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“Nunca vi uma situação assim. Pela extensão da enchente, e pelo drama que atinge os moradores, gente que perdeu tudo”, diz o coronel Wallace Medeiros, que acaba de chegar do Rio Grande do Sul, depois de uma semana trabalhando no resgate das vítimas, à frente de uma equipe da Defesa Civil de Niterói.
Foram 1.500 quilômetros de Niterói a Porto Alegre, dois dias de viagem, em pickups 4 x 4, que rebocavam dois jet skis e outros equipamentos de socorro, até a equipe de regaste da cidade, formada por oito especialistas no socorro em situações de emergência e seis voluntários, se juntar ao batalhão de solidariedade que atua nas áreas alagadas do Rio Grande do Sul. A equipe trabalhou na capital e também em Canoas e São Leopoldo.
O coronel Wallace, como é conhecido, apesar de toda a experiência em missões de resgate, em enchentes e outros desastres naturais, diz que nunca viu uma catástrofe igual. “A área tomada pela água é muito grande. Você percorre a cidade toda, as cidades vizinhas e está tudo alagado. Casas com água até o teto. E as pessoas deixando suas casas, sem poder carregar nada e sem ter para onde ir.”
A equipe de socorro de Niterói tem antecedentes no auxílio a emergências em outras cidades, pela organização e preparo para atuar nestas situações. “No grupo – explica o coronel -, temos engenheiros, meteorologistas, gente capaz de avaliar riscos e definir medidas de contenção de danos.” Em 2022, o grupo atuou nas enchentes na Bahia e em Pernambuco. No ano passado, em Petrópolis.
Assim que a chuva começou a invadir Porto Alegre e dar sinais da extensão dos danos, a Prefeitura mobilizou a Defesa Civil. O coronel destaca que a experiência da cidade no treinamento de voluntários para atuar em situações de emergência foi fundamental para a composição da equipe.
– O Gabriel Sampaio, que é surfista de ondas gigantes, recrutou amigos experientes no manejo de jet skis para atuar no resgate nas áreas alagadas. Levamos os jet skis e até um mecânico para ajudar no caso de embarcações com problemas – conta.
As situações encontradas emocionaram toda a equipe, numa semana de trabalho intensa no resgate de moradores. “Salvamos muita gente. E muitos animais também”. A cada viagem, era possível encontrar gentes nas casas alagadas, e às vezes destruídas, em muitos casos famílias separadas pela enchente.
– Não tem como ficar indiferente, quando você encontra uma mãe com três filhos no telhado de uma casa praticamente destruída. Tinha um bebê ainda de colo. A mãe suportou o quanto pode. Mas tinha que sair da casa, sabendo que deixava para trás, debaixo da água, tudo o que tinha – contou o Coronel Wallace.
O trabalho do grupo de Niterói se integrou as ações locais, ao esforço dos governo do estado e do governo federal. Uma solidariedade que o coronel destaca e faz questão de elogiar. De governos e voluntários. “Cada um fazia o que podia. No resgate. No acolhimento. Na alimentação. No coleta de doações…”
De volta a Niterói, o trabalho não termina. O grupo da Defesa Civil de Niterói vai continuar atuando nas ações de socorro, no planejamento logístico da coleta e distribuição de doações, que devem atender às necessidades da população desabrigada. Depois, ainda haverá um grande esforço de reconstrução das áreas mais castigadas pela chuva.
“Ninguém pode ficar fora da discussão das emergências climáticas.” Para o coronel Wallace, a situação climática, hoje, é conhecida, todos sabem os riscos provocados pelo aquecimento global, e o aumento de situações extremas. Ele entende que todo gestor, toda autoridade, precisa estar preparada para estas situações. Na prevenção, e na ação, quando necessário. Neste sentido, ele destaca o trabalho realizado em Niterói, com o desenvolvimento de planos de prevenção nas áreas de risco, que envolvem obras, a qualificação de profissionais, mas também a comunidade. “É preciso que todo mundo saiba o que fazer numa emergência.” Pelo visto, as emergências virão.
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