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Comunidade de moradores de favelas em Niterói pode chegar a 85 mil no Censo do IBGE

Por Redação
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Comunidades de Niterói representam 16,33% da população da cidade; mais do que Valença, Casimiro de Abreu ou Paraty
Jovens de comunidades de Niterói podem se inscrever no Favela Inova. Foto- Emusa
Pesquisa do Data Favela mostra que se as favelas brasileiras formassem um estado, seria o terceiro maior do Brasil em população.

O crescimento das favelas no Brasil deve ser um dos dados que vai aparecer nos resultados do Censo do IBGE. É o que antecipa uma pesquisa apresentada pelo Data Favela, durante a Expo Favela 2023,  que estima que o número de favelas dobrou na última década, totalizando 13.151 comunidades mapeadas pelo país. De acordo com o estudo, existem 5,8 milhões de domicílios em favelas, com 17,9 milhões de moradores. Se as favelas brasileiras formassem um estado, seria o terceiro maior do Brasil em população.

A situação de Niterói não é melhor que a média do Brasil. Pelo contrário. A população das favelas de Niterói é maior que a média nacional e pode chegar a 85 mil moradores (de um total estimado pelo IBGE de 523.664 mil pessoas) – população maior do que a de municípios como Valença,  Casimiro de Abreu ou Paraty. Reunidos numa cidade, seria 0 34º em demografia entre os 92 municípios do estado do Rio.

Crescimento das favelas

O fundador do Data Favela, Renato Meirelles, explicou que o aumento da população em comunidades se deve ao custo de vida elevado nas cidades e a busca por uma moradia mais barata nos últimos anos.

-A favela é a concentração geográfica das desigualdades sociais, e muitas vezes o morador não encontra no emprego formal a oportunidade para desenvolver toda sua potencialidade. O morador da favela só vai conseguir ganhar mais do que dois salários mínimos se empreender dentro da favela. Assim, pode usar o seu potencial e fazer com que o dinheiro das favelas fique dentro das próprias favelas”, disse.

Para Meirelles, a pesquisa deixa claro que a retomada econômica do Brasil vai começar pela favela, um universo que representa 18 milhões de pessoas, que movimenta R$ 200 bilhões e tem na capacidade empreendedora sua matriz econômica. “Esse evento [concentração demográfica] é muito importante para acabar com os estigmas que existem na favela. Lá, a grande maioria é trabalhadora, são as mulheres que lideram a economia, que cuidam dos filhos, dos outros. Na favela são os negros que formam a maior força econômica”.

Os dados mostram ainda que, nos próximos 12 meses, 6,5 milhões de pessoas pretendem comprar um imóvel, e 7,9 milhões têm intenção de comprar móveis para casa. As informações reforçam que o principal sonho dos moradores de favela (34%) é ter uma casa própria, sendo que as mulheres (38%) são as que mais almejam a segurança da casa própria, enquanto 29% dos homens têm esse desejo. Na sequência, aparecem como principal sonho ter um negócio próprio (13%) e ter saúde (10%).
Já sobre educação, 7,9 milhões pretendem iniciar um curso profissionalizante, e 5,6 milhões um curso de idiomas. Porém, para 61% dos moradores que participaram da pesquisa o que falta para realizar as metas é dinheiro.

Para o idealizador da Expo Favela, Celso Athayde,  a favela passa a ter importância nesse cenário econômico, pensando sempre que essa resposta econômica também é social.

-As pessoas não precisam ir para muito longe para trabalhar. Quando você trabalha perto de casa ou dentro da sua própria comunidade, você tem uma qualidade de vida muito melhor e com mais tempo. Esse é o primeiro passo do empreendedor que percebe potência do seu território”, explica.

Niterói, segundo o IBGE

O Censo do IBGE continua em andamento. Mas o instituto antecipou os números da população com base nos dados já coletados e projeções a partir destes resultados. No censo de 2010, o último realizado, Niterói aparecia com uma população de 487.562 moradores. Deste total, 79.623 viviam em favelas  – 16,33%, um percentual que representa o dobro dos 8% da média nacional. De lá para cá, o IBGE fez projeções do crescimento da população e até o ano passado considerava-se que Niterói teria 516.981 habitantes. Não foi o que o Censo encontrou.

Pelos dados já divulgados, Niterói conta com uma população de 523 mil pessoas. Cresceu mais do que se previa. O crescimento não se dá por igual, em todas as regiões e faixas de renda. O IBGE ainda não divulgou os números atualizados. Mas se for mantida a proporção de moradores de comunidades de 2010, 16,33%, as favelas da cidade podem abrigar, hoje, 85.514 pessoas.

Uma das dificuldades do IBGE em Niterói, tem sido o acesso às comunidades da cidade, por falta de endereços indicativos; muitas ruas não têm nome e não aparecem nos guias de referência. Uma das soluções encontradas pelo IBGE foi encontrar guias que facilitaram o entrada dos pesquisadores, nesses territórios.

As favelas de Niterói

Niterói possui 52 bairros registrados, divididos em cinco grandes regiões administrativas: Praias de Baía, Norte, Pendotiba, Oceânica e Leste.  De acordo com o WikiFavelas, é na região litorânea da Baía de Guanabara – bairros de Boa Viagem, Icaraí, São Francisco e Charitas -, áreas com maior concentração de renda da cidade, que estão situadas algumas das maiores favelas do município: Morro do Estado (cerca de 4 mil habitantes), próximo ao Centro da cidade; Morro do Palácio (cerca de 2 mil habitantes), entre os bairros do Ingá/São Domingos e Boa Viagem; Morro do Cavalão (cerca de 2,5 mil habitantes), localizado entre Icaraí e São Francisco e Preventório (cerca de 6 mil habitantes), em Charitas.

A maior em termos de habitantes é a Vila Ipiranga, no Fonseca, com mais de 15 mil moradores. Seu nome é uma homenagem à Vila Jardim, conhecida pelos antigos moradores como campo do Ipiranga, onde foram construídas casas para os trabalhadores que se mudaram para lá, após o desenvolvimento da região.

O WikiFavelas observa que muitos moradores das favelas de Niterói vieram, originalmente, da região Leste do estado, de cidades vizinhas. Se concentraram, primeiro, na região das Praias de Baía para terem maior proximidade em relação às oportunidades de emprego, serviços,  lazer e estudos (UFF).

Outras favelas representativas, em Niterói, são:

Morro do Bumba, em Viçoso Jardim. A comunidade ficou conhecida, em todo o Brasil pela tragédia ocorrida em 2010, quando num deslizamento de terra, 267 pessoas morreram e muitas ficaram desabrigadas. Esse desastre foi um deslizamento de lixo, que iniciou-se devido à combinação de despejo de entulhos de obras no topo do morro e uma chuva muito intensa. A região era um antigo “lixão” que foi desativado e, posteriormente, recoberto de solo e urbanizado.

O projeto do Dicionário de Favelas (WikiFavelas) tem por objetivo favorecer a preservação da memória e identidades coletivas dos moradores das favelas. Tem como coordenadora geral a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz Sonia Fleury. Além da Fiocruz, conta com apoio também do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).

 

 

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