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“Imortal” Marco Lucchesi, morador de Niterói, será o presidente da Biblioteca Nacional

Por Gabriel Mansur
| aseguirniteroi@gmail.com

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Poeta tem intensa relação com a instituição e recusou medalha, no ano passado, para não “referendar Bolsonaro”
Ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, Marco Lucchesi. Foto: Michel Jesus
Marco Lucchesi é ex-presidente da Academia Brasileira de Letras. Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados

O poeta, romancista, tradutor e ex-presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Marco Lucchesi, morador da região oceânica de Niterói, foi escolhido pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ser o novo presidente da Biblioteca Nacional.

Aos 59 anos, o escritor ítalo-brasileiro foi indicado pela ministra da Cultura, Margareth Menezes, e vai substituir o bolsonarista Luiz Carlos Ramiro Junior, exonerado do cargo nesta segunda-feira (2), primeiro dia útil de 2023.

Leia mais: “Filho” de Niterói, Marcelo Freixo vai presidir a Embratur no governo Lula

Lucchesi passava um período sabático na região da Toscana, na Itália, desde 2021, quando deixou a Presidência da ABL, mas vai regressar ao Brasil já nesta quarta-feira (4) para acertar os detalhes sobre sua futura gestão à frente da BN.

Em seu perfil no Twitter, ele agradeceu à nova ministra da Cultura pela oportunidade. O convite para exercer o posto no novo governo, de acordo com ele, se mostrou irrecusável, já que o acadêmico possui uma relação antiga com a instituição.

– Frequento aquela Casa, que amo, desde a adolescência. Respeito seus funcionários. Trabalharemos em conjunto. Obrigado, Ministra!! – escreveu em sua conta no Twitter.

Lucchesi já havia atuado na Biblioteca Nacional como editor da revista “Poesia Sempre”, criada pelo então presidente Affonso Romano de Sant’Anna, em 1991. Também foi curador de diversas exposições, como “Leonardo 500 anos”, que celebrou o aniversário do pintor e artista renascentista Leonardo Da Vinci, em 2019. Além disso, foi coordenador geral de Pesquisa e Editoração, sendo responsável pela edição de catálogos e fac-símiles no período entre 2006 e 2011.

– Tenho uma relação intensa com a Biblioteca Nacional desde a minha juventude. Ainda é cedo para comentar sobre projetos, mas sei que contarei com o apoio da ministra para todos os desafios necessários. O que vai me guiar é aquele quadro do Pieter Bruegel, que está lembrado em Walter Benjamin, buscando luz entre ruínas. É o que todos nós estamos fazendo, cada qual em seu modo, como missão de cidadania e perspectiva republicana – declarou, por telefone, em entrevista à Folha de Pernambuco.

O escritor agradeceu as mensagens de apoio que recebeu via internet e destacou que vai trabalhar por uma literatura mais inclusiva.

– Meu compromisso continua firme com as prisões, comunidades, terras quilombolas e nações indígenas. Com a democracia e a inclusão – completou.

A Biblioteca Nacional foi fundada há mais de 200 anos e é responsável por guardar o patrimônio bibliográfico e documental do Brasil. Sua sede fica no Rio de Janeiro, onde Lucchesi nasceu no ano de 1963.

Perfil imortal

Como presidente da ABL, o “imortal” romancista ficou conhecido por intensificar projetos sociais na Casa de Machado de Assis. Desde 2001, após receber a carta de um detento pedindo livros porque “a literatura é a irmã gêmea da liberdade”, ele mantém visitas regulares a presídios.

Nos últimos anos, liderou projetos de doações de livros para prisões, terras quilombolas, comunidades, aldeias e povos ribeirinhos da Amazônia, participando da elaboração do Plano Nacional de Fomento à Leitura nos Ambientes de Privação de Liberdade.

Em 2022, já fora da presidência da ABL, Lucchesi recusou uma medalha da Ordem do Mérito do Livro concedida pela Biblioteca Nacional pelo fato de a mesma honraria ter sido dada ao deputado federal bolsonarista Daniel Silveira (PTB), condenado por ameaçar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e depois perdoado pelo agora ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

– Se eu aceitasse a medalha seria referendar Bolsonaro, que disse preferir um clube ou estande de tiro a uma biblioteca. Agradeço, mas não posso aceitar – justificou o intelectual, na época, em seu perfil no Twitter.

A atuação de Lucchesi à frente da Academia Brasileira de Letras dá uma ideia das visões do novo presidente da Biblioteca Nacional sobre cultura.

– As academias têm que interpretar o mundo, mas também mudar o mundo – afirmou em seu discurso de posse, em 2011.

Biografia

Lucches graduou-se em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e formou-se como Mestre e Doutor em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e como Pós-Doutor em Filosofia da Renascença pela Universidade de Colônia, na Alemanha.

É professor de Literatura Comparada na UFRJ desde 1989, pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e professor visitante em diversas instituições internacionais.

Foi eleito, em 7 de dezembro de 2017, o presidente mais jovem da Academia Brasileira de Letras (ABL) dos últimos setenta anos.

Seus livros foram traduzidos para o árabe, romeno, italiano, inglês, francês, alemão, espanhol, persa, russo, turco, polonês, hindi, sueco, húngaro, urdu, bangla e latim.

Foi editor das revistas “Poesia Sempre, Tempo Brasileiro” (de 2007 a 2015 – vol. 171 a 203) e “Mosaico Italiano” (de 2005 a 2008 – ed. 21 a 52). Entre 2012 e 2017 foi diretor da fase VIII da Revista Brasileira da ABL, tendo coordenado a publicação dos números 70 a 93.

É membro do conselho da Editora da UFRJ (2016-2020), assim como de várias revistas científicas e literárias no Brasil, na América Latina e na Europa. Tem sido consultor e preparou originais para as editoras, Record, Nova Fronteira, Nova Aguilar, José Olympio, Civilização Brasileira e Bem-Te-Vi. Foi também colunista do Jornal O Globo de 2010 a 2018.

Com Agência Brasil

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