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Professor, historiador, ex-bancário, Cyro Garcia, de 68 anos, foi um dos fundadores do PT e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), na década de 1980. Se transferiu para o PSTU em 1994, ano da fundação do partido. Antes, em 1993, assumiu mandato de deputado federal por ser suplente de Jamil Haddad, que se tornou ministro da Saúde do então presidente da República Itamar Franco.
Garcia já se candidatou nove vezes para cargos executivos no Rio de Janeiro. Em 2018, disputou uma vaga para o Senado Federal. Seus programas de governo costumam girar em torno da estatização de bens e serviços. É essa a solução que aponta, agora, por exemplo, para melhorar o transporte, em Niterói.
– Nós vamos estatizar as barcas, colocar o sistema sob controle dos trabalhadores do transporte aquaviário e da população que utiliza o serviço através de Conselhos Populares – afirmou
Se eleito, disse que sua primeira providência, como governador do Rio de Janeiro será a suspensão imediata do pagamento da dívida pública, seguido de uma auditoria de todas as contas do Estado.
O senhor já concorreu em várias eleições, para cargos como de prefeito do Rio de Janeiro, Senador e, agora, Governador do Rio de Janeiro. Até então, suas propostas passam pela estatização de serviços. O senhor segue nessa linha de proposta? De onde virão os recursos para colocar essas ideias em prática?
– As minhas candidaturas estão sempre a serviço de apresentar o programa do meu partido, o PSTU, defendendo uma alternativa socialista e revolucionária. E seguimos defendendo a estatização com gestão operária, com o controle da máquina nas mãos dos trabalhadores, a serviço da população e não dos lucros de grandes empresários. Para isso é preciso um pente fino em todos os contratos, concessões e privatizações que foram feita, além da suspensão do pagamento e auditoria da dívida pública. E que a lei de responsabilidade fiscal seja substituída por uma política de responsabilidade social.
O estado do Rio enfrenta grave situação fiscal, estrangulado pelorefinanciamento de dívidas, com enormes demandas sociais e diante daretração da economia brasileira. Como pretende governar em uma situação de crise e emergência social? Qual a sua proposta para a reativação da economia? Que ações o governo do estado pode articular para o crescimento da atividade econômica?
– A suspensão do pagamento da dívida do Estado e a auditoria das contas públicas é uma medida fundamental. E a nossa proposta é a construção de um grande Plano de Obras Públicas, construído pelos trabalhadores através de Conselhos Populares, que atenda às diversas necessidades sociais de investimento em moradia, saúde, educação, infraestrutura, gerando emprego e renda para população.
Como o senhor pretende lidar com questões complexas como a Segurança?
– A política de Guerras às Drogas imposta pelos Estados Unidos à América Latina desde os anos 1970’ implicou no agravamento de um problema de saúde pública, no genocídio da juventude negra, em encarceramento em massa e uma escalada militar desastrosa. Nossa luta é para descriminalizar as drogas e tratar o vício como um problema de Saúde pública. Nós vamos combater o tráfico internacional de armas e drogas e a lavagem de dinheiro, colocando na cadeia aqueles que realmente lucram com os bilhões do comércio ilegal. E proteger a população pobre das periferias e favelas, vítimas de uma política que criminaliza a pobreza com a desculpa de combater o tráfico. Para isso defendemos uma polícia única, desmilitarizada, com a sua cadeia de comando escolhida por eleição, com direito de sindicalização e submetida à população através de Conselhos Populares.
A pandemia exigiu muito do sistema de Saúde e testou a eficiência da rede pública. O Sistema Único de Saúde representa uma proteção para a população do estado. Embora muitas vezes tenhamos testemunhado a precariedade do atendimento em grandes hospitais do Rio, com doentes expostos em macas no corredor e até sem conseguir vaga para internação de emergência. Qual o plano para uma área que tem sido castigada pela má administração dos recursos, com seguidos casos de corrupção e a prisão de administradores públicos? Como descentralizar os serviços e atender cidades que hoje contam apenas com socorro de ambulâncias?
– Em primeiro lugar é tirar a saúde da população das mãos daqueles que desejam apenas lucrar com ela. Vamos desprivatizar a saúde, acabar com as OSs e reativar os leitos ociosos. Nosso governo vai investir em prevenção e no acompanhamento da saúde da família, e também no atendimento à saúde mental, criando novos equipamentos e apoiando o município na sustentação de Clínicas da Família.
O estado tem enormes carências e os indicadores sociais mostram que até áreas que pareciam assistidas, como a Educação, patinam com resultados muito ruins, agravados pela crise da economia, que provocou a saída de muitos alunos das escolas particulares. É possível estabelecer metas e o compromisso de que todas as crianças terão escola e que a escola será capaz de oferecer qualificação para elas, e não apenas uma progressão sem conteúdo? Como fazer para atender à exigência de mercado de uma geração que encontrará ao sair da escola o mundo conectado, sem ter acesso à tecnologia na escola?
