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Exposição de Maysa Britto chega em Niterói e resgata memória e resistência feminina no Brasil Colônia

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Mostra investiga a trajetória Fortunata Maria da Conceição e denuncia a opressão vivida pelas mulheres no Recolhimento de Santa Teresa no início do século XIX
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Seda desfiada e agulhas, em gestos repetitivos, carregam o simbolismo de quem foi silenciado. Foto: Divulgação

Em meio a uma narrativa que entrelaça memória e resistência, a artista e psicóloga Maysa Britto estreia a exposição “A Roda da Fortunata”, que surge como fruto da investigação histórica e poética da artista sobre a trajetória de Fortunata e as condições de opressão enfrentadas por mulheres no Brasil Colônia. Fortunata Maria da Conceição habitou o Recolhimento de Santa Teresa, atual Museu de Arqueologia de Itaipu, no início do século XIX.

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A mostra entra em cartaz no próximo sábado (17), a partir das 17h, no Espaço Atanã, em Itaipu.

Neste trabalho resgatei esta história apagada da Fortunata e outras mulheres do Recolhimento de Santa Teresa, usando a arte para questionar estruturas de poder que ainda hoje oprimem as mulheres. Através de símbolos como o tear e a Roda da Fortuna, misturo delicadeza e dor para mostrar a resistência feminina, conectando passado e presente e reescrevendo a história a partir das margens explicou a artista.

A artista e psicóloga Maysa Britto vive e trabalha em Niterói. Foto: Acervo pessoal

Em entrevista ao A Seguir, Britto revela a história de Fortunata, que conseguiu fugir do local. Ao caminhar pelas ruínas do Recolhimento, a artista propõe um olhar crítico e sensível para a história, dando visibilidade às vozes silenciadas e novas configurações para os debates de gênero e a luta de mulheres. Qual terá sido a fortuna de Fortunata? Quais teriam sido as suas estratégias para fugir dali?

A visita às ruínas do Recolhimento e a falta de registros sobre as mulheres que viveram lá me inspiraram a criar obras que materializam memória e ausência. Trabalhei com materiais como seda desfiada e agulhas, em gestos repetitivos que remetem ao fiar do destino, enfrentando o desafio de falar por quem foi silenciado. O resultado é uma exposição que procura transformar dor em poesia e convida o público a escutar essas vozes esquecidas acrescentou.

A montagem, apresentada no Museu de Arqueologia em 2016, ganhou um desdobramento inédito para o espaço Atanã. A artista irá apresentar novas obras da série “O Tear das Moiras”, redes tecidas em seda desfiada e agulhas, que fazem alusão às deusas gregas que fiavam o fio da vida, símbolo da Roda da Fortuna.

A expressão “Roda da Fortuna” é pautada na mobilidade das coisas, nos ciclos sucessivos, na natureza e na vida humana. O título da exposição foi retirado da obra em áudio que aborda o cotidiano de Fortunata no Recolhimento, mas também faz referência ao Arcano X do Tarô.

Parte do acervo que poderá ser visto na exposição “A Roda da Fortunata”. Foto: Divulgação

Sobre o Recolhimento de Santa Teresa

Fundado em 1764 por padres da Igreja de São Sebastião de Itaipu, o Recolhimento de Santa Teresa é um marco pouco documentado. As raríssimas informações disponíveis retratam o abandono e a miséria das mulheres que ali viviam.

O local era utilizado para abrigar órfãs, mulheres que haviam engravidado ou mantido romances antes do matrimônio, viúvas, trabalhadoras do sexo, ou mesmo aquelas que eram ali instaladas por seus pais ou maridos quando esses saíam em viagem.

Cercado pelo mar e pela Mata Atlântica, o Recolhimento parece ter sido um lugar de confinamento de mulheres consideradas marginais. Esse contexto ressoa com uma política pública histórica de exclusão feminina, evidenciando a visão das mulheres como cidadãs de segunda classe.

Sobre a artista

Maysa vive e trabalha em Niterói. É artista e psicóloga. Iniciou sua trajetória artística na pintura. Atualmente, pesquisa o cotidiano e os vínculos das pessoas com o lugar onde moram, buscando toda sorte de influências culturais, contextuais e pessoais, como uma antropóloga em campo.

Produz instalações e objetos repletos de ideias sobre a memória e o tempo. Participou de exposições no Rio de Janeiro, São Paulo e Niterói.

Serviço:

A Roda da Fortunata, de Maysa Britto

Data: A partir de 17 de maio

Visitação até 19 de julho, de terça a sexta das 15h às 18h

Local: Atanã Niterói

Endereço: Estrada Francisco da Cruz Nunes 3095, sala 106 (no Shopping Piazza), Itaipu, Niterói.

Para visitas em dias e horários alternativos, enviar mensagem direta pelo Instagram @atana.arte

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