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Expedição de canoa que saiu da Bahia chega a Niterói depois de 22 dias e muita aventura dentro d’água

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Expedição Anamauê percorreu 120 km e se tornou a maior do Brasil
Atletas da expedição Anamauê, no último trecho do percurso, de Arraial do Cabo até Niterói / Foto: Divulgação
Atletas da expedição Anamauê, no último trecho do percurso, de Arraial do Cabo até Niterói / Foto: Divulgação
Foram 22 dias, 1.060km navegados e remados, e muitas aventuras. A Expedição Anamauê chegou ao fim na tarde desta sexta-feira no CEM, Centro de Estudos do Mar, quando os seis remadores e velejadores tocaram a praia de Jurujuba, em Niterói, no que foi a maior expedição de canoa havaiana do Brasil, iniciada ainda no ano passado, em Arraial d’Ajuda (Ba).
 
Douglas Moura, morador de Niterói, falou sobre a experiência: “”Depois de 22 dias concluímos nosso grande objetivo de vida. Foi um ano de planejamento e 22 dias de execução e só foi possível graças à equipe. Como um dos líderes e capitão tive momentos muito duros. Todos os dias que íamos para o mar precisava pensar que existiam cinco vidas comigo e não podia errar nas escolhas. Já vivíamos no risco numa canoa e barco adaptado com vela e tínhamos que ter a sagacidade de não colocar a tripulação em risco. Em alguns dias não pudemos sair para não colocar a tripulação em risco diante de condições inadequadas”.
O niteroiense Douglas Moura foi quem liderou a equipe no desafio da Bahia até a Praia de Jurujuba. Foto: Divulgação
Os velejadores/remadores do Rio de Janeiro e do Espírito Santo saíram no dia 24 de dezembro, na véspera de Natal, de Arraial d´Ajuda, no sul da Bahia, e navegaram ao todo em 14 deles, ficando parados nos demais por condições ruins de tempo e do mar.
Foi a primeira tripulação a superar os 1.000 km em uma canoa havaiana no Brasil, primeira tripulação a cruzar o Cabo de São Thomé, na região de Campos (RJ), de canoa havaiana, primeira tripulação brasileira a fazer o trajeto direto de Arraial do Cabo até Niterói sem apoio.
Daniel Gnone, mais jovem tripulante, da capital do Rio de Janeiro, comentou sobre o último dia de expedição: “No último dia navegamos na escuridão, com água muito gelada, uma navegação que exigiu muito da tripulação, estar atenta aos sinais, barulhos de outras possíveis embarcações, ondulações que fica difícil de ver à noite. Muito frio. O dia nasceu com muitas nuvens, só foi esquentar pelas 8 da manhã, momento mais frio da viagem. Navegação bem dura. Por volta de meio-dia muito quente e ficamos parte navegando à vela, parte à remo, vento entrava e saía e mantivemos a constância para não deixar a canoa parada. Quando o vento abaixava íamos para o remo mantendo a média de 9, 10km/h, não fosse isso não teríamos conseguido chegar no horário “, disse.
A equipe, em Jurujuba

A chegada foi emocionante, conta Douglas: “Quando chegamos foi maravilhoso. Passamos por locais remotos, sem possibilidades de desembarque, o que nos fez ter pernas extremamente duras e um planejamento muito preciso. Caso da última parte. saindo de Arraial do Cabo às 2 da manhã para conseguir o objetivo de navegar por 120km para chegar em casa. Pelo caminho visuais lindos, incríveis e uma grande ajuda das pessoas. O que vemos na mídia do momento são somente coisas ruins diante do momento que vivemos, mas o que pudemos constatar é que se chegamos com muita humildade e vontade as pessoas ajudam, as pessoas são boas. Não ficamos desemparados em nenhum momento.”

