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Niterói na mira dos golpistas: crimes de estelionato cresceram 68% em 2022

Por Gabriel Mansur
| aseguirniteroi@gmail.com

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Idosos são os alvos principais. Golpes mais praticados são o esquema de pirâmides, crédito consignado e falso cartão clonado
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Muitos golpes são praticados pela Internet ou celular. Foto: Pixabay

Os idosos são mais vulneráveis a golpes e fraudes na Internet e no celular, conforme pesquisa da Kaspersky, especializada na produção de softwares de segurança à Internet. A empresa explica que o público da terceira idade não costuma ter muito conhecimento sobre segurança na web e tem mais dificuldade para diferenciar uma fraude de algo legítimo, o que os transforma em alvos mais visados dos crimes que configuram o estelionato.

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Niterói é uma prova desse estudo. Na cidade onde cerca de 100 mil pessoas têm mais de 60 anos, o que representa 20% da população, esse tipo de crime ocorre com frequência. Somente em janeiro de 2023, a título de exemplo, 493 casos foram registrados, o que representa um aumento de 12% em relação ao mesmo período de 2022. No ano passado, foram 5.978 ocorrências, contra 3.551 de 2021; um crescimento de 68%. São 16 casos por dia, mais de um a cada duas horas.

Em entrevista recente ao jornal O Globo, o Professor de sociologia e coordenador do Grupo de Estudos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF), Daniel Hirata, destacou que o aumento é muito expressivo, já que, segundo ele, trata-se de um crime que costuma ser pouco notificado.

– Todos os crimes são subnotificados, normalmente, mas o estelionato, em particular, é bastante subnotificado, porque muitas vezes a pessoa tem vergonha de fazer o registro ao se sentir enganada. É a quebra da autoimagem, e os estelionatários contam com isso, inclusive. Muitas vezes ele não desaparece da vida da vítima; então chama a atenção esse aumento das notificações – contou.

Ainda segundo o especialista, a composição demográfica e a renda da população idosa da cidade, com poder aquisitivo alto, também podem influenciar no aumento de casos de estelionato. Em sua opinião, como a pandemia da Covid-19 acelerou o processo de informatização, esse novo ambiente criou mais oportunidades para os criminosos.

– Há um efeito de imitação entre os próprios criminosos quando percebem que determinada prática está funcionando. Dependendo do tipo, é importante saber quais são as vulnerabilidades que estão aparecendo, sobretudo nos crimes digitais. Bancos estão sempre renovando seus sistemas de proteção; empresas de segurança estão atentas às falhas que geram vulnerabilidade dos clientes. As transações financeiras são muito facilitadas; a informatização é por um lado muito prática, mas gera uma série de problemas – observou, ao completar:

– É preciso ter muita atenção, desconfiar de ligações e mensagens de desconhecidos e, em caso de celular furtado, tomar medidas com relação às contas, aos contatos – concluiu.

As maiores incidências

De acordo com a Polícia Civil, a maior incidência dessa atividade criminosa ocorre devido ao esquema de pirâmides financeiras, que voltou com uma aparência renovada após a pandemia. A PC informa que, no ato ilegal, os criminosos convencem vítimas com falsas ilusões de lucro por meio de práticas como o investimento no mercado financeiro, criptomoedas e trading esportivo.

Outro estelionato que aumentou foi o golpe do cartão clonado. Nessa modalidade, o criminoso se passa por um funcionário do banco, liga para a vítima e alerta que o cartão precisa ser bloqueado. Os bandidos ainda pedem que a vítima corte o cartão no meio sem que o chip seja prejudicado. Em seguida, o falso funcionário pede dados pessoais, incluindo a senha, alegando que essas informações serão necessárias para iniciar o bloqueio.

Uma dessas vítimas é a aposentada Rita Monteiro, de 74 anos. Ela conta que, no início do ano passado, recebeu uma ligação de uma pessoa se passando por gerente de seu banco informando que seu cartão havia sido clonado. Moradora do bairro São Lourenço, Rita passou informações pessoais, como a senha do seu cartão, sem que tivesse notado que era um golpe. Ela relata ter sofrido um prejuízo de R$ 4 mil.

