COMPARTILHE
No dia 25 de março de 1922, um grupo de trabalhadores, políticos e jornalistas admiradores da Revolução Russa se reuniu em Niterói para fundar um dos mais tradicionais e ativos partidos do Brasil, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Era um momento de muita euforia no cenário político internacional. A Revolução Russa havia acontecido poucos anos antes, em 1917, derrubou o Czarismo no país, e inspirou movimentos populares no mundo todo. Em 1922, a Semana de Arte Moderna de São Paulo abalou as bases tradicionais da sociedade brasileira, e isso se refletia também na política por aqui.
Passados 100 anos daquela reunião de trabalhadores e intelectuais que fundaram o PCdoB (ou Partidão, para os íntimos), nada mais justo que uma grande festa, sediada por Niterói.
O Festival Vermelho terá a presença de políticos, brasileiros e vizinhos latinoamericanos, escritores, músicos e personalidades que acreditam na relevância do Partidão 100 anos depois de sua criação. A presidenta do PCdoB, Luciana Santos, conversou com o A Seguir: Niterói sobre a comemoração, as projeções para o futuro e os desafios que fazem o Partidão continuar relevante no cenário político brasileiro nos dias atuais.
A Seguir: Niterói – Não é todo dia que um partido faz 100 anos, e o PCdoB passou por diversos momentos desafiadores ao longo de sua história para estar aqui. Qual a expectativa para o festival?
LUCIANA SANTOS, PRESIDENTE do PCdoB: Euforia, né? A expectativa é a melhor possível. O Brasil todo animado, a nossa militância, os que torcem, os amigos, os que admiram o partido, estão todos acompanhando com ansiedade pela comemoração. Os que não puderam vir estão acompanhando todo esse esforço de celebrar essa instituição, que fez tão bem ao Brasil, e se entrelaça com os momentos de inflexão na história brasileira. Não há um momento na história do país, nos últimos cem anos, em que o PCdoB não esteja presente.
Muitas pessoas devem desconhecer que Niterói é a cidade onde foi fundado o Partido Comunista do Brasil. Poderia comentar um pouco sobre os motivos que levaram a criação do PCdoB ter acontecido aqui?
-Existia uma nascente classe operária na época, no Brasil. O próprio movimento sindical era emergente. Então, em função da influência da Revolução Russa, em 1917, no mundo todo houve uma coincidência do surgimento dos partidos comunistas. A maioria dos partidos comunistas fizeram aniversários agora em 2017, 2018, 2019…
Voltando… a maioria das pessoas [na fundação do PCdoB] era de base operária, né, sapateiros por exemplo, estivadores, gráficos…. E essa liderança acabou surgindo em Niterói, o Astrojildo Pereira, jornalista, foi fundamental na criação do partido, ao lado desses operários. Por causa da repressão, eles foram fazer o encontro em um lugar mais seguro, Niterói. Acabou sendo reconhecido como o primeiro congresso do partido.
Nas últimas eleições municipais, Niterói optou em peso por um candidato do PDT, apoiado pelo prefeito em exercício, que já foi PT, PV e por fim PDT. Em segundo lugar, ficou Serafini, do Psol, e só em terceiro, apareceu o candidato bolsonarista Allan Lyra do PTC. Mesmo assim, muitos consideram Niterói uma cidade reacionária, e vereadores do PCdoB na região sofrem ataques constantes, seja ameaças, seja agressões verbais ou até físicas. Como o partido vê este cenário?
– É um fenômeno a ser melhor aprofundado. É a mesma coisa com o Rio de Janeiro como um todo, que em 2020 deu uma expressiva votação a Bolsonaro. É um fenômeno que precisa ser melhor aprofundado, comportamental, eleitoral… O Rio de Janeiro tem uma base econômica singular, porque aqui é o berço da Petrobrás, e das empresas estatais mais representativas, comparada com outros centros políticos, mas tem pouca base operária.