Barbara Guimarães, de Vitória (ES), comemorou ser a primeira mulher a fazer esse tipo de travessia: “Uma das coisas que mais gosto de fazer é me desafiar, saber o limite em que posso chegar. A travessia me mostrou a força e resiliência que eu tenho. Mesmo com todos desafios e incertezas durante o velejo e remo, tudo foi leve e muito prazeroso, com pessoas que com certeza são mais amigos agora do que quando começou a expedição. Estou muito feliz por ser a primeira mulher a fazer uma expedição dessa magnitude no Brasil, pela importância dessa representatividade e mostrar do que somos capazes.”
– Pra mim um dos momentos mais tensos foi a saída de Grussaí, quando a canoa alagou e eu tinha certeza que ela ia quebrar quando tirasse da água. Mas felizmente a canoa saiu ilesa e conseguimos cortar a ondulação e completar essa pernada que foi a mais longa. Chegamos de noite, com várias dores musculares mas tivemos vários presentes durante o trajeto, como várias aves e golfinhos passando perto da canoa, passamos tranquilamente pelo Cabo de São Thomé, que era um dos locais mais temidos, o pôr do sol do mar foi incrível, de noite vimos estrelas cadentes e algas bioluminescente. Em resumo. Mesmo com alguns perrengues, o céu e o mar sempre nos dava algum presente”-, finalizou.
Tavo Calfat, comentou: “Apesar de ter feito várias travessias à vela, essa foi uma expedição diferente, muito perto da costa, muito perto da água, a canoa é muito baixa e sempre ficamos navegando pertinho da água, com conforto limitado”, disse: “A interação com todos os tripulantes é muito próxima, mais que num barco à vela, então isso tudo dá uma sensação de integração com a natureza muito grande, sensação de felicidade e bem-estar quando a canoa está andando. Conexão com a natureza. Fomos ao longo do tempo entendendo as limitações da canoa para fazer tudo na maior segurança. Fora isso, diariamente tínhamos as missões de embarque e desembarque e acharmos lugares para dormir . É incrível o que a canoa traz, ela traz amigos . Conhecemos pessoas incríveis pelo caminho que nos ajudaram e nos deixaram sem palavras . As pessoas se identificam com a gente, com nosso objetivo , com nosso propósito e sempre acabam ajudando e isso só aumentou a vontade e alegria de passar por tudo isso e atingir o objetivo”, finalizou.
A tripulação:
Douglas Moura, natural de Niterói (RJ), mora em Jurujuba, tem 39 anos, fundador do Icarahy Canoa Clube, Niihau Aventuras Controladas e do Centro de Estudos do Mar. Capitão Amador, co-fundador do Anamauê e desbravador de diversas rotas de navegação de canoa havaiana e polinésia. Ele é atleta de Canoa Havaiana desde 2005. Em competição disputou provas como a Rio VA`A, Santo Amaro, Vendee VA`A (maior da europa e 2ª maior do mundo, na França), Vancouver Island Challenge (Canadá); Lotus VA`A Challenge.
Francisco Viniegra, do Rio de Janeiro (RJ), rema há 15 anos, foi integrante da 1ª tripulação Anamauê, focado em travessias de longas distâncias e atleta de Canoa Havaiana Guido Serafini, de Niterói (RJ), rema há seis meses, é bombeiro (guarda-vidas) , chega para somar no último trecho com a experiência de mar.
Tavo Calfat, natural de Niterói (RJ), 47 anos, desenhista industrial, velejador desde os sete anos e remador de canoa desde os 2007. Passou boa parte da vida em barcos à vela, já realizou travessias oceânicas e inúmeras travessias menores. Na canoa tem títulos na Volta de Ilhabela (SP) e Rei de Búzios (RJ) onde mora hoje em dia. Daniel Gomez Gnone, 25 anos, natural do Rio de Janeiro. Engenheiro de Produção. Fundador do Granolas Mauka e remador do Calango Wa´A. Amante da natureza e do Va´A, tendo sido criado em contato com o mar, desenvolve projetos de reciclagem de plástico para a produção de peças para navegação.
Barbara Guimarães, de 29 anos, nasceu em Sto. André (SP), se radicou e, Vitória (ES), é oceanógrafa, instrutora e atleta de Va´A, do clube CPP Extreme . Apaixonada por canoa havaiana e com experiência de longas travessias.
A expedição contou também com o casal Ranin Thomé e Dayana Gualberto, de Regência (ES). Eles precisaram deixar a tripulação no norte do estado do Rio de Janeiro por questões particulares.
Sobre a Canoa Havaiana
Canoa Havaiana ou Polinésia, são nomes para determinar o esporte que surgiu na região polinésia e que originalmente é conhecido como Va´A, Wa´A ou Waka. A cultura da canoa existe há mais de 3 mil anos e elas foram inicialmente usadas pelos povos polinésios com a necessidade de colonizar novas terras na região polinésia, conjunto de ilhas do Pacífico que incluem Tahiti, Havaí.
No Brasil a cultura da prática do esporte da canoa havaiana ou polinésia só aumenta no decorrer dos anos para travessias, expedições e competições com destaques para clubes de canoas no litoral do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo. Somente em Niterói, são 33 clubes de canoa com cerca de dois mil remadores.

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