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Jovem de Niterói continua a responder por um crime que não cometeu

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Morador do Morro do Estado e músico da Orquestra da Grota, Danilo Félix foi absolvido em outros dois casos de roubo; Sentença do caso sairá nos próximos dias
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Danilo Félix trabalha atualmente em um centro social de Niterói. Foto: Reprodução

Após ser acusado injustamente de um crime a partir de reconhecimento fotográfico, feito com uma foto sua com a cabeça raspada, Danilo Félix, 26, músico da Orquestra da Grota, participou de uma mais uma audiência de instrução e julgamento no Fórum de Niterói nesta terça-feira (11). Essa é a terceira vez em que o jovem negro é acusado injustamente por um crime. A primeira acusação contra ele foi em agosto de 2020. Enquanto andava em uma rua de Niterói, um carro branco à paisana o parou e, sem mandado, levou o jovem à delegacia, acusado de roubo de uma moto. Ele ficou preso por 55 dias. Ao vê-lo na audiência, a vítima voltou atrás e o inocentou. No entanto, a foto dele continuou no álbum de suspeitos da Polícia.

Na foto usada pela Polícia, Danilo aparece de cabelo curto e bigodes. Porém, desde 2019, ele tem cabelo grande com cachos e tranças. A imagem, extraída de suas redes sociais, foi parar no livro de reconhecimento que fica disponível para vítimas de crime na 76ª Delegacia da Polícia Civil. Ainda não se sabe como a foto foi parar ali já que Danilo nunca teve passagem pela Polícia.

Apenas um mês após a última acusação, ele foi convocado a depor na delegacia e inocentado pela vítima que constatou, presencialmente, que ele também não era o autor do assalto que lhe levou carteira e celular. Foi liberado. Na época, também foi alvo de uma terceira acusação, um roubo de uma mochila e uma aliança. Desta vez, Danilo nem passou pelo reconhecimento presencial no DP: recebeu a intimação ao chegar na comunidade do Morro do Estado, em Niterói. Ele conta que se sentiu constrangido, mesmo consciente de sua inocência.

Na audiência, o casal que foi vítima do assalto relatou que se sentiu pressionado na delegacia para reconhecer os assaltantes a partir de um álbum de fotos — os policiais nem tinham perguntado antes as características físicas dos suspeitos. O casal afirmou que, dois anos depois do assalto, não conseguiria reconhecer os suspeitos no tribunal. Ainda assim, a juíza pediu para tentarem identificar os acusados. Danilo não foi reconhecido como autor do crime. “Até quando vou ter que provar minha inocência”, disse ao deixar o Fórum.

Nesta terça-feira (11), às 12h30, parentes, amigos e representantes de organizações não governamentais fizeram um ato de protesto em sua defesa em frente ao fórum.

A sentença do caso, que poderá inocentar o auxiliar administrativo, só deverá ser dada nos próximos dias. Atualmente Danilo trabalho como auxiliar administrativo de um centro social de Niterói.

Nesta terça-feira (11), às 12h30, parentes, amigos e representantes de organizações não governamentais fizeram um ato de protesto em sua defesa em frente ao fórum.

A sentença do caso, que poderá inocentar o auxiliar administrativo, só deverá ser dada nos próximos dias. Atualmente Danilo trabalho como auxiliar administrativo de um centro social de Niterói.

Relembre o caso

Danilo conversou com o A Seguir: Niterói em novembro de 2021, após ter sido vítima de racismo, sem qualquer prova e sem antecedente criminal. Danilo é ex-funcionário de uma terceirizada da UFF e agora administra, junto com a sua esposa, uma loja virtual de roupas. “Estão julgando a gente pela cor da pele”, desabafou. Quando foi preso em Benfica, Danilo recebeu dois pedaços de pão assim que chegou ao presídio, que nem oferecia colchão. Ao longo de mais de 50 dias, ele dormiu no chão de aço. A comida não era de qualidade, mas era o que tinha.

– Foi um dos dias mais difíceis para mim. Minha mente ficava atribulada, não tinha como não pensar na minha família e na minha esposa. Dormíamos no chão. Eu comecei a adoecer, tive dor de cabeça e dor de garganta. Para dormir, era um revezamento, pois não tinha espaço e muito menos colchão. Fiquei 15 dias em isolamento em outro presídio, Tiago Teles, por conta da pandemia, sendo que havia 20 pessoas dentro da cela. Não era um isolamento, os rapazes vinham com as quentinhas e distribuíam de mão em mão. Não tínhamos máscara e nem álcool gel.

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