Niterói por niterói

Pesquisar
Close this search box.
Publicado

Diretora do Theatro Municipal fala dos principais desafios após um ano de pandemia

Por Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

COMPARTILHE

“A primeira vez que voltamos ao teatro, nos emocionamos”, diz Marilda Ormy; Municipal hoje funciona em modelo híbrido
theatro municipal
A diretora do Theatro Municipal, Marilda Ormy. Foto: Divulgação

No Theatro Municipal há mais de 20 anos, Marilda Ormy é uma das figuras mais identificadas com a cultura de Niterói. Marilda foi uma das sócias da saudosa casa de espetáculos Duerê e, após mais de um ano de incertezas do cenário artístico, conseguiu segurar as pontas de todo o corpo do teatro. É que a equipe do Theatro Municipal se mantém intacta desde o mundo pré-pandemia. Para conseguir essa proeza foi necessário unir esforços e muita dedicação ao corpo artístico e todos os colaboradores que estão envolvidos nos bastidores do espetáculo.

Marilda destaca que foi fundamental o suporte de editais da Secretaria de Cultura e da Fundação Municipal de Cultura, que designaram uma fatia de verba para os artistas, o que tornou possível, no início da pandemia, o pagamento de cachês para os que faziam lives.

O teatro atualmente funciona com algumas lives de peças gravadas, com a presença de público e também como ponto de vacinação da gripe. “Quando as pessoas vão se vacinar elas falam que se sentem em casa. Para muitas, o teatro é isso: a extensão da casa”, revela.

Leia mais: Paulo Gustavo será o homenageado da São Clemente no carnaval de 2022

Antes da pandemia, praticamente aos quase 45 do segundo tempo, o Theatro Municipal de Niterói conseguiu comemorar seus 25 anos após sua restauração. Quase um mês antes de o mundo fechar. Todo ano o Theatro Municipal fica fechado nos meses de janeiro e fevereiro para manutenção, mas, em 2020, parece que a diretoria já estava prevendo. Em fevereiro de 2020, o teatro celebrou um ano de prata em um “teatro de ouro”, como bem definiu Marilda. Até que entrou março e o teatro precisou ser fechado.

– Independente de toda a postura profissional, a nossa atitude afetiva é muito grande. Passando pelo público, o artista e ao colaborador, o carinho nos envolve. Nesses 25 anos, eu vejo como é importante colocar a parte técnica misturada com toda essa história de amor. Isso é o que está fazendo mais falta. A primeira vez que voltamos ao teatro, nos emocionamos. Aquele lugar só tem boas vibrações e inesquecíveis lembranças. O que eu recebo de mensagem de WhatsApp perguntando quando o teatro vai voltar… Há todo um choro coletivo reverenciando essa ausência de teatro – pontua.

A peça “As bodas de rapunzel”. Foto: Divulgação

Teatro funciona em modelo híbrido

A paralisação das atividades presenciais impõe novos desafios e estabelece um período de adaptação involuntário. O teatro, que antes da pandemia poderia comportar mais de 400 pessoas, se viu obrigado a fechar. A migração para o online foi inevitável e novas estratégias tiveram que ser colocadas em prática de modo a reaproximar o público com a arte. Atualmente o teatro funciona em modelo híbrido, mesclando algumas peças presenciais, com as gravadas no próprio espaço que são reproduzidas de modo virtual.

– Foi um susto para todos nós. A gente levou mais ou menos um mês para se entender dentro do que estava acontecendo. Fechamos o teatro de um dia para o outro. Começaram a surgir na Europa e nos Estados Unidos os protocolos para um possível retorno e nós, como diretores do teatro, nos debruçamos muito durante três meses. Estudamos com muito afinco todos os protocolos de teatro que podiam existir. Até que fizemos o próprio protocolo do teatro e começamos a qualificar nossos colaboradores – explicou.

A organização prévia ditou o rumo do teatro. Marilda conta que todo o encaminhamento de material de prevenção à Covid, assim como tudo que envolve a parte administrativa, foi resolvido bem antes. Já a produção artística foi um aprendizado na prática. “Não adianta colocar uma orquestra, uma companhia de dança. A nossa diretora artística, Luciene Rocha, ficou pensando no que poderia ser levado para o público e o que seria viável de ser executado”, destacou.

A comunicação com os funcionários ao longo de mais de um ano de pandemia foi constante. Mensagens eram enviadas com o objetivo de acompanhar a saúde dos funcionários e, quando alguém era diagnosticado com Covid, o suporte era ainda mais cuidadoso. “A gente enviava desde chocolate à comidinha para nossos colaboradores, de uma forma bem interna, bem teatro. Era a equipe se multiplicando”, detalhou.

– É fundamental estar na ativa, produzindo. A gente tem no Municipal um trabalho de formação de plateia, projeto social mais voltado para quem não tem acesso à arte. Então, mesmo tendo espetáculos pagos, estamos sempre em contato com ONGs e instituições – conta a diretora artística, Luciene Rocha.

