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Na zona sul de Niterói, Icaraí é o bairro mais populoso da cidade. Tem 77.247 moradores, segundo Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o que representa 16% de todos os habitantes de Niterói.
Se fosse um município, seria o 33º mais populoso dentre os 92 do Rio de Janeiro – Niterói ocupa o sétimo lugar nesse ranking populacional do estado.
Na verdade, Icaraí é como se fosse, mesmo, uma cidade.
– Hoje em dia, cada quarteirão parece uma “cidade própria”. Dá para resolver praticamente tudo atravessando uma ou duas ruas – disse Paulo Renato, de 71 anos, que mora no bairro desde a sua adolescência.
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Para ele, ter farmácia, banco e padaria praticamente na esquina de casa é motivo de sobra para não precisar ir a nenhum outro bairro de Niterói. Ainda mais agora que, como observou, algumas padarias mais “chiques” se instalaram em Icaraí, aumentando a oferta diferenciada de produtos.
Não por acaso, entra ano, sai ano, Icaraí se mantém como a campeã do mercado imobiliário com 25% das vendas em Niterói
Dona Elisinha já morou no bairro, durante anos. Atualmente, porém, reside em Charitas. Quando ela quer fazer compras, não pensa duas vezes: chama um uber e desembarca em algum trecho da rua Ator Paulo Gustavo.
Afinal, como ela mesma diz, em Charitas “não tem nada”. Na sua opinião, a principal diferença da Icaraí de ontem para a de hoje é o barulho que, atualmente, está “insuportável” e explica o motivo da sua mudança de endereço.
Um segurança que há cerca de 20 anos, diariamente, acompanha o movimento de um dos trechos mais nobres da própria rua Ator Paulo Gustavo também acha que o bairro está diferente.
Ele tem reparado que o movimento nas lojas não é mais o mesmo que já foi um dia. Inclusive, várias das mais antigas fecharam. Segundo ele, o morador “raiz” de Icaraí vive no bairro há muitos anos.
E uma coisa é certa: “raiz” ou “nutella” o icaraiense tem, literalmente, andado muito irritado pelo bairro. O motivo: as bicicletas, muitas elétricas, que transitam pelas calçadas em velocidade que o segurança considera incompatível “para um bairro que tem tantos idosos”.
Se Niterói é a cidade com maior população de idosos do estado do Rio de Janeiro, como indicou o Censo 2022, em Icaraí 19,3% dos seus moradores tinham 65 anos ou mais, em 2010, quando o IBGE realizou o Censo anterior.
Pelo bairro, é comum ver casais de idosos caminhando de mãos dadas, geralmente, carregando exames em sacolas de clínicas particulares.
No quesito saúde, a “cidade” Icaraí é bem abastecida para os que podem pagar por consultas das mais diversas especialidades em consultórios que funcionam nos diversos shoppings do bairro.
Nada há, porém, em termos de saúde pública – o posto mais próximo fica no Vital Brazil. Mesmo os que podem pagar não terão à disposição nessa “cidade” serviços de saúde de emergência porque não há hospitais por lá – os particulares mais próximos ficam no Centro ou no Jardim Icaraí. Já os pets contam com um hospital particular de emergência.
Na área da educação, Icaraí tem escolas tanto da rede pública (poucas) quanto privada (várias).
A “cidade” Icaraí também é dividida por “bairros”: a beira mar; “Ipanema” e “Copacabana”.
A “Ipanema” de Icaraí se resume a quatro quarteirões da rua Ator Paulo Gustavo, no “miolo” do bairro. É onde se concentram os principais shoppings e lojas mais luxuosas. Aliás, em termos de decoração de Natal, só se encontra, mesmo, dentro dos shoppings. As lojas de rua ou não têm ou estão tão discretas que mal se percebe a menção à data festiva, este ano.
Nesse trecho da “cidade” é onde as calçadas ficam mais congestionadas de pessoas “batendo pernas” pelo bairro, a maioria, com sacolas nas mãos. Na via estreita, carros mal conseguem passar a segunda marcha e andam lentamente, em uma enorme fila indiana.
A rua Gavião Peixoto é outro eixo importante do bairro. Lá é a “Copacabana”, com vários camelôs nas calçadas e um comércio mais popular. Na via, o trânsito é intenso e, na maior parte do dia, congestionado.
A beira mar é o respiro do bairro que tem uma densidade demográfica de 31.758,49 Hab/Km² cujos moradores habitam 39.478 domicílios, sendo 95,41% deles apartamentos.
Ainda assim, a beira mar também tem seus congestionamentos. Logo cedo pela manhã ou no final da tarde, se misturam na calçada estreita corredores, pessoas caminhando, andando de bicicleta ou empurrando carrinhos de bebê.
Conforme o sol vai se pondo, a areia da praia se transforma em uma imensa academia de ginástica, além de múltiplos “ginásios” com jogos de vôlei, futebol, futevôlei, peteca e beach tênis.
No bairro dos idosos por excelência, os bebês e as crianças pequenas têm um sagrado e antigo point na praia repleto de brinquedos.
De frente para uma paisagem de milhões, com direito à vista para o Cristo Redentor e Pão de Açúcar, do outro lado da Baía de Guanabara, os prédios da praia de Icaraí (Avenida Jornalista Alberto Francisco Torres) têm um dos metros quadrados mais caros de Niterói: R$ 10.170, em outubro passado.
Atravessando a rua, o calçadão é ocupado, ao longo da orla, por quiosques que mais se parecem com barracas improvisadas. Não, banheiro nem pensar. Nessas horas, vale atravessar a rua e andar um quarteirão e usar as instalações de um dos shoppings.
Da mesma forma que Niterói tem algumas “cidades-irmãs”, Icaraí também tem a sua. Trata-se da norte-americana Nova York. Afinal, só nesse bairro-cidade tem, em toda Niterói, um Central Park como o falecido humorista Paulo Gustavo costumava chamar o Campo de São Bento.
Lá, os idosos se reúnem para jogos de cartas sob as sombras das árvores e crianças têm vários brinquedos (grátis ou pagos) para se distrair. Também é possível andar de bicicleta, patins, fazer fotos para datas festivas ou picnique.
Nesse Central Park niteroiense é onde Icaraí mais se parece com uma cidade do interior, como sugere o tamanho da sua “população”. Lá, as pessoas que estão apenas de passagem caminham um pouco mais devagar; crianças correm; idosos conversam; jovens correm e namoram; casais mais velhos também namoram. Tem gansos e patos. Tem parque de diversões “vintage” com brinquedos como bate-bate ou carrossel. Algodão doce, sorvete, feirinha de artesanato… tem de tudo no Central Park de Icaraí, que fica, dia e noite, sob vigilância do próprio Paulo Gustavo, imortalizado em uma estátua que se tornou atração turística da cidade.
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