Há também um desgaste muito grande na política, tem uma série de governadores com um desgaste muito grande. Na História recente do Rio, há governadores que não conseguem nem terminar os mandatos, né? Uma variável que pode explicar o fenômeno é o fato de que vem com muita força o sentimento antipolítico. Embora ele [Bolsonaro] não tenha nada a ver com antipolitismo, porque foi deputado por quase 28 anos, Bolsonaro conseguiu encarnar isso na figura dele.
Niterói se encontra nesse contexto, mas de qualquer forma, eu penso que o caso de sucesso da gestão do PDT é um sucesso da gestão, da entrega de serviços públicos, e que afirma a boa gestão do Rodrigo Neves, do Grael, que são pessoas com grande capacidade de agregar forças e de realização. No caso deles, são excelentes gestores.
Nas últimas eleições, o PCdoB acabou perdendo em muitas cidades e regiões onde vinha tendo bom resultado nas eleições, terminando com 46 prefeitos eleitos em 2020, contra 86 em 2016. Niterói tem atualmente um prefeito de um partido de esquerda, e temos dois vereadores representantes do Partido Comunista do Brasil, porém a cidade tem muitos conflitos de interesse, por exemplo, com a especulação imobiliária e pressão de empresários, como os do transporte. Como Niterói pode impactar o cenário político nas eleições presidenciais deste ano?
-Acho que é uma cidade que está em um dos principais colégios eleitorais, que é o Rio de Janeiro. Tem um peso político decisivo na repercussão. E acho que Niterói terá um papel importante, um grande contraponto no projeto bolsonarista. Eu sou otimista, eu acho que nós temos grandes condições de fazer frente a isso, com lideranças políticas que se afirmam pelo êxito administrativos e de entregar projetos.
O PCdoB tem dois vereadores em Niterói, um em SG e três em Maricá. Vejo muito diálogo entre os vereadores, especialmente o Romário Régis em São Gonçalo com a Walkíria em Niterói. Como essa representação nas três cidades têm impactado na vida das populações destas cidades? Que projetos de lei foram aprovados desde as últimas eleições que o PCdoB considera que já fizeram diferença na vida das pessoas, e que provam a relevância do partido depois de 100 anos de sua fundação?
-Walkíria conheci recentemente, e fiquei muito impressionada com a capacidade política dela. Uma mulher negra que tem já uma trajetória de militância em movimento social bem relevante, e é bem preparada politicamente. O Leonardo [Giordano], conheço há mais tempo, que veio do PT, que agora é Secretário [das Culturas] do Prefeito Grael, eu considero que são quadros políticos que ajudam a formar essas lideranças emergentes na cena da política no Rio de Janeiro. Eu admiro muito os representantes do partido aqui no Rio de Janeiro e que remetem a uma renovação no partido, que oxigena o partido e demonstra que o partido está vivo e contemporâneo.
Como o PCdoB tem trabalhado para incentivar candidaturas femininas e de pessoas não brancas, e que peso pode ter a participação dessas minorias na formulação de novas leis nestas três cidades, por exemplo?
-Eu falo isso com muita tranquilidade, a bancada federal do nosso partido é metade formada por mulheres. No Rio de Janeiro, já tivemos presidente do Partido, estadual em SP, no AM, em RS, ou seja, nós somos um partido onde as mulheres de fato têm comando. Tivemos uma vice candidata à presidência que foi a Manuela D’ávila. Então, pra nós, isso faz parte da nossa política. Não é só narrativa nossa. Nós, de fato, somos um partido que reflete muito na nação brasileira. Nós temos uma política muito assertiva.
Isso não é uma luta fácil, é muito desigual, somos minoria esmagadora no senado brasileiro. Apesar de as mulheres serem mais de 50% da população, e pardos e pretos também, nós não temos isso refletido no congresso, então, nós precisamos de políticas afirmativas e de uma reforma eleitoral. A maioria dos países que conseguiram paridade entre homens e mulheres, por exemplo, fizeram reformas. Hoje nós temos 30% do tempo de TV, outros por cento de tempo de fala… Isso é importante no aumento da participação feminina. O financiamento de campanhas de candidatos pretos e pardos, também faz parte desse esforço por políticas afirmativas.
