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Niterói celebra o Dia Mundial do Meio Ambiente com um paradoxo marcante. Enquanto a cidade sorriso se destaca por seus altos índices de saneamento, a baía que banha grande parte do seu litoral, compartilhada por 17 municípios e quase 10 milhões de habitantes, reflete duas realidades bem diferentes: trechos que respiram alívio com avanços no tratamento de esgoto e áreas que ainda são castigadas pelo despejo irregular de resíduos.
Apesar dos esforços e das iniciativas de limpeza, a Baía de Guanabara ainda recebe a impressionante marca de 18 mil litros por segundo de esgoto in natura. Segundo dados do Comitê de Bacias da Baía de Guanabara, embora dois terços do esgoto da região já sejam tratados, a poluição ainda é uma promessa a ser revertida.
Dados do Instituto Trata Brasil revelam que Niterói se posiciona como um dos maiores exemplos de saneamento no estado, com 95,5% do esgoto tratado. Esse índice coloca a cidade ao lado de Petrópolis (80,8%) como líderes no avanço do saneamento. Contudo, em outras 6 das 15 cidades da bacia hidrográfica, o tratamento de esgoto é inexistente, evidenciando o longo caminho a percorrer para a universalização do saneamento básico no Brasil, prevista para 31 de dezembro de 2033. Até lá, segundo a meta, 99% da população deve ter acesso à água tratada e 90% à coleta e tratamento de esgoto.
Em contraste com os desafios enfrentados em parte da baía, trechos da Zona Sul do Rio, como as praias do Flamengo e de Botafogo, já mostram sinais de recuperação, com rios desviados e tratados, devolvendo a tranquilidade para se banhar nessas áreas.
O Governo do Estado do Rio de Janeiro tem intensificado as ações para despoluir o cartão-postal fluminense. Nos últimos anos, a Baía de Guanabara deixou de receber cerca de cinco bilhões de litros de esgoto não tratado por mês. Essa redução, segundo o Governo do Estado, é resultado da implantação dos troncos coletores da Cidade Nova e de Manguinhos, obras realizadas por meio do Programa de Saneamento Ambiental dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (PSAM), coordenado pela Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade (SEAS).
Antes dessas intervenções, resíduos eram lançados sem tratamento nos canais do mangue, gerando décadas de impactos ambientais e de saúde pública, com aumento de bactérias e prejuízos à vida marinha da Baía de Guanabara. “Reduzimos em bilhões de litros o despejo de esgoto in natura, aliviando a carga sobre o meio ambiente e melhorando diretamente a qualidade de vida de centenas de milhares de pessoas”, declarou o governador Cláudio Castro, que prometeu ampliar as obras do programa para outras partes do estado.
Na Cidade Nova, foram instalados 4,1 km de troncos coletores, com capacidade para captar 700 litros de esgoto por segundo, direcionando o volume para a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Alegria. Em Manguinhos, a complementação do tronco coletor adicionou 4,45 km de tubulações, com capacidade para captar 1.293 litros de esgoto por segundo, o equivalente a 45 piscinas olímpicas de esgoto por dia.
O secretário de Estado do Ambiente e Sustentabilidade, Bernardo Rossi, destacou o PSAM como estratégico: “Temos alcançado avanços expressivos, que se refletem não apenas na melhoria da infraestrutura, mas principalmente na qualidade de vida da nossa população”, disse.
As intervenções em curso, ao contribuírem para a limpeza da Baía de Guanabara e reduzirem o risco de doenças de veiculação hídrica, abrem caminho para que cenas como a observação de um cardume de arraias na Praia das Flechas, vista na semana passada, se tornem mais frequentes.
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