Conheça Gabriel Sampaio, surfista das ondas gigantes de Nazaré e bicampeão do Itacoatiara Big Wave

A 13ª edição do Itacoatiara Pro — festival voltado para a prática de esportes radicais ao ar livre — reúne nomes de peso. O evento traz novamente campeonatos de bodyboard, bodysurf, surfe, skate e ciclismo, com a presença de atletas que se destacam no cenário internacional. Um desses atletas é o surfista Gabriel Sampaio, pernambucano de 28 anos e morador de Niterói desde os 9 anos.

— Sempre sonhei com um evento desse porte aqui e acredito que uma grande referência seja o US Open na Califórnia. Niterói é um celeiro de grandes talentos, e conectar isso à beleza da cidade, junto com esportes e música, é simplesmente perfeito — destacou.

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O A Seguir conversou com o surfista que participa do festival ao lado de grandes nomes como Pedro Scooby, Lucas Chumbo e Kalani Lattanzi. As categorias de surfe e o bodysurf serão disputadas entre os dias 12 e 15 de junho, na Praia de Itacoatiara.

A organização estima que o evento tenha mobilizado mais de 30 mil pessoas desde o início, transformando Niterói em palco de uma grande celebração ao esporte, à cultura urbana e à inclusão.

As provas de surfe e bodysurf seriam realizadas em dias diferentes, mas, para aproveitar as condições do mar, os campeonatos serão disputados em um mesmo dia até sábado. No domingo que vem, um passeio ciclístico encerrará o festival, a partir das 8h. Aberto para todos os ciclistas da cidade, o percurso vai da Praia de São Francisco até a orla de Piratininga.

O surfe e Niterói: paixão desenfreada

Morador de Itacoatiara, Gabriel aprendeu a surfar em Gaibu (Cabo de Santo Agostinho) e frequentava muito a praia de Porto de Galinhas e Maracaípe (ambas em Ipojuca). Em 2024, ajudou no resgate de vítimas das enchentes do Sul do Brasil, usando jet skis para chegar onde ninguém mais conseguia.

No fim de janeiro desse ano, Gabriel teve de encarar o maior desafio de sua carreira: surfar as ondas gigantes de Nazaré, em Portugal, em meio à tempestade Hermínia, que atingiu diversos países da Europa, causando estragos jamais registrados nos últimos 40 anos.

A onda que Gabriel surfou tinha 17 metros de altura, segundo a rede de boias do Instituto Hidrográfico de Portugal. Ele contou que teve que manter a calma durante a execução e após a manobra, quando a onda praticamente o “engoliu”.

Mas o episódio tenso não o abateu para os próximos desafios: esse ano ainda quer tentar surfar no Havaí ou no Taiti. “Tenho me organizado para isso na próxima temporada”, contou.

A paixão pelo surfe é genética. Seu pai era surfista, sempre foi apaixonado e sua mãe também surfava. Além de praticarem o esporte, a paixão que seu pai sempre demonstrava ao falar sobre surfe, ou quando ia surfar, o contagiou. Hoje, Sampaio é bicampeão do Itacoatira Big Wave e coleciona um arsenal de histórias e vivências que pix nenhum paga.

É daqueles encontros que acontecem desde cedo, na sua formação ainda como criança. O primeiro contato com o surfe foi em águas pernambucanas, quando tinha apenas três anos. Há dez temporadas ele bate o ponto nas ondas gigantes de Nazaré.

— A temporada em Nazaré é sempre intensa, com a gente buscando extrapolar nossos limites o tempo todo. Voltei muito realizado, pois além de surfar em condições clássicas quase toda a temporada, participei de um documentário incrível sobre saúde mental feito junto com minha patrocinadora, a Global Med. Além disso, estou na disputa pela maior onda surfada no mundo na temporada 24/25. Já tive o meu tempo de descanso e agora estou de volta à minha rotina de treinos a todo vapor.

