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A imagem faz parte da paisagem de Niterói e durante muito tempo foi o símbolo da cidade, seu melhor cartão postal: a pedra de Itapuca. A “pedra furada”, do tupi-guarani, aparece em pinturas, fotografias históricas e até no brasão da cidade. E foi tombada em 1985 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural.
Quem mora na cidade já ouviu muitas histórias sobre a pedra fincada na curva da praia das Flechas. Um conto que agora ganha forma e será contado em “Itapuca, O Musical”, que estreia dia 14 de março no Theatro Municipal de Niterói. Será o maior espetáculo teatral concebido e construído na cidade de Niterói, com mais de 50 pessoas envolvidas.
Segundo a lenda, um casal de jovens indígenas, Cauby e Jurema, vivia um amor proibido. Ao serem perseguidos e encurralados, com medo do que poderia acontecer, pediram ao deus Tupã (da mitologia tupi-guarani) que o amor entre os dois fosse eternizado. Para realizar isso, Tupã transportou-os para dentro da pedra de Itapuca, onde estão juntos até hoje.
Diretor da peça, o dramaturgo Marllos Silva explica como surgiu o interesse inicial em contar essa história no teatro, apresentada a ele pelo diretor executivo da peça, Fabrizio Sassi.
– Quando eu vi a história de Itapuca, eu olhei e falei assim: ‘isso aqui seria uma história interessantíssima’. O Fabrizio encampou a ideia e falou “vamos produzir isso, porque acho que realmente é uma coisa interessante pra cidade, interessante como elemento teatral -, revela o dramaturgo.
A lenda ganhou forma pela primeira vez em 1944, escrita por Alvarus de Oliveira, na revista “O Malho”. Naquele momento, o autor retratou a história com um casal formado por duas pessoas indígenas, mas de “nações” diferentes, o que, na época, possuía uma conotação diferente.
Considerando esse fato e buscando explorar a diversidade presente no Brasil e nas formas de isso gerar identificação entre os povos, a peça apresenta algumas diferenças em relação ao conto original.
– O que estamos fazendo nessa proposta é dar um segundo olhar pra lenda. Pensamos em trazer a diversidade da formação do DNA da população brasileira, então fizemos algumas alterações. O que a gente fez na nossa versão é apresentar Cauby como um homem negro, que foi escravizado e fugiu de uma fazenda que fica no Rio de Janeiro. Isso traz uma identificação entre Cauby e Jurema, que é encarar a beleza da diferença entre os dois: Cauby, um homem negro, e Jurema, uma mulher indígena -, conta o diretor.
Para gerar mais identificação com a história e representatividade, a direção promoveu audições com preferência para a diversidade. Dentre os atores, estão, inclusive, três indígenas das aldeias Xukuru (Pernambuco) e Maracanã (Rio). Uma outra preocupação na produção da peça foi contar com a consultoria de José Bessa, estudioso das línguas indígenas com mais de 20 livros publicados.
A trilha sonora do musical foi especialmente composta para a peça por Elton Towersey, experiente músico niteroiense. A intenção foi trazer elementos sonoros específicos para cada personagem. Para cada um deles, foi criada uma trilha sonora, com o intuito de gerar imersão no universo de cada personagem, retratando ainda mais a diversidade da cultura brasileira.
– A gente traz elementos da música de Portugal pra Maria Antonieta (personagem portuguesa), elementos da música africana pro Cauby e elementos da música indígena pra Jurema. Quando eles cantam todos juntos, você ouve essa miscelânea de sons em algumas canções e você percebe ‘aqui tem uma flauta indígena, aqui tem um tambor africano, aqui tem um acordeão português’, aí você vai falar assim: ‘isso aqui é uma música brasileira’. Aí a gente também percebe o quanto a cultura brasileira é influenciada dentro da música, em palavras, em falas… – explica Marllos.
Os figurinos do espetáculo foram feitos de forma artesanal, e todos os adereços foram construídos por aldeias indígenas. Os grafismos corporais são feitos por Sandro Okroá, artista plástico indígena do Maranhão, que hoje vive na Aldeia Maracanã.
Fabrizio Sassi, diretor executivo do espetáculo, conta que, após a realização da peça na cidade sorriso, que é a única cidade do Brasil fundada por um indígena (Arariboia), a intenção é levar o espetáculo construído em Niterói também para outras cidades.
– A ideia começou por Niterói. Apresentar aqui. Mas a ideia também é circular, levar Niterói pra fora. Fazer um caminho um pouco contrário, porque Niterói recebe muito – revela Fabrizio.
Marllos acredita que o espetáculo, além de contar uma história relevante para a cidade, pode ajudar as pessoas que não conhecem Niterói a se familiarizarem mais com a cidade. Ele cita o exemplo de Nova Iorque nos filmes.
– Todo mundo que vai pra Nova Iorque pensa assim: ‘nossa, eu conheço a Estátua da Liberdade, eu conheço isso aqui, aquilo ali’. Tem uma sensação de que você já conhece a cidade, por causa dos filmes que se passam em Nova Iorque. Quando a gente conta a história da pedra de Itapuca, as pessoas podem querer vir a Niterói e não apenas querer visitar o MAC, mas também querer ver a pedra de Itapuca – , conta o diretor.
“Itapuca, O Musical” estreia no dia 14 de março, quinta-feira, no Theatro Municipal de Niterói, e será exibida até o dia 24 de março. Os ingressos vão de R$10 (para moradores ou nascidos em Niterói) a R$30 (inteira).
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