2 de janeiro

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Em Niterói, o show não pode parar

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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A Seguir faz um balanço das apresentações que mais marcaram a cena musical da cidade em 2024
ludmilla
Depois de temporada recorde de shows, Niterói entra em 2025 com ingressos esgotados para ver Ludimila

Não é preciso ser um consumidor assíduo de música para observar que o investimento na cena musical em Niterói neste ano foi uma estratégia para reativar a economia. A cultura dos shows foi um dos recursos  adotados no pós-pandemia, quando estar em um ambiente de grande circulação de pessoas ia contra a todas as orientações das autoridades de saúde pública.

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A agenda de shows que acompanhou o calendário da cidade durante todo o ano marcou a gestão de Axel Grael, que se despede da Prefeitura em dezembro deste ano.

Recuperação pós-pandemia

A estratégia, muito bem acertada do ponto de vista econômico e turístico, dá sequência ao perfil de gestão do seu antecessor, Rodrigo Neves, que chega no ano que vem ao comando da cidade, no seu terceiro mandato. A expectativa é que Niterói tenha, novamente, um alto investimento na cultura, característica que consolidou o seu governo anterior.

Nomes de repercussão

A seleção de artistas chama a atenção do público. Neste ano, passaram pela cidade nomes de grande importância na música brasileira, como Seu Jorge, Pitty, Roberta Sá, Péricles, Chico César, Guilherme Arantes, Gabriel O Pensador, Fernanda Abreu, Toni Garrido.

Pretinho da Serrinha foi uma das atrações do Rio Jazz Festival ao lado de Mônica Salmaso e convidados, realizado no Teatro Popular. Foto: Reprodução/Internet

O Rio Jazz Festival, que atravessou a ponte Rio-Niterói pela primeira vez, trouxe nomes renomados, como Elba Ramalho, Claudio Zoli, Pretinho da Serrinha e Mônica Salmaso para Niterói.

Elba Ramalho na primeira edição do Rio Jazz Festival em Niterói. Foto: Divulgação

Já a banda Capital Inicial sobe aos palcos para a festa de Réveillon da cidade. Mas antes, está previsto um show do Detonautas.

Democratização da cultura

O resultado foram shows de vários estilos musicais (mpb, samba, rock…), e em pontos diferentes da cidade: Icaraí, São Domingos, São Francisco, numa tentativa de pulverizar a cultura e democratizar o acesso do público.

Outra estratégia nesse sentido de chegar a mais camadas da população foi a realização de shows fora da Zona Sul da cidade, em bairros como São Domingos, Centro, Fonseca e Barreto.

O Teatro Popular, no Caminho Niemeyer, a Sala Nelson Pereira dos Santos, no Reserva Cultural, em São Domingos, e o Horto do Fonseca e Horto do Barreto foram palcos de muitos shows realizados neste ano na cidade. Entre eles, de artistas locais e de grande porte.

O que vem aí

Já em relação aos planos do ano que vem, a agenda já começou a ser preenchida. A cantora Ludmilla leva o seu maior projeto, um sucesso de público, pela primeira vez para Niterói. O Numanice será realizado no Caminho Niemeyer em abril do ano que vem e os ingressos já estão esgotados.

Ludmilla chega a Niterói com o Numanice pela primeira vez em 2025. Foto: Reprodução/Internet

Sem contar os festivais, os shows em datas festivas, como Festa Junina, Natal e Réveillon. Isso sem contar com uma apresentação da Marisa Monte que ficou de ser remarcada para este ano, após a ventania que derrubou o palco em novembro de 2023. Tem ainda os shows realizados fora de datas comerciais, apresentações de artistas da cena local… Ufa!

Ao ar livre, nosso corpo responde aos estímulos liberando serotonina, substância que gera a sensação de bem-estar e felicidade. Agora imagina em uma roda de samba ou num show de jazz ao ar livre… Os níveis de seretonina são potencializados, ganham novas camadas, mobilizam pessoas, colaboram para conexões e para a redução do estresse e ansiedade.

2024 foi o ano também que marcou a cena do jazz e do samba, que ganhou corpo, público e voz, se expandindo pela cidade.

Jazz itinerante

O Circuito Jazz São Domingos tem consolidado sua trajetória de sucesso, capturando novos ouvintes e os fiéis escudeiros do jazz. O evento, periódico, costuma apresentar três performances ligadas ao universo do jazz no mesmo dia, em horários sequenciais e em lugares diferentes de Niterói.

