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Jardins filtrantes do Parque Piratininga viram “spas” para jacarés em Niterói

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Animais passaram a ser vistos com frequência por moradores no primeiro dos três sistema de jardins filtrantes previstos para o parque
jacaré em piratininga
Jacaré de papo amarelo fotografado no Parque Orla Piratininga Alfredo Sirkis no dia 17 de outubro. Fotos: Conselho Comunitário da Região Oceânica de Niterói

Em funcionamento há menos de um mês, o primeiro sistema de jardins filtrantes do Parque Orla Piratininga Alfredo Sirkis (POP), na Região Oceânica, tem atraído ao local um tipo específico de habitante da região: os jacarés de papo amarelo.

Como observa Gonzalo Pérez Cuevas, do Conselho Comunitário da Região Oceânica de Niterói (CCRON), esses animais sempre viveram naquele local – existe, inclusive, o Rio Jacaré, que desagua na lagoa. A novidade é que, agora, eles estão aparecendo mais, com mais frequência e bem mais próximos das pessoas.

Na página do Facebook da CCRON, Vera Lúcia Pereira postou essa foto que informou ter sido feita por ela, no POP no último dia 17 de outubro.

Seriam os jacarés uma nova atração turística de Piratininga?

– É fácil vê-los e pessoas estão indo para a área do jardim filtrante para isso. Já vi crianças jogando pedrinhas nos jacarés. Fico me perguntando se há risco. Particularmente, não gostaria de tropeçar e cair no tanque ao lado deles. Tem uns maiores, de 2,5m a 3m de comprimento, e outros menores, ou seja, devem ser famílias de jacarés – afirma Cuevas.

Em Piratininga, o Canal Cintura é onde os jacarés costumavam ficar, “na deles”, entre as gigogas, vegetais que se proliferam em águas poluídas por esgoto doméstico. Parte do canal está sendo desmanchado para fazer os canteiros de decantação e os jardins filtrantes do POP. Um novo canal está sendo construído.

Foram justamente os operários da obra do parque os primeiros que registraram a presença dos animais. Eles, porém, não correm riscos, segundo o biólogo Ricardo Freitas, diretor do Instituto Jacaré, que tem sede no Rio de Janeiro.

Ele explica que a “aparição” dos animais representa que essa população, ao perder seu habitat, vai em busca de novos lugares para viver. Segundo ele, os jardins filtrantes significam verdadeiros spas para jacarés.

– Jacarés são animais evoluídos para se passarem despercebidos. Eles não se mostram com facilidade. Quando eles começam a ser mais vistos é porque houve algum avanço urbano sobre seu habitat sem estudo prévio de impacto ambiental. Como eles não gostam de se mostrar, certamente tem muito mais jacarés do que os moradores da região de Piratininga possam imaginar – comenta Freitas que há 20 anos estuda os jacarés de papo amarelo, única espécie existente na região sudeste do país.

Leia mais: Parlamentares do PSOL pedem ao prefeito de Niterói interrupção de obras em Camboinhas

Jacarés fotografados em 18 de setembro, em Piratininga.

 

No caso dos jardins filtrantes, o local não poderia ser mais apropriado para os jacarés. Afinal, é um local quieto, ou seja, eles não se sentem ameaçados; a água é quentinha como eles gostam – o aquecimento é proveniente da poluição que é consequência da degradação de material orgânico; e tem alimentos como peixes e aves.

Deixar esses animais quietos é a principal recomendação dada por Freitas. Isso inclui não tentar mexer com eles, não jogar pedrinhas ou qualquer outro objeto e, principalmente, nunca alimentá-los.

O biólogo informa que se eles começam a receber alimentação, isso cria no animal um condicionamento e pode gerar adensamento deles em determinado local. Esse adensamento pode gerar briga entre eles por disputa de alimento.

Freitas informa que, em condições normais, jacarés de papo amarelo não atacam pessoas por considerar que se tratam de presas muito grandes para eles.

Por serem répteis, têm o corpo frio e buscam o sol para se aquecer e equilibrar sua temperatura. O que eles gostam, mesmo, é de ficar horas ao sol, quietos, sem se mexer – podem ficar parados por até quatro horas.

Freitas observa que jacarés também se deslocam em terra firme. São capazes de andar por quilômetros em busca de alimentos ou abrigo. Geralmente, à noite. De dia, os abrigos serão sempre onde houver sombra e frescor.

– As obras no parque diminuíram o ambiente deles, mudou a paisagem da região e tudo isso influencia a fauna e evidencia a falta de planejamento em prol dos animais locais – comenta.

Capivara

Capivaras fotografadas em setembro, no final da Rua Prof Fernando José de Almeida, em Piratininga.

Depois dos jacarés, capivaras começaram a ser vistas passeando nos arredores do parque, à noite. Até o momento, a área da nova ciclovia tem sido o predileto delas.

– Aqui era uma área rural que está se transformando em urbana, tendo essa transformação se acelerado, nos últimos tempos. Em que medida essa transformação afeta o meio ambiente – questiona Cuevas.

Jardins filtrantes

No último dia 27 de setembro, o prefeito de Niterói, Axel Grael, apresentou o primeiro sistema de jardins filtrantes do POP. Outros dois sistemas estão previstos para serem construídos, totalizando uma área de 35 mil m2.

Leia também: Percorremos o Parque Orla Piratininga; confira o andamento das obras

Os jardins filtram as impurezas das águas pluviais e das três principais bacias hidrográficas que desaguam na Lagoa de Piratininga: Bacia do Rio Cafubá, Bacia do Rio Arrozal e Bacia do Rio Jacaré.

Além dos jardins filtrantes, o Parque terá quatro píeres de contemplação e seis de pesca, 17 áreas de lazer, 3 mirantes e um centro eco cultural, além de 10.6 km de ciclovia que se integrará ao Sistema Cicloviário da Região Oceânica. O custo da obra, segundo a prefeitura é de R$ 100 milhões.

Na Lagoa de Piratininga, o Canal Cintura começa na Fazendinha e vai até a Ilha do Modesto.

Ao avistar qualquer animal, a Coordenadoria Ambiental da Guarda Municipal de Niterói orienta que a corporação seja acionada pelo número 153.

Ilustração POP: da esquerda para a direita, Rio Cafubá, Rio Arrozal e Rio Jacaré. À esquerda do Rio Cafubá, continuação do Canal Cintura.

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