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Doutora em veterinária pela UFF é premiada por divulgação da ciência

Por Por Gabriel Gontijo

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Gabriela conquistou o FameLab ao falar do benefício da pesquisa veterinária em prol dos humanos e citar soro do Vital Brazil
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Gabriela Ramos Leal, vencedora e premiada. Foto de Divulgação

Docente formada pela Unigranrio, mestre e doutora pela Universidade Federal Fluminense (UFF), a carioca Gabriela Ramos Leal, de 34 anos, tornou-se a primeira mulher negra a vencer o FameLab Brasil. A edição de 2020 foi exibida neste domingo (15) pela TV Cultura de São Paulo. Além da conquista nacional, ela é uma das dez finalistas da edição mundial do prêmio. E é a primeira vez que alguém do Brasil disputa a final desta competição.

Moradora de Quintino, na Zona Norte do Rio, Gabriela conquistou os jurados com um conceito científico de muita relevância para a atualidade e pouco mencionado: o desenvolvimento de soro para tratar a Covid-19 a partir de testes em cavalos. Ela revelou que a escolha de temas para apresentar durante as fases do concurso buscou mostrar um lado da medicina veterinária que não é conhecido pela sociedade. Além disso, explicou que o motivo pelo qual abordou esse tema foi uma pesquisa feita pelo Instituto Vital Brazil, em Niterói.

Desde maio, profissionais do IVB têm trabalhado na pesquisa de um soro para o tratamento de pacientes com Covid-19 feito a partir de plasma de cavalos. Na ocasião, em uma entrevista exclusiva que o presidente da instituição, Adilson Stolet, deu ao A Seguir: Niterói, ele comentou que o resultado mostrou que o plasma sanguíneo dos cavalos produz de 20 a 50 vezes mais anticorpos do que os humanos.

E em uma entrevista exclusiva concedida também ao A Seguir: Niterói, ela abriu o jogo sobre um certo preconceito que a Medicina Veterinária enfrenta nos próprios meios acadêmico e científico.

Assumindo que é apaixonada pelos animais, Gabriela destaca que eles também são importantes “em contextos não familiares pra sociedade”. E é dentro dessa fala que ela abriu o jogo para comentar sobre os ataques que a categoria sofreu quando o ministro da Saúde, Eduardo Pazzuelo, nomeou o veterinário Laurício Monteiro Cruz para coordenar o Programa Nacional de Imunização. Segundo a plataforma Lattes, Cruz é mestre pela Universidade de Brasília (UnB) e tem especialização na área de pesquisa epidemiológica, vigilância epidemiológica em zoonoses e arboviroses, além de trabalhar em vigilância ambiental e sanitária em saúde pelo Distrito Federal.

Deixando bem claro que sua opinião não é “para falar sobre oposição ou apoio ao atual governo”, ela salienta que “senso crítico é importante nas duas vertentes”, pois tudo “acaba sendo político”.

-Quando o Pazzuelo indicou um médico veterinário para o cargo de Diretor do Departamento de Imunizações do atual governo, isso virou piada. Não apenas sob os holofotes da imprensa, mas nas redes sociais de figuras públicas e políticas (de nome conhecido) que usaram toda a sua influência para dissipar desinformação. Só que o responsável pelo mesmo cargo, anteriormente, também era um médico veterinário. O que deixa claro que a prioridade de algumas figuras era atacar sem avaliar os fatos adequadamente. E para quem acha que isso é uma “exclusividade” brasileira, na Alemanha, o responsável pelo Instituto Robert Koch, órgão importante no controle de saúde e doenças, é um médico veterinário. Isso porque dentro das competências da medicina veterinária tem muito mais coisa que muita gente imagina. E está na hora de as pessoas saberem! E é justamente por isso que ser escolhida como vencedora, com um tema relacionado à imunização contra Covid-19 dentro de um contexto de medicina veterinária, foi tão importante! – desabafa.

O fato de ser a primeira mulher preta vencedora também não passou batido. Admitindo que precisou superar obstáculos por causa de ambas as condições, ela conta que levou “um tempo para entender as razões das injustiças e para buscar as estratégias de combate” até aprender. E que isso só a fortaleceu ainda mais para chegar até essa conquista.

-Eu nasci na condição de mulher e preta. Ambas as condições limitaram, por muitos anos, oportunidades e conquistas a muitas pretas que vieram antes de mim. É um tipo de luta que você não escolhe lutar. Você já nasce no campo de batalha simplesmente por ser quem é. E quando isso acontece, a luta em que você sempre esteve, ganha um outro significado. Você começa a amar as cores da sua bandeira e escolhe lutar por ela todos os dias – conta emocionada e reforçando que a conquista se deu na semana em que se comemora o Dia da Consciência Negra, que é 20 de novembro.

E além das questões racial e de gênero, a doutora em veterinária precisou lidar com outro tipo de segregação, o acadêmico. Afirmando que essa foi uma das “primeiras escolhas da vida”, Gabriela lamenta que as pessoas não valorizam de forma justa a profissão que ela seguiu. Por essa razão, ela argumenta que isso é um “alerta” para que os profissionais da categoria saibam comunicar melhor as atribuições reais da Medicina Veterinária. E é justamente por isso que ela reconhece que a vitória dentro desse contexto ganha um significado mais especial

-Confesso que no ano de 2020, no meio de uma pandemia, onde a pesquisa está em foco, e quando tantas piadas foram proferidas no que se refere a atuação dessa profissão nesse cenário, poder colocar a medicina veterinária em destaque teve um sabor totalmente especial – afirma sem esconder o sorriso.

O namorado da doutora, Túlio José de Freitas Goés, também participou do evento. Ele ficou entre os 30 semifinalistas do FameLab Brasil 2020. E se engana quem acha que a parceria se deu apenas na competição. Ambos se formaram em Medicina Veterinária pela Unigranrio e fizeram o doutorado pela UFF. Enquanto Gabriela concluiu em 2019, ele finaliza neste ano. E ambos conheceram o prêmio em 2017 ao assistirem à final realizada no Museu do Amanhã, na Praça Mauá, no Centro do Rio. Foi então que ela resolveu conhecer melhor a competição, embora não tenha participado de forma imediata.

-Eu acho que eu não tinha coragem de me inscrever ainda e encorajei ele a fazer isso em 2018. Ele foi semifinalista em 2018 também e eu acompanhei cada etapa do processo como se fosse meu. Até que em 2020 eu tomei coragem e nos inscrevemos juntos! Nós já trabalhávamos juntos, então temos uma boa parceria e foi exatamente assim que levamos a competição, como parceiros – explica Gabriela.

E a parceria foi tão grande que ambos não se viam como concorrentes “em nenhum momento”. Pelo contrário, a vitória de um seria a conquista do outro, pois de acordo com a doutora, os verdadeiros vitoriosos foram “a ciência e a medicina veterinária”. A final internacional do FameLab 2020 terá o resultado divulgado no dia 26 de novembro.

Sobre o FameLab Criada em 2005 pelo Festival de Ciência de Cheltenham, a competição é realizada pelo British Council em 32 países com o objetivo de promover a aproximação entre cientistas e público em geral, por meio da contextualização e abordagem de temas científicos no dia a dia da sociedade, além de incentivar o desenvolvimento de competências em comunicação, em especial a habilidade oral.

No Brasil, a 4ª edição conta ainda com a parceria do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e da TV Cultura.

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