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Foi uma conquista marcante, como toda primeira vez que se alcança um sonho de longa data. A Acadêmicos de Niterói, nova campeã na Série Ouro, garantiu a vaga no Grupo Especial do Carnaval carioca em 2026 e conversou com o A Seguir: Niterói para contar os bastidores do título, que teve sua coreografia toda inspirada nos movimentos juninos, mas que também trouxe referências de jazz e dança moderna.
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No desfile na Sapucaí, a azul e branca transformou a passarela do samba em um grande arraiá ao falar sobre as festividades juninas de Maracanaú, no Ceará, onde acontece um dos maiores São João do mundo. A escola fez um desfile alegre, baseado em alguns pilares do povo brasileiro: festa, fé, cultura e diversão.
O coreógrafo da Comissão de Frente da escola, Fábio Batista, produtor de festa junina há mais de dez anos, podia ter optado pela zona de conforto se não fosse seu incômodo pelo que é fácil, mas resolveu adentrar em uma longa pesquisa, encabeçada por ele mesmo, para sair um pouco do esteriótipo da cultura nordestina.
– Eu queria sair um pouco daquele conceito de famílias nordestinas que parecem estar migrando para o Sudeste sempre fugindo de uma estrutura precária de moradia, emprego e oportunidade.
Foi quando ele teve a ideia de trazer a história de uma família que tivesse vindo de Maracanaú para o Rio de Janeiro que trouxesse o legado cultural nordestino: a comida, a dança, a música, que flerta com a cultura do Sudeste e culmina em uma cultura de fusão, que carrega muito da contribuição nordestina.
– A gente formatou a ideia de ter um carro, uma alegoria com pau de arara lúdico, que traz toda essa referência da cultura nordestina como bagagem. Eles não trouxeram trapos, nem roupas e restos de alguma coisa como ele costuma ser configurado. Eles trouxeram as referências da música, da dança, da culinária e dos gestos. Para maximizar a ideia, nos inspiramos no grupo de teatro Mambembe, que circula em cidades pequenas. Quando a carroceria do caminhão se abre, ela vira um grande palco de um teatro Mambembe, representando esses nordestinos que vieram para o Sudeste.
Fábio conta que todo o elenco foi escolhido em setembro de 2024, com o início dos trabalhos em outubro.
As etapas foram: desenvolvimento de todo o conceito da coreografia, com os seus trejeitos que muito flertam com o trabalho circense e Mambembe, linha de teatro escolhida, e depois começa-se a se pensar no figurino e na maquiagem.
– Eu acho que o segredo do sucesso foi o engajamento de toda a equipe. Com a chegada da equipe técnica, responsável pelos urdimentos de abrir e fechar o bagageiro do caminhão. E pensamos muito que esse movimento fosse sanfonado, que é um instrumento simbólico na cultura nordestina, principalmente no forró.
Já o figurino foi pensado pelo carnavalesco Thiago Martins. A proposta foi pautada em algo que ficasse entre o teatral e as referências da França, para dialogar com a dança da quadrilha que tem inspirações francesas. Mas ao mesmo tempo, sem deixar de lado os traços do nordestino, como o chapéu de palha e a própria concepção de maquiagem.
– Eu e Thiago somos de quadrilha, então estamos falando de um lugar que é próprio nosso e nós também somos do Carnaval, então acho que isso foi muito interessante para o cruzamento dessas duas experiências. Foi tudo muito amarradinho, pensado e justificado. Um trabalho muito gostoso de fazer.
O enredo da Acadêmicos de Niterói trouxe as origens deste folguedo popular e a história de uma das festas mais populares do Brasil. Esse caminho se inicia nas festanças nos salões nobres da Europa, até chegar ao nosso país, com a transformação em um cortejo religioso extremamente popular de norte a sul, especialmente nos estados nordestinos.
A escola desfilou com o enredo “Vixe Maria”, batendo a Porto da Pedra, de São Gonçalo, que aparecia entre as favoritas, tendo ganhado o Estandarte de Ouro do jornal O Globo.
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