O projeto foi realizado em Niterói em agosto e celebrou a liberdade dos artistas independentes. Foi a primeira edição no jardim do Centro de Artes UFF. No local, o coletivo de DJs de Niterói, DJ set JGN 70’s levou para o público uma experiência sonora particular, 100% vinil, composta por hits consagrados e velhas novidades a partir da pesquisa musical de cada integrante.

A banda Alcachofra e Seu Pedro Experiência, duas atrações que representam o cenário emergente da música instrumental na cidade, tocou na Praça Paulinho Guitarra (em frente ao Convés), no Gragoatá.

Já a Praça São Dom Dom, em São Domingos foi comandada pelo som do grupo El Miraculoso Samba Jazz, formado em 2012 no Bar-Club da Esquina em Botafogo.

El Miraculosos Samba Jazz leva músicas autorais e arranjos próprios para São Domingos. Foto: Reprodução/Instagram

A banda é conhecida por combinar ritmos brasileiros como afoxé, bossa nova, samba, choro e influências do jazz, apresentando músicas autorais e arranjos próprios de compositores como Chico Buarque, Tom Jobim, Caetano Veloso, além de clássicos de jazz.

Até a calçada do Theatro Municipal de Niterói entrou para a rota de locais que tocam jazz na cidade. Felipe Escovedo e Ganjazz levou toda a sua linguagem jazzística, que mistura ritmos como reggae, soul, rock e MPB.

No show, o artista fez tributos e homenagens a grandes compositores. Na sequência, o guitarrista Ricardo Andrade apresentou suas músicas autorais e clássicos do jazz e blues.

Na esquina da Rua Paulo Gustavo com Lopes Trovão, em Icaraí, o Lizzon’s Quartet apresentou músicas instrumentais brasileiras, autorais e clássicos do jazz. O quarteto de música instrumental é composto por Arthur Lizzon no violão, Caio Storni na bateria, Lourenço Matheus no baixo elétrico e Lucas Cajuine na guitarra.

Em dezembro, São Domingos, que tem se firmado como um polo de jazz, promoveu mais uma edição do Circuito Jazz São Domingos. A Praça Zumbi recebeu a Roda Livre DJazz com o saxofonista Jef Rodrigues, com entrada gratuita.

A pianista Maíra Freitas. Foto: Divulgação

A pianista Maíra Freitas – conhecida pelo Jazz das Minas – levou toda sua bossa para a Praça Paulinho Guitarra, no Gragoatá. A entrada também foi gratuita.

Às 19h, a praça São Dom Dom foi dominada pelo saxofonista Moisés J. Alves, que leva todo seu Afrojazz.

O Pub Punqs, em Itaipu, virou um celeiro de entusiastas e ouvintes de jazz. O ambiente aconchegante e alternativo costuma promover shows de blues, jazz e rock. Para acompanhar, tira-gostos e drinques.

Quem vai à Praça da Cantareira, em São Domingos, sabe que todas as terças-feiras irá encontrar jazz de qualidade no Estúdio Onze Botequim. O espaço fica ao lado do Bar do Renato e costuma reunir um público jovem e adulto.

Outro local que também tem colaborado para o alcance do jazz pelo  público mais jovem é a Casa 264, localizada também em São Domingos . Não à toa o bairro tem sido conhecido como um berço do jazz.

O centro cultural promoveu uma série de pequenas jam sessions, apelidadas de “Jazz na Casa“. Uma que foi sucesso de público contou com a presença de Joe Pepe e Marcus Nimrichter.

Rodas de samba

O 7º Encontro de Mulheres na Roda de Samba, no Gragoatá, teve 7 horas de samba. Foto: Divulgação

As rodas de samba também foram bem frequentes em Niterói. Este ano a cidade foi palco do 7º Encontro de Mulheres na Roda de Samba. Foram sete horas de samba (das 12h às 19h) com grupos formandos apenas por mulheres, para celebrar a força feminina. A entrada foi gratuita.

Um fato curioso é que o encontro, realizado no Gragoatá, na Praça Adelino Guimarães, s/n, aconteceu simultaneamente em oito países, reforçando o papel global do samba como patrimônio cultural.

Monica Mac, Luiza Dionizio, Mari Araújo, Roda Clandestina, Sambariah, Samba Matilde e o Samba Trio foram alguns dos destaques.