Por falar em rotina de trabalho, os dias de descanso são quase inexistentes. Quando vai ao mar é sempre com o intuito de surfar, independente de como estão as ondas. Fora d’água, costumar ir a um  espaço que oferece musculação, circuito de areia, treinamento funcional e circuito, o que é ótimo, pois fica perto de Itacoatiara e isso otimiza o seu tempo.

Segue com rigor o protocolo da Athlete e conta com o treinador Allan Menache, que ajusta os seus treinos de acordo com suas competições e os swells. Ao fim do dia, tem o hábito de enviar um relatório sobre sua recuperação, sono e humor. O objetivo é conseguir manter os treinos constantes e seguir evoluindo sempre.

Parceria

No surf de ondas grandes, Gabriel conta que é comum ter uma relação próxima entre os surfistas. Isso acontece não apenas por ser um esporte em equipe, mas também porque durante muitas competições, uma equipe pode depender da outra para garantir que todos saiam em segurança da sessão. Essa troca e proximidade são fundamentais para o sucesso e a segurança de todos.

— Além da minha modalidade, algo especial na minha relação com o Itacoatiara Pro é que fui apresentado a Nazaré pelo Dino Carmo, um português que veio competir aqui alguns anos atrás. Ele, sendo amigo de alguns dos meus amigos, acabou se hospedando em minha casa. Hoje, após 10 anos, nos tornamos como família.

Saúde mental em dia

Gabriel conta que a experiência que adquiriu ao longo dos anos como surfista de ondas gigantes me ensinou muito sobre autoconhecimento e a importância de respeitar meu tempo, corpo e mente.

— Estar em contato com a natureza, especialmente no mar, é algo que realmente me faz bem. Além disso, estar cercado por pessoas que amo e admiro é crucial para manter meu equilíbrio. Em relação à ansiedade, especialmente antes de competições ou de enfrentar grandes swells, sempre é um desafio. Mas aprendi que o que realmente me ajuda é a confiança de saber que, a cada dia de treino, dei o meu melhor. Nada será diferente do que mentalizei e treinei. Essa compreensão me proporciona uma calma interior, permitindo enfrentar os desafios com mais serenidade.

As famosas swells

A palavra swell vem do idioma inglês e representa um fenômeno meteorológico capaz de gerar grandes ondas.

Geralmente, as ondas são formadas pela ação dos ventos na superfície dos mares, lagoas e oceanos. Mas quando ocorre um swell, ele é causado por uma tempestade em alto mar. A pressão exercida pela tempestade na superfície da água forma um centro, em torno do qual as ondas se propagam de dentro para fora e podem percorrer longas distâncias, tornando-se maiores quando o mar fica raso, formando grandes ondas na costa.

Não é todo pico que pode receber um grande swell com condições de surf. Vai depender de outros fatores, por exemplo: a distância onde a onda quebra, o formato da onda, a corrente, entre outros.

Gabriel explica o que é o swell para os leigos:

“As ondulações se formam quando ventos sopram sobre os oceanos, criando pistas de energia que viajam até a costa. Quanto mais distantes e energéticas forem essas ondulações em relação à costa, mais fortes e bem definidas serão quando chegarem. Em locais com fundo de areia, a qualidade das ondas depende da formação dos bancos de areia, da direção da ondulação e das condições do vento no momento em que as ondas chegam”.

O vento ideal sopra da terra para o mar, conhecido como vento “offshore” ou o famoso “terral”. Já em áreas com fundo de pedra, a consistência é maior, pois o formato do fundo não muda, proporcionando uma formação de ondas mais previsível e regular.

Sobre o Itacoatiara Pro

O que é?

O Itacoatiara Pro é um dos maiores eventos de esportes ao ar livre do país. O festival combina competições esportivas de alto nível com música, arte, educação ambiental e ações de impacto social. A entrada é gratuita mediante a doação de 1kg de alimento não-perecível.

Quando?

O festival começou no dia 30 de maio e vai até o dia 15 de junho.

Shows e atividades socioambentais

Além do esporte, o Itacoatiara Pro se destaca por sua programação cultural e socioambiental. Shows gratuitos, DJs e espaço gastronômico oferecem outras experiências de entretenimento para o público.