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“Jornalistas e defensores do meio ambientem estão em risco”, alerta viúva do jornalista Dom Phillips

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Inglês radicado no Brasil, Dom Phillips foi assassinado na Amazônia e cremado em Niterói
velório dom
Cerimônia realizada no Cemitério Parque da Colina foi reservada a familiares e amigos. Foto: Reprodução de vídeo/Alessandra Sampaio

“Jornalistas e defensores do meio ambientem estão em risco”, no Brasil. Esse alerta foi dado por Alessandra Sampaio, viúva do jornalista inglês Dom Phillips, assassinado na Amazônia. Ela fez um pronunciamento durante o velório do marido, neste domingo (26), no Cemitério Parque da Colina, em Niterói (RJ), onde ele será cremado. A cerimônia, restrita a familiares e amigos, contou com a presença do Cacique Carlos Daitiro, do Povo Tukano, presidente Conselho Direitos Indígenas do Rio de Janeiro.

– Seguiremos atentos a todos os desdobramentos das investigações, exigindo justiça, no significado mais abrangente do termo. Renovamos nossa luta para que nossa dor e da família de Bruno Pereira, não se repitam, como também das famílias de outros jornalistas e defensores do meio ambiente, que seguem em risco, seguem em risco! – declarou Alessandra.

 

Dom Phillips. Foto: Reprodução rede social

Irmã do jornalista, Sian Phillips  também fez um pronunciamento, mas em inglês. Ela contou que Alessandra e Dom planejavam adotar duas crianças brasileiras e lembrou que o irmão era apaixonado pelo futebol, música e paisagens naturais do Brasil.

– Ao lembramos Dom como um amável, divertido e legal irmão mais velho, ficamos tristes que foi negada a ele a chance de compartilhar essas qualidades, como pai, à próxima geração – disse ela.

Sian  afirmou que Dom foi um profissional “que compartilhou um leque diverso de histórias sobre os brasileiros, de ricos e poderosos a moradores de favelas e povos indígenas”:

– Ele foi morto porque tentou dizer ao mundo o que estava acontecendo com a floresta e seus habitantes. Sua missão confrontou os interesses de indivíduos que estão determinados a explorar a Floresta Amazônica sem se preocupar com o impacto destrutivo de suas atividades ilegais – observou.

Vale do Javari

Aos 57 anos, Dom foi assassinado no Vale do Javari, no Amazonas, junto com o indigenista Bruno Pereira. O crime aconteceu dia 5 de junho e os corpos foram encontrados dez dias depois. Eles foram mortos  a tiros, com munição de caça. Três homens foram presos por terem participação no crime. Segundo a Polícia Federal, outros cinco homens que ajudaram a enterrar os corpos de Bruno e Dom na mata foram identificados.

O jornalista e o indigenista estavam fazendo uma expedição pela região, onde Bruno atuava na repressão à pesca ilegal. Naquela área, a atividade sofreria influência do narcotráfico. Bruno foi cremado, na sexta-feira (24), em Recife (PE). Ele tinha 41 anos. No seu velório, um grupo de indígenas da etnia Xucuru, da Serra do Ororubá, em Pesqueira (PE) prestou homenagens entoando cantos ao redor do caixão.

Correspondente internacional, Dom nasceu em Bebington, na Inglaterra e morava no Brasil desde 2007. Ele e a mulher Alessandra Sampaio – cuja família é de Niterói – viviam na Bahia. Por quatro anos, Dom integrou a diretoria da Associação dos Correspondentes de Imprensa Estrangeira no Brasil (ACIE), que existe há 60 anos. Com sede no Rio de Janeiro, atualmente reúne 115 profissionais. Como jornalista, Dom trabalhou para veículos como o The Guardian, Washington Post e New York Times.

O corpo de Dom chegou no Rio de Janeiro na tarde da última quinta-feira, 23, e foi recebido por parentes de Alessandra. Com os restos mortais, a viúva recebeu, em separado, a aliança de casamento usada por Dom.

A íntegra do pronunciamento de Alessandra:

“Quero expressar minha eterna gratidão aos povos indígenas que seguem junto conosco como leais guardiões da vida, da justiça, das nossas florestas. Meu especial respeito e admiração à Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), parceira nesse momento tão difícil. Muito obrigada a todos que participaram das buscas exaustivamente, sejam órgãos oficiais ou pessoas físicas. Agradeço imensamente à imprensa e aos amigos jornalistas que têm sido fundamentais nos esforços de apuração do caso, na cobrança por transparência nas investigações e na mobilização que permitiu que chegássemos todos até aqui. Também agradeço, de coração, a todas as pessoas que se solidarizaram com Dom, com Bruno, com nossas famílias e amigos, aqui no Brasil e em outros países. Esse movimento mundial de solidariedade, justiça e consciência pela conservação da natureza e dos povos que a protegem traz uma imensa esperança a todos nós, eu tenho certeza disso.

Dom será cremado no país que amava, seu lar escolhido, Brasil. O dia de hoje é de luto. Pedimos a compreensão de todos sobre esses últimos momentos com Dom, em uma cerimônia dedicada apenas à família e amigos. Dom era uma pessoa muito especial, não apenas por defender aquilo que acreditava, como profissional, mas também por ter o coração enorme, de um grande amor pela humanidade. Vamos celebrar a doce memória de Dom e sua presença em nossas vidas. Pedimos a gentileza de todos para vivermos um tempo de paz para podermos lidar com o luto e com a perda irreparável do nosso grande amor Dom.

Seguiremos atentos a todos os desdobramentos das investigações, exigindo justiça, no significado mais abrangente do termo. Renovamos nossa luta para que nossa dor e da família de Bruno Pereira, não se repitam, como também das famílias de outros jornalistas e defensores do meio ambiente, que seguem em risco, seguem em risco! Descansem em paz Bruno e Dom”.

Com G1 e Agência Brasil

 

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