A diretora artística do Theatro Municipal, Luciene Rocha. Foto: Arquivo Pessoal

Programação

A programação virtual do Theatro Municipal começou em março de 2020 e dura até os dias de hoje. A diretora artística, Luciene Rocha, explica que a programação online do Theatro no começo da pandemia foi composta por muito material reciclado, de peças anteriores, e artistas foram convidados para dar depoimento na chamada da divulgação da peça. Toda a programação previamente gravada é disponibilizada nas redes do Theatro Municipal e podem ser encontradas no Facebook e no Instagram.

Apenas em julho que foi viável a produção de lives gravadas no teatro. A programação era diversa: yoga, o clássico samba, e o campeão de bilheteria: a peça “Divaldo Franco e Joanna de Ângelis – Uma missão de amor”, em agosto. Foram quatro meses de lives, até que, em novembro, alguns cancelamentos foram necessários.

– Algumas lives eram feitas no Teatro com o público, mas a maioria era gravada e sempre com a entrada franca, com a retirada de senha pela Sympla, responsável pela distribuição dos ingressos. Isso só foi possível por conta dos editais como a Lei Aldir Blanc e a Retomada Cultural. Conseguimos atender aos protocolos da forma correta, com 30% apenas de capacidade máxima do público. Quando a entrada é franca, as pessoas retiram os ingressos, mas não vão todas – afirmou.

Período de incertezas

Em março de 2021, o teatro reabriu com o público, com a peça “Frágil”, mas logo tiveram que interromper a gravação porque foi necessário fechar novamente o espaço devido às restrições impostas pela Prefeitura de combate à Covid. Agora, o teatro está sem programação fixa.

– A gente pauta, se adianta, mas estamos vivendo um dia após o outro. Além do mais, os imprevistos acontecem. Por exemplo, nessa semana teríamos a peça “Mona canta Dalva” com a presença de público, mas tivemos que nos readaptar porque ela ainda está com sequelas da Covid. Portanto, será disponibilizado um link da peça já gravada em 2017, na Maison de France, para ser apresentado de forma online.

Apesar de as oscilações típicas de um período comandado por incertezas em diversos setores, a produtora e uma das responsáveis pela Comunicação do teatro, Helena Costa afirma que o Theatro Municipal teve um bom alcance nas redes sociais. Ela diz que mesmo com uma comunidade maior no Facebook, o engajamento é muito mais expressivo no Instagram, que tende a ser o dobro. As estratégias para promover a interação com o público são diversas desde enquetes, entrevistas e hashtags, como “Eu no TMN”, convidando as pessoas para postarem fotos antigas no teatro. Um dos grandes desafios, segundo a produtora, é adaptar a linguagem para captar a atenção de um público mais jovem, já que o público fiel do teatro é formado por idosos.

O produtor e também um dos responsáveis pelas mídias sociais do teatro, Gustavo Martins, conta que a experiência de adaptação para o formato online foi bem desafiadora, porque até então, as redes sociais do teatro funcionavam apenas como divulgação do que estava acontecendo presencialmente.

– Foi necessário se reinventar. Começamos a enxergar o teatro de uma forma diferente e a repercussão tem sido boa. Acho que nosso desafio agora é mesclar toda a nossa programação cultural, ter um pouco do online com o presencial – explicou.

Planos para o futuro

Na programação do teatro, além da peça “Mona Canta Dalva” no formato online, a peça “Carnaval ou uma fantasia de amor” será exibida com a presença do público a partir de sexta-feira (14), com entrada franca. O ingresso poderá ser retirado a partir de segunda-feira pela Sympla. Serão quatro sessões e a programação pode ser acessada pelo Facebook e pelo Instagram. Em junho, a princípio, estão programados “Mona canta Linda Baptista”, “Tomba Orquestra”, com músicos de Niterói, “Clássicos do samba”, o “Yoga Música”. Em julho estão previstas uma apresentação da Orquestra da Grota e da Companhia de Ballet do Teatro Municipal.

A peça “Clássicos do samba” / Foto: Divulgação

História

O Theatro Municipal de Niterói foi construído no século XIX e passou por inúmeras reformas e melhorias ao longo dos anos. É localizado na Rua XV de Novembro, 35, no Centro de Niterói, no Rio de Janeiro.

O prédio foi totalmente restaurado entre 1992 e 1995 e passou pela mais completa e rigorosa restauração de que se tem notícia na história do patrimônio cultural brasileiro. Seu projeto de recuperação encarou um grande desafio: respeitar os aspectos históricos. Na fachada, foram mantidas as linhas arquitetônicas neoclássicas da reforma de 1888 e 1889 e, ao mesmo tempo, imprimindo um aspecto moderno.

COMPARTILHE