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Era uma vez um grupo de jovens sonhadores. Eram produtores, repórteres e locutores que apostaram em um sonho: criar a primeira estação de rádio, no Brasil, inteiramente dedicada ao rock. No dia 1 de março de 1982, a “Maldita” entrou no ar, tendo como QG um pequeno estúdio, na sede de O Fluminense, ao lado da rodoviária, em Niterói. O resto é história, que será contada nos cinemas de todo o país a partir de quinta-feira (25) com a estreia do filme “Aumenta que é Rock and Roll”.
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O longa, dirigido por Tomás Portella, é baseado no livro autobiográfico “A Onda Maldita”, de Luiz Antonio Mello, interpretado por Johnny Massaro (“Os Primeiros Soldados”, “O Pastor e o Guerrilheiro”). O roteiro de L. G. Bayão acompanha o dia a dia daquele grupo de jovens sonhadores que toparam ir contra a caretice que ditava o padrão das rádios da época e se desdobraram para manter no ar a Fluminense FM – Maldita, que lançou e revelou artistas e bandas que marcaram gerações como Blitz, Paralamas do Sucesso, Titãs, Legião Urbana, Barão Vermelho, entre outros. Dado Villa-Lobos, ex-guitarrista da Legião Urbana, é quem assina a trilha sonora do filme.
E pensar que, até então, a rádio Fluminense tocava sucessos populares e transmitia corrida de cavalos. E pensar que a rádio viria a marcar época com seu time 100% feminino de locutoras e uma irreverência nunca antes experimentada.
– Esse é um filme que traz esperança em um mundo que celebra a distopia. É uma história que marcou a época dentro de um período colorido do Brasil. Fala sobre uma geração, de uma época cheia de esperança, em que achávamos que o mundo podia mudar – afirma a produtora Renata Almeida Magalhães, que filmou em 2018, no Rio de Janeiro e em Niterói.
A época em questão, a década de 80, foi um período em que o Brasil vivia a euforia da redemocratização política depois de mais de duas décadas de regime militar. Era a época do movimento pelas Diretas Já e quando o rock nacional, impulsionado pela própria “Maldita”, invadiu as ruas e as vitrolas dos brasileiros, incendiando os costumes e revolucionando o jeito de se vestir, pensar, dançar e se expressar, principalmente dos jovens de então.
– O Luiz é um cara que tem uma paixão desmedida por aquilo em que acredita, que não se intimida diante dos obstáculos, mas, ao contrário, os usa como trampolim para chegar no seu objetivo. Foi com toda certeza um dos sets mais deliciosos que já participei. O elenco era composto em sua absoluta maioria por amigas e amigos de longa data, uma turma que já compartilhava muitas histórias, além de afinidades pessoais, artísticas e profissionais. E o Tomás é um diretor que entende e dá muito valor ao coletivo, com uma irreverência e vitalidade realmente especiais. Sinto que a principal mensagem, aquela que me tocou desde o princípio, é que não importa o tamanho do desafio, mas sim o desejo – e a ação – de ultrapassá-lo. E que “maldito” é, na grande maioria das vezes, algo que simplesmente – ainda – não foi bem entendido – diz Johnny Massaro.
O elenco principal conta também com Marina Provenzzano, no papel da locutora Alice, com quem Luiz vive um atribulado romance no filme e que nunca existiu na vida real; Flora Diegues (1986-2019), filha da produtora Renata Almeida Magalhães e a quem o filme é dedicado, no papel da produtora Jaqueline; e mais Orã Figueiredo, Silvio Guindane, Joana Castro, Clarice Sauma, Luana Valentim, Mag Pastori, Bella Camero, André Dale, Felipe Haiut, Saulo Arcoverde, João Vitor Silva, Cadu Favero e Charles Fricks, além de participações especiais como Hamilton Vaz Pereira e Gillray Coutinho.
O filme revela, por tabela, os bastidores do que viria a se tornar um dos eventos mais icônicos do país: o Rock in Rio de 1985. Com direito à “participação” do seu idealizador, o empresário Roberto Medina, interpretado por Charles Fricks.
O que nos conta Luiz Antonio Mello:
– O filme não é um documentário. Externo aqui a minha imensurável e eterna gratidão a Sergio Vasconcellos, Amaury Santos, Samuca Wainer (1955-1984, no filme, interpretado por George Sauma) e Alex Mariano, (1953 – 2013). Alex era meu amigo desde a adolescência; Samuca dos tempos do Jornal do Brasil. Serginho e Amaury foram amizades preciosas que a rádio me deu.
Samuca começou o projeto da Fluminense FM, mas foi obrigado a sair poucas semanas depois. Estou falando de meados de 1981. O novo formato da rádio entrou no ar em 1 de março de 1982.
Até lá, Serginho, Amaury, Alex e eu fizemos toda a seleção musical. Amaury selecionou locutoras (mais de 200 candidatas) e treinou uma por uma. Só duas já tinham experiência em rádio: Monika Venerabille e Liliane Yusim.
A Fluminense antiga transmitia corrida de cavalos. De vez em quanto dávamos uma atropelada e botávamos um álbum inteiro pra tocar: Led Zeppelin III, Pink Floyd The Wall, The Who Quadrophenia, ninguém entendia nada.
No meio das músicas entrava um páreo de corrida de cavalos e lembro bem, muito bem, que um dos cavalos que ganhou uma prova se chamava “Meu Salário”. Premonição?
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