus. Porém, os problemas da rua começaram há cerca de dez anos.
A Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência se considerava dona de vários imóveis e começou a vendê-los para o Opportunity Fundo de Investimento Imobiliário. O negócio, porém, foi travado pelo governo do estado sob a alegação de que os imóveis tinham sido desapropriados, em 1940, pela prefeitura e, desde então, pertenciam ao estado.
Apesar da briga jurídica, os preços dos aluguéis sempre se mantiveram em alta, mesmo quando a rua já estava em baixa. E mesmo quando os estabelecimentos tiveram que fechar durante a pandemia do Coronavírus. Esse quadro resultou no fechamento em definitivo das lojas e o estado atual de abandono da rua, que já foi famosa por concentrar tradicionais lojas de instrumentos musicais, bares e restaurantes.
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