– É necessário uma escola que prepare o aluno não só como mão de obra para o mercado, mas que forneça uma formação cidadã que seja um alicerce para a vida. Nós vamos investir em educação em tempo integral, com formação crítica, garantindo a autonomia pedagógica e integrando escola e comunidades. É preciso que o aluno tenha na escola a estrutura necessária para se dedicar aos estudos, receba alimentação e cuidado com a saúde, tenha formação para seguir na vida acadêmica, profissional e em práticas esportivas.
Uma questão importante para o morador de Niterói. O transporte público se tornou um dos problemas mais graves do estado, com a crise da economia e, depois, a pandemia. Os serviços de trens urbanos, o metrô, as barcas Rio-Niterói e até os ônibus se mostraram deficitários, nos municípios e nos estados. Só a CCR Barcas cobra uma dívida do estado de mais de R$ 1 bilhão. Técnicos do estado já sentenciaram que o “sistema” está falido. O que o senhor pretende fazer sobre isto? O estado vai subsidiar os transportes públicos? O que vai acontecer com as barcas?
– As barcas são sistema de transporte de massas eficiente e com um potencial enorme de expansão, que recebendo o devido investimento, pode ajudar a desafogar o trânsito em vários pontos do Estado e aumentar em muito a qualidade de vida do trabalhador fluminense. Nós vamos estatizar as barcas, colocar o sistema sob controle dos trabalhadores do transporte aquaviário e da população que utiliza o serviço através de Conselhos Populares. Investir em novas linhas, a partir do Gradim, em São Gonçalo, por exemplo. É necessário e urgente expandir o transporte aquaviário e sobre trilhos no Rio de Janeiro, sob controle do Estado, atendendo os interesses dos trabalhadores, e não ao lucro dos empresários.
Qual será a principal atribuição da vice-governadora, no dia-a-dia da sua eventual administração?
– Nossa proposta para a administração como um todo é revolucionária e a Samantha Guedes, minha candidata à vice, terá um papel fundamental. Nós vamos descentralizar o poder do governo entregando-o na mão da classe trabalhadora através dos Conselhos Populares. É o povo pobre e trabalhador do nosso Estado que tomará as decisões fundamentais sobre o quê, quando e como. E a Samantha e eu nos dedicaremos à construção desses Conselhos.
Em relação a Niterói, o que considera os principais problemas do município e quais seus planos para solucioná-los?
– Nosso grande desafio é reativar a economia do Estado, que passa por reanimar e fortalecer a indústria naval, que é uma vocação do nosso Estado, e na qual Niterói tem uma participação de grande relevância. Também vamos gerar emprego e renda na cidade investindo no turismo e dando apoio na produção de pescado. Além de investimentos em transporte, infraestrutura e moradia.
Niterói tem um laço forte com a história e a obra do pintor Antônio Parreiras, que manteve na cidade uma escola de Artes, em sua casa e ateliê, no século passado. É o endereço do Museu Antônio Parreiras, um equipamento que pertence ao governo do estado e que está fechado há mais de dez anos, privando o público de dos mais importantes acervos do país. Qual o plano do seu governo para o Museu Antônio Parreiras?
– Nosso projeto é discutir com a população a alocação de recursos, a realização de reformas e o investimento em aparelhos culturais, através dos Conselhos Populares, em um Plano de Obras Públicas. Instituições como o Museu Antônio Parreiras precisam ser recuperadas e aproveitadas com todo o seu potencial para a pesquisa, para o turismo e educação.
As pesquisas de intenção de votos aponta, desde o início, um empate entre dois candidatos: Cláudio Castro e Marcelo Freixo. Em caso de um segundo turno, como pretende se posicionar?
– Pretendo disputar o segundo turno e, em um eventual cenário em que não seja eu o candidato, vamos discutir em nosso partido qual a alternativa que mais fortalece a construção da luta da classe trabalhadora para então nos posicionarmos pelo voto em um dos candidatos ou pelo voto nulo. Mas no momento nosso foco é na busca de votos para a nossa candidatura.
Caso o senhor seja eleito, qual será seu primeiro ato de governo?
– A suspensão imediata do pagamento da dívida pública, e a auditoria de todas as contas do Estado. A primeira coisa que precisamos fazer é mobilizar os recursos para os investimentos que nosso Estado tanto necessita.
Qual considera o maior desafio que irá enfrentar caso se torne governador do Rio de Janeiro, na execução do seu mandato?
– Certamente, o enfrentamento com a burguesia, com os bilionários que lucram com a crise e a miséria dos trabalhadores fluminenses, cujos interesses nós enfrentaremos diretamente.
Por que quer ser governador do Rio de Janeiro?
– Para contribuir com a auto-organização e a luta da classe trabalhadora na luta pela construção do socialismo.
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