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Dorso? Sambiquira? Na crise, carcaça de frango triplica de preço em Niterói

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Partes de aves antes consideradas subprodutos da indústria de alimentos ganham embalagem própria e são vendidas como cortes
Sambiquira e dorso são partes da carcaça do frango. Foto de leitor
Sambiquira e dorso são partes da carcaça do frango. Foto de leitor

Já ouviu falar em sambiquira? Talvez o nome não seja familiar, mas é um pedacinho do frango, a continuação do dorso, ou porção dorsal. Ambos compõem a carcaça da ave, que tem mais ossos, pele e gordura do que carne e, para não ser totalmente desperdiçada, era incluída no preparo de caldos e canjas. Mas, na crise, esses pedaços ganharam “status” de cortes e viraram prato principal. Agora são encontrados embalados nos supermercados de Niterói, custando até o triplo do preço de um ano atrás.

No Supermercado Guanabara, na manhã do último sábado, o dorso ocupava a mesma área dos cortes congelados de frango. Enquanto o quilo de coxa e sobrecoxa custava R$ 7,99, o corte “menos nobre” era vendido por R$ 5,98. Ao lado dele, a oferta era de sambiquira, o pedacinho antes desprezado, que agora custa R$ 6,99 e tem até receitas disponíveis na internet.

Pé e pescoço são outros pedaços pouco apreciados que ganharam destaque na geladeira dos mercados e na cozinha da classe média. Há um ano o quilo de cada uma dessas partes custava R$ 2,99 no Mundial. Hoje, passa de R$ 9. Três vezes mais. Até moela, o miúdo mais popular, antes custava R$ 5 e hoje passa de R$ 10.

Crise econômica e insegurança alimentar

A venda de subprodutos da indústria de alimentos é mais um resultado da inflação. A alta dos combustíveis e do milho, que compõe a ração, elevou os preços em toda a cadeia de proteínas. Com a carne bovina mais cara, o frango se tornou a opção mais viável. Porém, com grande demanda, ele também acumula altas consecutivas e está supervalorizado, assim como seus cortes menos nobres.

Mas, se por um lado, a comercialização de porções desvalorizadas cabe no bolso, o consumo exclusivo ou majoritário da carcaça está longe do ideal, sob o ponto de vista nutricional. Ou seja, a crise econômica está intimamente ligada à insegurança alimentar, que não se resume a fome, mas também à falta de acesso a uma alimentação de qualidade.

A nutricionista Ana Paula Paiva explica que esses esses pedaços agora comercializados como cortes não têm proteína suficiente para o corpo humano. A profissional explica que a sambiquira, por exemplo, é constituída principalmente por pele e gordura, onde se acumulam toxinas. De outros pedaços, como a carcaça, o que se extrai é colágeno, um tipo de proteína, sim, porém diferente do que o corpo precisa para realizar suas funções.

— A gente está vivendo uma insegurança alimentar absurda. E essa segurança é garantida pela Constituição Federal. É muito triste. Não tem como ser nutricionista e não ficar impactado com isso.

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