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Especialistas elogiam passaporte da vacina e defendem ampliação da exigência

Por Livia Figueiredo

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Cientistas entendem que exigência de imunização só traz benefícios, como ampliação da cobertura vacinal
Foto- Amanda Ares
Foto: Amanda Are

A exigência do passaporte de imunidade em alguns espaços de Niterói, prevista no Programa Novo Normal e que será implementada no dia 1º de outubro, já tem refletido no comportamento das pessoas. Nesta quinta-feira (16), o A Seguir: Niterói mostrou que o anúncio da exigência de comprovante de vacinação fez a procura pela 1ª dose aumentar na cidade. O impacto é positivo para a campanha de imunização e comemorado por especialistas em Saúde Pública, que enxergam na medida uma chance de aumentar o número de vacinados e, consequentemente, conduzir a população à normalidade.

Para o pesquisador de saúde pública da Fiocruz que atua na área de estatística aplicada à epidemiologia das doenças transmissíveis, Leonardo Bastos, o passaporte de vacinação não deveria ser uma medida que causasse transtornos caso a população, que fosse elegível à vacina, tivesse se imunizado na época em que foi convocada.

– Como existem pessoas que optaram por não se vacinar, independente do motivo, a cobrança de comprovante de vacinação tem como objetivo principal aumentar a cobertura vacinal. Sob o ponto de vista coletivo, isso é muito importante, pois sabemos que a vacina reduz o número de casos graves e óbitos por Covid, o que alivia o sistema, caso aconteça um novo surto ou onda associado a uma nova variante, como a Delta nesse momento.

O especialista também acredita que, sob o ponto de vista individual, a obrigatoriedade do comprovante de vacinação em espaços públicos e privados de uso coletivo vai aumentar a sensação de segurança de quem disse “sim” à vacinação e quer retomar a convivência.

– As pessoas vão se sentir mais seguras em frequentar ambientes livre daquelas que não foram vacinadas, mas isso não isenta que elas deixem de manter cuidados usuais, como o uso de máscaras, evitar aglomerações e ambientes mal ventilados. Estamos em queda nos indicadores de casos hospitalizados e óbitos, graças à vacinação, mas ainda estamos em níveis longe de confortáveis desses indicadores – alertou o especialista.

A Coordenadora da Rede Análise Covid-19, Mellanie Dutra, acredita que a adoção do passaporte da vacina tem outro caráter importante: o de conscientizar a população sobre a vacinação como um componente fundamental para o retorno às atividades na sociedade. O aumento da procura por vacinas acaba sendo um resultado natural nesse processo. A cientista defende, inclusive, a ampliação da exigência pelo comprovante para mais espaços de uso coletivo.

– Acho que seria importante ampliar, porque há alguns locais onde existe uma grande circulação de pessoas, como é o caso de restaurantes, que são espaços onde as pessoas geralmente não estão usando máscara porque estão comendo. Centro de treinamento e estádios são fundamentais também. Estádios são locais de alta propagação de vírus por conta da torcida, da aglomeração. Acho que deveria ser ampliado para todos aqueles locais em que o distanciamento não possa ser adequadamente cumprido.

Mellanie Dutra conta que o fenômeno visto em Niterói, de aumento na procura pela primeira dose, segue a tendência que foi observada em outros países de cultura antivacina, que também adotaram o passaporte de imunidade. Mas a coordenadora da Rede Análise Covid reforça que é importante combinar essas medidas aos cuidados de prevenção, como o distanciamento social, a boa higienização das mãos e o uso de máscara, mesmo após a segunda dose, uma vez que a taxa de transmissão do vírus ainda é preocupante.

O especialista em Saúde Pública da Fiocruz, Leonardo Bastos, também lembra que os cuidados continuam sendo necessários e faz um alerta: a pandemia não acabou.

– Estamos com algo em torno de três mil óbitos por semana no Brasil. Levando em consideração que em uma epidemia como a dengue, que se em um ano morressem mil pessoas, isso era considerado muito grave, imagina com a Covid. Perdemos a humanidade em algum momento.

Pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz, Diego Xavier, afirma que várias pessoas têm se apoiado em liberdades individuais para não se vacinar. Segundo ele, essas medidas chegaram como forma de colocar os direitos coletivos acima de qualquer direito individual.

– Pessoas que não se vacinam continuam se expondo e transmitindo o vírus, o que faz com que a doença persista. Esse passaporte coloca restrições para que as pessoas busquem se vacinar. Não quer dizer que elas percam o direito de não se vacinarem, mas sim, de frequentar espaços públicos e expor outras pessoas ao risco.

O especialista ressalta que é preciso planejamento, já que há uma maior demanda pela vacina com a exigência em alguns locais:

– As medidas são assertivas, mas é importante que os gestores locais, principalmente, criem alternativas para que a gente faça esse processo de vacinação sem aglomeração em alguns locais. Uma das estratégias é abrir os postos em horários alternativos, fazer mutirões de vacinação nos fins de semana, porque o objetivo final é que as pessoas se vacinem e não uma punição. Infelizmente as pessoas só estão entendendo a importância de se vacinarem quando elas perdem algum direito individual em detrimento de um bem coletivo maior.

O sanitarista Christovam Barcellos, membro do Observatório Covid-19, também enfatiza que a operação dos postos de vacinação deve mudar, já que algumas pessoas optaram por perder a vez na fila no calendário oficial.

– Acho que há um consenso mundial em que não se obriga as pessoas a tomarem a vacina, mas por outro lado, as empresas, associações e governos locais têm a atribuição de exigir vacina. O passaporte vai fazer com que muitas pessoas que não se vacinaram busquem os postos agora. As pessoas não deixam de ter liberdade de assumir decisões, mas devem arcar com as responsabilidades.

Em transmissão nas redes sociais na última terça-feira (14), a equipe da Secretaria Municipal de Saúde anunciou que a apresentação do passaporte será obrigatória em alguns ambientes e, em outros, apenas recomendada. Nos casos em que ele for exigido, os cidadãos precisarão apresentar comprovante de vacinação do Conecta SUS ou a caderneta de vacinação, de postos de Niterói ou de outros locais, para ingressar nesses espaços. A medida é uma das principais mudanças previstas no chamado Plano do Novo Normal, uma atualização do plano de reabertura da cidade, que entrará em vigor a partir de outubro e será escalonado em três fases (outubro, dezembro e janeiro).

De acordo com a Prefeitura, o comprovante será obrigatório em espaços como museus, bibliotecas, cinemas, teatros, salas culturais e exposições em ambientes fechados. Além de pontos turísticos com controle de entrada, shows, conferências, casas de festas, casas noturnas, pubs e boates. Os projetos sociais e esportivos da prefeitura, assim como o acesso e a permanência em programas sociais também fica condicionada à vacinação. O comprovante será recomendado em academias, centros de treinamento, estádios, piscinas, clubes, áreas de lazer de condomínios e estabelecimentos de saúde públicos e privados.

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