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Estudantes do Liceu Nilo Peçanha denunciam caso de racismo nos Jogos Escolares de Niterói 

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Caso aconteceu durante uma partida de futebol feminino entre o Liceu e colégio Objetivo Camboinhas, domingo (24), em Icaraí
jogos escolares novembro 24
Momento da confusão que interrompeu a partida e serviu de estopim para o ato racista. Foto: reprodução

Uma aluna do Liceu Nilo Peçanha foi chamada, por duas vezes, de “macaca” pela responsável por uma aluna do colégio Objetivo Camboinhas. A denúncia foi feita pela Torcida Jovem Liceu, nas suas redes sociais.

Leia mais: Brasil disputa vaga no Mundial de Handebol Feminino, em Niterói

No último fim de semana, nos dias 23 e 24, foi realizado, em Icaraí, o Festival de Praia 2024, parte dos Jogos Escolares de Niterói. Em uma partida de futebol disputada no domingo (24)  entre atletas da escola da rede pública municipal, que fica no Centro, e da escola particular, que fica na Região Oceânica, aconteceu um desentendimento, que foi o estopim do ato racista. 

Durante a discussão, a responsável de alguma aluna do Objetivo chamou nossa aluna Yasmin Helena Alves de “MAC*CA”, proferindo esta ofensa por 2 vezes, dizendo que “MACA*C*” não devia estar jogando bola. O que gerou comoção de todos os nossos alunos que foram assistir, professores e atletas, acarretando na paralisação do evento até que tudo estivesse minimamente “resolvido””, informou a postagem que citou a Lei 14.532/2023, publicada em janeiro de 2023, que equipara a injúria racial ao crime de racismo.

Em resposta à publicação da Torcida Jovem Liceu, a organização dos Jogos Escolares de Niterói afirmou estar acompanhando os fatos e que não compactua “com qualquer atitude racista”:

“Prometemos trabalhar ainda mais para que situações como essa não aconteçam nunca mais O JEN é dos alunos, é plural e tem uma energia surreal. Vamos juntos vencer isso”.

Em nota, a secretaria municipal de Esporte e Lazer afirmou repudiar “com veemência qualquer atitude preconceituosa”. Informou que o caso seria acompanhado “a fim de obter esclarecimentos e tomar as devidas atitudes”. Diz trecho da nota:

“Por hora, nos manteremos atentos aos fatos e observando o desempenho das instituições que merecem, mais uma vez, nossa confiança. (…) Não havendo uma resposta positiva, com resultados, por parte das instituições, tomaremos as medidas cabíveis no âmbito regulamentar. Estamos preparando ações educativas voltadas para a conscientização sobre respeito e diversidade nos próximos eventos, reforçando nosso compromisso com um ambiente seguro e acolhedor para a comunidade escolar”.

O relato de Yasmim

Para o A Seguir, Yasmim Helena, de 18 anos, relatou o que aconteceu:

– O jogo terminou o primeiro tempo em 0 x 0 e com esse placar, a gente ganhava, mas queríamos vencer a partida. Na volta do intervalo, a goleira jogou a bola na minha direção, eu subi e na descida fiz uma falta na atleta do Objetivo. Pedi desculpas e fui ajudá-la a se levantar, mas ela ficou rolando na areia pra ver se o juiz me dava um cartão amarelo. Nisso, a confusão estava instalada. Uma responsável pelo outro time disse: “é por isso que macaco não deveria jogar bola”. Fui na direção dela e falei para ela repetir. Ela disse: “Você é macaca, não deveria estar jogando bola”. Fiquei com raiva e colegas me tiraram de perto. Mais tarde, falei com a camisa 11, capitã do Objetivo, e ela disse que a situação era inadmissível. Eu não voltei para o jogo, mas o Objetivo se retirou. O jogo terminou em 0 x 0 e nós passamos na chave.

Yasmim contou que foi orientada por uma senhora que estava acompanhando os jogos a chamar a polícia. Fez isso e registrou o caso na 77 DP (Icaraí).

Você já tinha passado por algo parecido?

Yasmim: Nessa proporção não, sempre tive medo de passar por esse tipo de situação.

Como está se sentindo agora?

Yasmim: Ainda chateada. Eu estou me sentindo uma criança outra vez, quando você fica com medo das coisas. Igual quando fica com medo de escuro e seus pais dizem que você está crescendo, que precisa dormir com a luz apagada. E você fica com medo, mas não quer demonstrar o quanto você está mal com a situação.

Nas suas redes sociais, a aluna do Liceu nada postou. Yasmim tem se limitado a agradecer mensagens de solidariedade.

O que diz o Objetivo Camboinhas

No dia seguinte à publicação da reportagem, o colégio Objetivo Camboinhas encaminhou a seguinte nota para o A Seguir:

“O Colégio Objetivo Camboinhas repudia veementemente qualquer comportamento discriminatório, seja ele em razão de raça, cor de pele, orientação sexual, religião, idade ou qualquer outra forma de intolerância e preconceito.

Nossa escola sempre promoveu valores de respeito, inclusão e diversidade e não toleramos comportamentos que vão contra esses princípios.

Acreditamos que toda e quaisquer prática discriminatória dever ser devidamente apurada pelas autoridades investigativas competentes, de maneira que a justiça seja feita.

Reiteramos que a formação de cidadãos éticos e conscientes é o compromisso da nossa missão educacional, primando pela garantia de um ambiente escolar, inclusivo, seguro e respeitoso para todos.”

De acordo com o colégio, nenhum dos seus funcionários esteve envolvido no caso.

 

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