18 de março

Niterói por niterói

Pesquisar
Feche esta caixa de pesquisa.
Publicado

‘É questão de vida’, diz líder de grupo pró vacinação de adolescentes com deficiência

COMPARTILHE

Movimento faz carta aberta para a Prefeitura e lança abaixo-assinado para imunização de adolescentes com deficiência e/ou comorbidade
é-questão-de-vida-diz-líder-de-grupo-pró-vacinação-de-adolescentes-com-deficiência
Movimento ‘Uma Dose de Respeito’ faz abaixo assinado pela inclusão de adolescentes deficientes e/ou comorbidade / Foto: Divulgação

Enquanto alguns furam filas por motivos variados e os “sommeliers” seguem na corrida pela vacina de preferência, adolescentes com deficiência permanente e/ou comorbidades, na faixa etária de 12 a 17 anos, não foram contemplados no grupo prioritário de vacinação contra a Covid. O surgimento de novas cepas, incluindo a Delta, que vem da Índia e pode provocar o aumento de reinfecção da doença, gera preocupação nos pais desses jovens. Pensando nisso, o movimento #UmaDosedeRespeito lançou um abaixo-assinado que tem como uma das líderes em Niterói, a pesquisadora da área de desenvolvimento e aprendizagem de pessoas com Síndrome de Down.

Além do abaixo-assinado, uma carta aberta foi enviada para o Prefeito de Niterói, Axel Grael, e ao Secretário de Saúde de Niterói, Rodrigo Oliveira, solicitando uma reunião para tratar da inclusão de adolescentes no grupo prioritário da vacinação. A gravidade da situação impõe urgência ao momento.

Militante há 15 anos dos direitos das pessoas com deficiência, desde que seu filho nasceu, a professora da UERJ e moradora de Niterói, Marinalva Oliveira explica que as pessoas com deficiência e/ou comorbidades apresentam maior vulnerabilidade e risco de contrair a Covid-19 e de desenvolver formas mais graves da doença. Diante da vulnerabilidade a que esses adolescentes estão sujeitos, caso não seja priorizada a vacinação, não há como se estipular uma perspectiva de retorno escolar, às terapias ou à qualquer atividade presencial necessária para sua estimulação e desenvolvimento.

– Não havia vacina autorizada para menores de 18 anos e, a partir do momento que Anvisa autorizou o uso da vacina Pfizer para adolescentes na faixa etária de 12 a 17 anos, um grupo de mães de adolescentes que tem Síndrome de Down foi formado. Nos organizamos e fomos convidando outras mães e pais de adolescentes com deficiência e/ou comorbidades. Em uma semana conseguimos alcançar mais de 50 famílias fazendo parte do movimento aqui em Niterói. Em Macaé, surgiu um movimento semelhante a partir do nosso. Considerando que entes federativos têm autonomia para definirem suas prioridades no calendário vacinal contra a Covid-19, avaliamos que era hora de pressionar o poder público municipal. É questão de vida e de direitos – ressaltou.

As pessoas com deficiência permanente e/ou comorbidades acima de 18 anos fizeram parte do grupo prioritário na vacinação, a partir dos critérios de maior vulnerabilidade e amparadas pela Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.164/2015) que garante o atendimento prioritário às pessoas com deficiência. No entanto, os menores de 18 só não foram incluídos no mesmo calendário porque, na época, não havia vacina com autorização a eles.

Relatos de óbitos

– Temos relatos e casos de complicações e até de mortes. Por vários motivos: imunidade mais baixa e comorbidades associadas a problemas cardíacos, respiratórios, diabetes e outras; dificuldade para seguir protocolos de segurança, como uso de máscaras, higienização das mãos e afastamento social; dificuldades de identificar e comunicar os sintomas da doença. Pessoas com deficiência intelectual têm dificuldade de compreender os sintomas e, nós, de identificar. Acontece que quando eles chegam ao hospital o quadro já é grave e muitas vezes irreversível – explicou.

A carta aberta elaborada pelo movimento #UmaDosedeRespeito teve mais de 5 mil adesões nos perfis de redes sociais. Além disso, o movimento recebeu muitas mensagens de apoio, inclusive de pessoas de outros municípios e estados estão utilizando a mesma carta para pressionar o poder público em seus locais de origem. Além da carta aberta, um abaixo-assinado, este de âmbito nacional, já alcançou a marca de quase 10 mil assinaturas.

Marinalva faz parte do movimento nacional e também do estadual. Ela conta que a luta foi grande, mas já considera a inclusão de adultos com deficiência como grupo prioritário uma vitória. Mas ainda falta chão. Uma carta aberta já foi enviada ao Prefeito Axel Grael e ao Secretário de Saúde de Niterói solicitando uma reunião para tratar da inclusão de adolescentes com deficiência e/ou comorbidades na prioridade da vacinação. No momento, está sendo feita uma seleção de vídeos com depoimentos de adolescentes com deficiência e/ou comorbidades.

Audiência pública na próxima segunda (5)

Uma audiência pública na Câmara Municipal, convocada pelo Presidente da Comissão dos Direitos das Pessoas com Deficiência, será realizada na próxima segunda-feira (5). O tema é a Inclusão Escolar dos PCDs e o impacto da ausência da vacina em adolescentes com deficiência e/ou comorbidades.

– Vamos abordar de que forma a ausência da vacina em adolescentes com deficiência e/ou comorbidades aprofundará e, muito, a exclusão em todos e de como isso é extremamente prejudicial ao desenvolvimento deles. Também teremos uma live chamada pela OAB Niterói, da Comissão de Pessoas com Deficiência, na terça-feira (6). Estamos buscando apoio de parlamentares municipais, estaduais e federais para as nossas reivindicações – destacou.

De que forma a sociedade pode colaborar com o movimento?

Como há casos de adolescentes com deficiência que não conseguem usar máscaras como instrumento de proteção, a exemplo de pessoas com autismo, o ensino à distância tem excluído os adolescentes com deficiência, já que necessitam de apoio presencial. Qualquer atividade remota se torna uma tarefa desafiadora. A impossibilidade das idas às terapias, necessárias diariamente, e às aulas presenciais têm consequências graves no desenvolvimento desses adolescentes, podendo até ser irreversível. Em caso de muita exposição, eles podem contrair a Covid e até irem ao óbito.

Outra questão fundamental é que as pessoas com deficiência têm direito ao atendimento preferencial, conforme assegura a Lei Brasileira de Inclusão (LBI): Seção Única Art.9º – “A pessoa com deficiência tem direito a receber atendimento prioritário, sobretudo com a finalidade de: I. proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; II. atendimento em todas as instituições e serviços de atendimento ao público.”

– Pedimos a compreensão da sociedade, pois nossos filhos com deficiência e/ou comorbidades e suas famílias tiveram uma mudança drástica em suas rotinas com a pandemia da Covid. Não estão sendo realizadas terapias e não existe a possibilidade do retorno seguro das aulas presenciais. Isso por conta do isolamento social, pois são mais vulneráveis e correm risco de contrair a Covid e desenvolverem formas graves da doença. Estamos reivindicando a prioridade na vacina para nossos filhos a partir de critério da preservação da vida como direito inalienável. Os critérios para vacinação são científicos, legais, concretos e objetivos – reforçou.

COMPARTILHE