O evento ainda contou com a participação especial da Oficina das Minas, que apresentou o repertório aprendido ao longo do último semestre, além de surpresas.

Em setembro, a cidade recebeu a Feira Popular Cultural Sambadilá chega a Niterói, na Praça Escritor Adelino Magalhães, em São Domingos. A edição de abertura do projeto trouxe ainda a cantora Marina Iris como convidada.

Idealizada pelo sambista Mingo Silva, músico expoente do Samba do Trabalhador, a feira reuniu roda de samba, gastronomia, artesanato e uma oficina de cerâmica.

Um dos objetivos do projeto é ocupar a tradicional praça, recém reformada, que fica em frente ao histórico prédio do Castelinho.

A Feira Popular Cultural Sambadilá é inspirada no movimento da Rede Carioca de Rodas de Samba, que consegue articular recursos, espaços e um olhar mais atento do poder público para a valorização da cultura.

No feriado de São Jorge, rodas de samba tomaram conta de vários pontos de Niterói, especialmente em quadras de escolas de samba.

Quem abriu os trabalhos foi a Acadêmicos do Cubango. A roda de samba fiou a cargo do Pagode do Saboia. Já na Unidos do Viradouro, o samba contou com a participação da Portela.

O bar Esquina de São Jorge, tradicional reduto de devotos do santo, no Fonseca, além de feijoada e samba, teve queima de fogos. Por lá, a roda de samba ficou sob o comando de Paulo Zerbini, com participação de Monica Mac.

No Quilombo do Grotão, a roda de samba foi comandada pelo grupo Ogum, formado por Mariana Braga, Thiago Cunha, Declar Sodré, Pitico, Yuri Portela, Lucas Marques e Jean Silva.

Em Santa Rosa, no Deck do Barriga, o samba ficou garantido com o grupo Linha de Frente.

Candongueiro: reduto do samba

Quem frequenta a roda de samba do Candongueiro, em Pendotiba, não imagina que o espaço já foi residência de uma família, quando um casal, atraído pelo ar pacato de roça da região, se mudou para lá com seu filho de cinco anos.

Anos depois, a roda do Candogueiro cresceu e algo familiar se tornou endereço certo para os amantes de cultura popular, não só de Niterói, como do Rio de Janeiro. A demanda era tanta que havia quem não conseguia sequer entrar por conta da lotação esgotada.

Dependendo do evento, é assim até hoje. Longe da definição de “casa comercial”, o Candongueiro passou a ser considerado algo de referência, porque abriga um público mais tradicional, da velha guarda. O espaço ganhou ainda mais relevância por preencher uma lacuna que existe na cidade ao valorizar os artistas do samba.

a roda de samba do Candongueiro fica na Estrada Velha de Maricá, nº 1554, em Pendotiba. Foto: Divulgação

Hoje o Candongueiro recebe um público jovem e adulto e é considerado Patrimônio Cultural Imaterial da Cidade. 

O Candongueiro fará a sua última roda de samba com a presença ilustre da Velha Guarda da Portela. Será no sábado, 28 de dezembro, às 19h. Os ingressos podem ser comprados no site Sympla pelo link.

Quilombo do Grotão

O Quilombo do Grotão fica no Engenho do Mato. Foto: Divulgação

Com mais de 70 anos de história, o Quilombo do Grotão, localizado no Engenho do Mato, se consolidou como território de cultivo da cultura afro.

O espaço é conhecido por promover atividades para os amantes da tradicional feijoada à lenha e da roda de samba “raiz”, como é orgulhosamente chamada.

O Quilombo ainda oferece oficinas com ervas medicinais para a produção de sabonetes, aulas de percussão, capoeira e artesanato.

E o mais legal é que o dinheiro dos eventos é revertido em obras de saneamento, sinalização, água, eletricidade e sustentabilidade. A preservação do meio ambiente, aliás, é objeto de grande defesa dos moradores, conscientes de sua origem na agricultura e da relação direta da natureza com uma vida de qualidade.

Carimbando sua importância, o Quilombo do Grotão se tornou Ponto de Cultura, pelo programa Rede Cultura Viva de Niterói, que traça um mapeamento de toda a produção cultural da periferia do município, com o objetivo de aumentar a interlocução entre a prefeitura e as ações realizadas em nível local.

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