– Todo o procedimento é feito de forma muito planejada por eles, tudo parece ser verdade. A pessoa que liga é super prestativa e te explica todo o procedimento. Entretanto, tudo não passa de uma estratégia criminosa que só vemos o prejuízo depois que eles buscam o cartão – contou.

O terceiro golpe mais praticado no município é o empréstimo consignado, em que funcionários públicos são vítimas de uma quadrilha que oferece rentabilizar saldos de empréstimos consignados por meio de investimentos no mercado financeiro. As principais vítimas são idosos e pensionistas da Previdência Social de Niterói e também de São Gonçalo.

Caso recente

Em 13 de janeiro, cinco pessoas acabaram presas por policiais civis da 76ª DP por suspeita de aplicarem o golpe do crédito consignado. Segundo a Polícia, a quadrilha trabalhava como telemarketing em uma sala no Centro da cidade, que funcionava como uma espécie de empresa intermediadora de empréstimos consignados.

Segundo as investigações, os criminosos faziam empréstimos em nome das vítimas e tinham um roteiro, como uma cartilha, do que deveriam dizer aos alvos das abordagens. A quadrilha usava palavras comuns usadas por atendentes de telemarketing.

Um integrante do grupo se apresentava como funcionário de um suposto setor de análise e cancelamento. O atendente alegava, pelo menos, dois motivos para entrar em contato: um suposto cartão consignado confeccionado em nome da vítima ou o desconto de uma quantia indevida da aposentadoria delas, mas afirmava que esse dinheiro podia ser recuperado.

O roteiro que os integrantes do grupo seguiam tinha, como principal objetivo, transmitir para as vítimas um ar de normalidade e deixar as vítimas preocupadas. Na cartilha havia ainda orientação possíveis argumentações quando a pessoa recusava o serviço.

– A partir de uma estrutura de call center, é feito o contato telefônico, onde são apresentadas falsas narrativas com a apresentação de benefícios diversos como: resgate de descontos indevidos de INSS, disponibilização de cartões bancários ou ainda a acessão de débitos com redução de juros – disse a delegada Natacha Oliveira.

As provas coletadas pelos agentes mostram que os integrantes do grupo já possuíam os dados pessoais das vítimas antes mesmo de efetuar as ligações. A quadrilha obtinha essas informações através da internet, num banco de dados de beneficiários do INSS. E ligavam para as vítimas usando um programa de discador de números.

Segundo a polícia, quando a vítima chegava ao escritório, entrava em ação a segunda parte do golpe. As vítimas tinham de preencher uma ficha, assinar o documento e tirar uma foto segurando a carteira de identidade. Com estas informações, os presos na ação policial contratavam empréstimos, deixando a vítima endividada. Uma das vítimas relatou aos agentes que teve um prejuízo de R$ 40 mil.

A situação nos bairros

Somente na região da 77ª DP, que abrange os bairros de Icaraí, Santa Rosa, Vital Brasil, Pé Pequeno, Viradouro e Cubango, o número de registros em janeiro deste ano saltou para 158, contra 108 no ano passado, o que significa 46% a mais.

Na região da 78ª DP, compreendendo os bairros de Fonseca, Viçoso Jardim, Caramujo, Baldeador, Santa Bárbara, Tenente Jardim, Engenhoca, Santana e Barreto, o aumento foi da ordem de 36%. Subiu de 47, em janeiro de 2022, para 64, em janeiro último. Ao mesmo tempo, o aumento foi de 18% na 76ª DP, que abrange especialmente o Centro da cidade. Subiu de 146 para 173.

Já na região da 79ª DP, que compreende os bairros de São Francisco, Charitas, Jurujuba, Cachoeiras, Maceió, Largo da Batalha, Ititioca, Badu, Sapê, Matapaca, Vila Progresso, Muriqui, Maria Paula e Cantagalo, o número de casos diminuiu 6% no período. Foi de 48 em janeiro do ano passado para 45 em 2022.

Na região da 81a DP, compreendendo os bairros de Itaipu, Camboinhas, Itacoatiara, Piratininga, Cafubá, Jacaré, Rio do Ouro, Engenho do Mato, Várzea das Moças e Jardim Imbuí, diminuiu 5%. Caiu de 74 para 70.

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