Niterói por niterói

Pesquisar
Close this search box.
Publicado

Conto da Itapuca ganha vida em espetáculo no Theatro Municipal de Niterói

Por Gustavo Senna
| aseguir@gmail.com

COMPARTILHE

“Itapuca, O Musical” estreia no dia 14 de março e já tem algumas sessões esgotadas
Conto da Itapuca
Musical será o maior espetáculo concebido e realizado em Niterói. Fotos: divulgação

A imagem faz parte da paisagem de Niterói e durante muito tempo foi o símbolo da cidade, seu melhor cartão postal: a pedra de Itapuca. A “pedra furada”, do tupi-guarani, aparece em pinturas, fotografias históricas e até no brasão da cidade. E foi tombada em 1985 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural.

Quem mora na cidade já ouviu muitas histórias sobre a pedra fincada na curva da praia das Flechas.  Um conto que agora ganha forma e será contado em  “Itapuca, O Musical”, que estreia dia 14 de março no Theatro Municipal de Niterói. Será o maior espetáculo teatral concebido e construído na cidade de Niterói, com mais de 50 pessoas envolvidas.

Tupã e a Itapuca

Segundo a lenda, um casal de jovens indígenas, Cauby e Jurema, vivia um amor proibido. Ao serem perseguidos e encurralados, com medo do que poderia acontecer, pediram ao deus Tupã (da mitologia tupi-guarani) que o amor entre os dois fosse eternizado. Para realizar isso, Tupã transportou-os para dentro da pedra de Itapuca, onde estão juntos até hoje.

Diz a lenda que o casal vive junto dentro da pedra até hoje.

Diretor da peça, o dramaturgo Marllos Silva explica como surgiu o interesse inicial em contar essa história no teatro, apresentada a ele pelo diretor executivo da peça, Fabrizio Sassi.

Quando eu vi a história de Itapuca, eu olhei e falei assim: ‘isso aqui seria uma história interessantíssima’. O Fabrizio encampou a ideia e falou “vamos produzir isso, porque acho que realmente é uma coisa interessante pra cidade, interessante como elemento teatral -, revela o dramaturgo.

Nações diferentes

A lenda ganhou forma pela primeira vez em 1944, escrita por Alvarus de Oliveira, na revista “O Malho”. Naquele momento, o autor retratou a história com um casal formado por duas pessoas indígenas, mas de “nações” diferentes, o que, na época, possuía uma conotação diferente.

Considerando esse fato e buscando explorar a diversidade presente no Brasil e nas formas de isso gerar identificação entre os povos, a peça apresenta algumas diferenças em relação ao conto original.

O que estamos fazendo nessa proposta é dar um segundo olhar pra lenda. Pensamos em trazer a diversidade da formação do DNA da população brasileira, então fizemos algumas alterações. O que a gente fez na nossa versão é apresentar Cauby como um homem negro, que foi escravizado e fugiu de uma fazenda que fica no Rio de Janeiro. Isso traz uma identificação entre Cauby e Jurema, que é encarar a beleza da diferença entre os dois: Cauby, um homem negro, e Jurema, uma mulher indígena -, conta o diretor.

O espetáculo

Para gerar mais identificação com a história e representatividade, a direção promoveu audições com preferência para a diversidade. Dentre os atores, estão, inclusive, três indígenas das aldeias Xukuru (Pernambuco) e Maracanã (Rio). Uma outra preocupação na produção da peça foi contar com a consultoria de José Bessa, estudioso das línguas indígenas com mais de 20 livros publicados.

Dentre os atores estão três indígenas das aldeias Xukuru (Pernambuco) e Maracanã (Rio).

A trilha sonora do musical foi especialmente composta para a peça por Elton Towersey, experiente músico niteroiense. A intenção foi trazer elementos sonoros específicos para cada personagem. Para cada um deles, foi criada uma trilha sonora, com o intuito de gerar imersão no universo de cada personagem, retratando ainda mais a diversidade da cultura brasileira.

A gente traz elementos da música de Portugal pra Maria Antonieta (personagem portuguesa), elementos da música africana pro Cauby e elementos da música indígena pra Jurema. Quando eles cantam todos juntos, você ouve essa miscelânea de sons em algumas canções e você percebe ‘aqui tem uma flauta indígena, aqui tem um tambor africano, aqui tem um acordeão português’, aí você vai falar assim: ‘isso aqui é uma música brasileira’. Aí a gente também percebe o quanto a cultura brasileira é influenciada dentro da música, em palavras, em falas… – explica Marllos.

Os figurinos do espetáculo foram feitos de forma artesanal, e todos os adereços foram construídos por aldeias indígenas. Os grafismos corporais são feitos por Sandro Okroá, artista plástico indígena do Maranhão, que hoje vive na Aldeia Maracanã.

Niterói e outras cidades

Fabrizio Sassi, diretor executivo do espetáculo, conta que, após a realização da peça na cidade sorriso, que é a única cidade do Brasil fundada por um indígena (Arariboia), a intenção é levar o espetáculo construído em Niterói também para outras cidades.

A ideia começou por Niterói. Apresentar aqui. Mas a ideia também é circular, levar Niterói pra fora. Fazer um caminho um pouco contrário, porque Niterói recebe muito – revela Fabrizio.

Marllos acredita que o espetáculo, além de contar uma história relevante para a cidade, pode ajudar as pessoas que não conhecem Niterói a se familiarizarem mais com a cidade. Ele cita o exemplo de Nova Iorque nos filmes.

Todo mundo que vai pra Nova Iorque pensa assim: ‘nossa, eu conheço a Estátua da Liberdade, eu conheço isso aqui, aquilo ali’. Tem uma sensação de que você já conhece a cidade, por causa dos filmes que se passam em Nova Iorque. Quando a gente conta a história da pedra de Itapuca, as pessoas podem querer vir a Niterói e não apenas querer visitar o MAC, mas também querer ver a pedra de Itapuca – , conta o diretor.

Serviço

“Itapuca, O Musical” estreia no dia 14 de março, quinta-feira, no Theatro Municipal de Niterói, e será exibida até o dia 24 de março. Os ingressos vão de R$10 (para moradores ou nascidos em Niterói) a R$30 (inteira).

COMPARTILHE