Quais os desafios do PCdoB atualmente, e como o partido pretende se manter relevante para os próximos 100 anos?
Primeiro desafio é derrotar Bolsonaro, e pra isso nós precisamos ter frente ampla. A tática que nós estamos defendendo ao longo desse tempo. Acho que hoje, mais do que nunca, o entendimento dessa necessidade ganhou adeptos. Basta ver a mudança de partido por parte do Alckmin, que reflete essa necessidade. Para derrotar um governo com feições fascistas é preciso unir essa força.
Claro que nós temos divergências na agenda econômica, mas podemos ter convergência em agendas importantes. Nesse fim de semana, vamos apresentar diretrizes que consideramos muito importantes nesse momento no Brasil. Precisamos enfrentar esse dramático quadro social de fome, de miséria, de desemprego.
Temos que alterar a política macroeconômica e resgatar a agenda de políticas públicas, que foi abandonada. Por exemplo, o fim da política de teto de gastos, o fim do parâmetro para enfrentamento da inflação como o aumento de juros – precisamos combater a inflação com outro tipo de política. Por exemplo, alterar imediatamente a política de preço dos combustíveis, que é hoje um grande fator inflacionário. Dar total atenção à agricultura familiar, que ajuda a diminuir o preço dos alimentos… enfim, um conjunto de enfrentamentos que precisam ser feitos.
Programação
O Festival Vermelho acontecerá nesta sexta e sábado, 25 e 26 de março, com abertura dos portões às 15h de sexta. Será sediado no Teatro Popular Oscar Niemeyer, outra pessoa influente nos rumos políticos do Brasil e que também era filiado ao PCdoB. Assim, o PCdoB volta para casa para comemorar os 100 anos de sua existência.
O Teatro Popular Oscar Niemeyer fica na Rua Jornalista José Coelho Neto, no Centro de Niterói. Confira a programação:
Programação Festival Vermelho
25 e 26 de março de 2022
Caminho Niemeyer – Niterói -RJ
25 de março de 2022
15h – Abertura dos portões do Festival Vermelho.
Local: Caminho Niemeyer.
17h – Abertura da exposição multimídia do Centenário do PCdoB.
Tema: Caminhos do Centenário.
Local: Cúpula do Caminho Niemeyer.
17h às 21h – Espaço Criança.
Atividades lúdicas e recreativas para crianças a partir de 02 anos, com performances e atividades interativas.Com Circo Teatro Saltimbanco, recreadores e artistas circenses.
Local: Tenda Espaço Criança.
17h às 21h – Arena Brasil
Afoxé Filhos de Gandhi (RJ), Coral Guarani da Aldeia Mata Verde Bonita de Maricá, Trio de forró Rapacuia, Cecília Beraba canta Jorge Mautner, Sinfônica Ambulante.
DJ: Jef Rodriguez e convidados.
Local: Palco Mel Gomes – Arena Brasil (Foyer inferior).
18h às 20h – Seminário de Comunicação (com transmissão pelo youtube).
Tema: Florescer a Esperança: Desafios da Comunicação em tempos de ódio e desinformação.
Mediador: Renata Mielli (Secretária Nacional de Comunicação do PCdoB).
Participantes: Sérgio Amadeu (professor da Universidade Federal do ABC-UFABC), Orlando Silva (deputado federal PCdoB-SP), Manuela D’Ávila (ex-deputada federal PCdoB-RS), Leandro Demori (The Intercept) e Suzy dos Santos (diretora da Escola de comunicação da UFRJ).
Local: Teatro Popular Oscar Niemeyer.
17 às 18h – Lançamento de livros.
Local – Arena Manifesto – Auditório Caminho Niemeyer
18h às 21h – Sessão de cinema.
Filme: Araguaya – A Conspiração do Silêncio.
Local: Arena Manifesto – Auditório Caminho Niemeyer.
19h às 21h – Lançamento de livros.
Local: Foyer Superior Teatro Popular Oscar Niemeyer.
21h às 02h – Palco Praça do Povo
Convidado: Zélia Duncan, B Negão, Francisco El Hombre e Mart’nália.
