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É golpe! Especialista alerta para crimes digitais que deixam para trás o conto do vigário

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Coordenadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da UFF (GENI), Carolina Grillo fala sobre as novas modalidades de crime e explica porque é tão difícil controlá-los
crime cibernético
Segurança no meio digital preocupa. Foto: Reprodução/ Governo Federal

O uso mais intenso da internet e das redes sociais na pandemia provocou um aumento dos crimes digitais. Com os golpes em redes sociais cada vez mais recorrente, a sensação é que a cada semana o número de contas no Instagram é cada vez maior. Funciona assim: os perfis são invadidos e um pessoa se passa pelo verdadeiro dono do perfil. Geralmente é para venda de utensílios que não existem. Após diversos pix e transferências, a vítima ainda tem que lidar com outros trâmites que costumam dar muito trabalho, como recuperar a conta e ressarcir seus amigos/familiares que caíram no golpe.

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Outro golpe muito comum é a clonagem do número de WhatsApp. Nele, o mesmo esquema é aplicado: venda de materiais que não existem, um pedido de transferência bancária… A pessoa alega que mudou de número e logo vem o pedido. Embora esses golpes sejam frequentes, ainda há pessoas que deixam se levar no momento do desespero, no ímpeto de ajudar o outro. Além disso, a compra de itens na internet e o fácil acesso a dados bancários têm oferecido o ambiente ideal para clonagem de cartões de crédito.

Segundo a socióloga Carolina Grillo, mudanças tecnológicas nas formas de compras e pagamentos têm provocado alterações nas modalidades de estelionato e até mesmo de roubos. Em conversa com o A Seguir: Niterói, a coordenadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI) falou sobre as novas modalidades de crime, como os cibernéticos, os furtos de cabos de energia, conhecidos como “gatos de luz”, e explicou porque é difícil controlá-los.

Sobre o GENI

O Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (GENI-UFF) é um grupo de pesquisa registrado no diretório de grupos de pesquisa do CNPq e especializado em temas associados às diferentes formas de violências e conflitos sociais.

O grupo desenvolve projetos de pesquisa que envolvem discentes e docentes provenientes dessa rede institucional da UFF. Seus pesquisadores atuam simultaneamente em diversas linhas de pesquisa: os chamados mercados informais e ilegais e suas formas de controle sociais; os coletivos criminais, suas relações com as práticas de poder, disputas e territorialidades; políticas de segurança pública e o governo da violência e do crime; prisão e encarceramento.

Confira a entrevista abaixo:

A Seguir: Niterói: Observamos um aumento acentuado das novas modalidades de crime. A que você atribui isso?

Carolina Grillo: Depende do tipo de crime. No que se refere aos crimes que visam à obtenção de dinheiro, como o tráfico de drogas, roubos, furtos e fraudes, as técnicas utilizadas em sua prática variam de acordo com as oportunidades que surgem e sempre se renovam para driblar novos empecilhos. Por exemplo, mudanças tecnológicas nas formas de compras e pagamentos, por exemplo, têm propiciado alterações nas modalidades de estelionato e até mesmo de roubos.

Segundo pesquisa da FGV, o índice de furtos de cabos do Estado do Rio é o maior do Brasil. Quais fatores podem ajudar a explicar esse dado?

Nos últimos anos houve um aumento muito significativo da pobreza extrema e da população em situação de rua em todo o Brasil, favorecendo que a coleta de materiais recicláveis se tornasse uma importante estratégia de sobrevivência para essa população. Isso foi incentivado também pelo valor alto do ferro e alumínio no mercado internacional.

No caso particular do Rio de Janeiro, houve uma proliferação de galpões de reciclagem que passaram a receptar material evidentemente furtado como, por exemplo, tampas de bueiros e trilhos de trem. Isso só é possível porque esses galpões não estão sendo devidamente fiscalizados pela polícia, o que constitui forte indicador de corrupção policial.

Os golpes praticados na internet são um dos mais recorrentes. Quais são os principais cuidados que o usuário deve ter?

O bloqueio de cartões físicos para compras pela internet e uso de “cartões online” são medidas que diminuem as chances de golpes com o cartão de crédito. Os bancos e plataformas de pagamento têm buscado oferecer alternativas para maior segurança ao usuário, mas o risco de golpes sempre existe. É preciso que as pessoas sejam mais cuidadosas com seus dados pessoais e verifiquem os certificados de seguranças dos sites em que fazem compras.

Quais são os principais sinais de um golpe na internet?

Existem diferentes tipos de golpe, mas é sempre bom evitar compartilhar dados ou fotos com quem você só conheceu na internet. Tem sido muito comum aplicarem golpes via WhatsApp usando fotos de perfis reais para se passar por uma pessoa e pedir dinheiro aos seus familiares. Nesse caso, nunca se deve fazer Pix sem antes falar ao telefone para checar se é mesmo a pessoa quem está pedindo.

Os golpes de cartão também têm ficado bem em evidência. Como evitá-los?

Bloquear o cartão físico para compras pela internet e usar cartão online. Também é prudente suspender a funcionalidade de uso por aproximação.

Uma notícia publicada na Folha de São Paulo revela que áreas de milícia somam mais de 60% das denúncias de furto de energia no Rio. As queixas nessas regiões correspondem a mais de 1/3 do estado inteiro…

Nos territórios de moradia de baixa renda do Rio de Janeiro, sempre foi disseminada a prática do gato de luz, porque os gastos com contas de luz não cabem no orçamento doméstico da população que reside nessas áreas. Ou se come ou se paga luz.

Quanto às milícias, esse percentual é alto porque elas já ocupam quase 70% dos territórios sob controle territorial armado na cidade do Rio de Janeiro e 50% na Região Metropolitana. Os gatos de luz são uma das fontes de renda desses grupos que passaram a cobrar dos moradores para os autorizar a manter seus gatos.

Por que esses roubos são tão difíceis de serem controlados?

Historicamente, o método de combate aos gatos de luz consistiu em remover dos postes os fios que subtraiam a energia, deixando as pessoas sem luz. No dia seguinte as ligações eram refeitas, mas esse tipo de experiência desagradável incentiva as pessoas que podem pagar a regularizarem a sua situação de consumo de energia.

Em áreas de milícia, os funcionários da distribuidora de energia encontram maior dificuldade para fazer cortes, porque podem sofrer represálias. As milícias, portanto, se sentem no direito de cobrar dos moradores taxas de consumo de luz.

Também observamos uma grande quantidade de milicianos que usam postos de gasolina e lojas de conveniência para lavar dinheiro. Quais são principais indícios desse tipo de crime?

Postos de gasolina sempre foram usados para lavagem de dinheiro no Brasil, porque não há controle sobre o volume de combustível vendido e ninguém pede nota fiscal.

 

*Carolina Grillo possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ (2006), mestrado (2008) e doutorado (2013) pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

É professora do Departamento de Sociologia e Metodologia das Ciências Sociais (GSO) e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS), ambos da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Atua como coordenadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI/UFF) e como pesquisadora associada ao Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (NECVU/UFRJ). Tem experiência nas áreas de Sociologia e Antropologia, principalmente nos seguintes temas: violência, tráfico de drogas, segurança pública e justiça criminal 

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