DJ: Saddam.
VJ: Chico Abreu.
Local: Praça do Povo – Caminho Niemeyer
26 de março de 2022
10h às 13h30h – Espaço Criança.
Atividades: Atividades lúdicas e recreativas para crianças a partir de 02 anos, com performances circenses e atividades interativas. Com Circo Teatro Saltimbanco e Grupo Gato Mia.
Local: Tenda Espaço Criança.
10h às 13h – Arena Brasil
Grande Roda de Mestres e Mestras de Capoeira.
DJ: Will , participação Gaboard, Mari Torquato e Xamec
Local: Palco Mel Gomes – Arena Brasil (Foyer inferior).
10h às 13h – Painel Internacional (com transmissão pelo youtube).
Tema: Um século de luta por um mundo solidário e socialista.
Mediadora: Ana Maria Prestes (secretária de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil-PCdoB).
Participantes internacionais: Celso Amorim (ex-ministro das relações Exteriores do Brasil), José Luís Centella (Partido Comunista da Espanha-PCEspanha), José Angel Maury (Partido Comunista de Cuba-PCCuba), Karol Cariola (Partido Comunista do Chile-PCChile), Citlalli Hernández (Morena México), Pedro Guerreiro (responsável pela Seção Internacional do Partido Comunista Português-PCP), representante do consulado da China no Rio de Janeiro.
Local: Teatro Popular Oscar Niemeyer.
13h às 14h – Lançamento de livros.
Local: Foyer Superior Teatro Popular Oscar Niemeyer.
13h às 15h – Arena Brasil
Roda de Rima com MCs e Durango Kid.
DJ: Will , participação Gaboard, Mari Torquato e Xamec
Local: Palco Mel Gomes – Arena Brasil (Foyer inferior).
13h30 às 17h – Espaço Criança.
Atividades: Atividades lúdicas e recreativas para crianças a partir de 02 anos, com performances circenses e atividades interativas.Contação de histórias. Oficina de Slime.
Confecção de caderninhos. Oficina de Filtro dos Sonhos. Brincadeiras: amarelinha, circuito, galinha e seus pintinhos, corre cotia. Com Circo Teatro Saltimbanco e Grupo Gato Mia.
Local: Tenda Espaço Criança.
14h às 15h – Lançamento de livros.
Livro: Solo para Vialejo.
Autora: Cida Pedrosa (poeta, advogada e vereadora do PCdoB Recife).
Livro: Nara Leão: Nara – 1964.
Autor: Hugo Sukman (jornalista, escritor, crítico de música carioca e curador).
Local: Foyer Superior Teatro Popular Oscar Niemeyer.
15h às 18h – Ato político dos 100 anos do PCdoB (com transmissão pelo youtube).
Tema: Frente Ampla para Florescer a Esperança.
Presenças confirmadas: Luiz Inácio Lula da Silva, grandes lideranças políticas nacionais,
intelectuais, artistas e dirigentes do PCdoB.
Local: Teatro Popular Oscar Niemeyer.
18h às 21h – Arena Brasil
Jongo da Serrinha, Choro na Rua e Roda de Partideiros.
DJ: Will e convidados.
Local: Palco Mel Gomes – Arena Brasil (Foyer inferior).
19h às 21h – Lançamento de livros.
Local: Arena Manifesto – Auditório Caminho Niemeyer.
19h às 21h – Sessão de cinema Sérgio Rubens.
Filme: Tigre Branco.
Diretora – Karen Shakhnazarov (2012), com Aleksey Vertkov, Valeriy Grishko, Vitalyi Kiscenko,
Karl Krantzkowski, Rússia, 104 min.
Local: Teatro Popular Oscar Niemeyer.
21h às 2h – Palco Praça do Povo
Mulheres na Roda de Samba, Candongueiro + Moyseis Marques, Moacyr Luz e Samba do Trabalhador e Leci Brandão.
DJ: Marcelinho da Lua.
Local: Praça do Povo – Caminho Niemeyer
COMPARTILHE