Com lança-chamas, chapéus voadores e efeitos holográficos, a  Unidos do Viradouro buscou “encher os olhos” do público do Sambódromo do Rio. A escola de Niterói foi a terceira a se apresentar no domingo (2), primeiro dos três dias de desfiles dos Grupo Especial.

Também desfilaram Unidos de Padre Miguel (atual campeã da Série Ouro), Imperatriz Leopoldinense  e Estação Primeira de Mangueira.

Quando a atual Campeã do Carnaval do Rio estava na concentração, aconteceu a primeira comemoração na avenida: foi anunciado que o longa nacional “Ainda Estou Aqui” tinha levado o Oscar de melhor filme estrangeiro. Foi sob essa empolgação que a Viradouro entrou na avenida.

“Malunguinho –  O Mensageiro de Três Mundos” foi o tema do enredo do Carnaval 2025 da Unidos do Viradouro. Trata-se de uma entidade afro-indígena, que se manifesta como Caboclo, Mestre e Exu/Trunqueiro.

Sua história remete ao estado de Pernambuco, na primeira metade do século 19. O quilombo do Catucá era foco de resistência e viu seu último líder, João Batista, o Malunguinho, ser duramente perseguido por seus atos libertários.

Ao fugir das emboscadas, ocultou-se na mata e aprendeu com os indígenas o segredo da força das ervas. Assim, tornou-se Mensageiro de Três Mundos: Mata, Jurema (planta sagrada) e Encruzilhada.

Malunguinho é o dono da chave mágica para abrir senzala e fechar o corpo dos que a ele rogam proteção. O que ronda a mata para vencer inimigo, trazendo a ciência dos pajés, os caminhos da cura.

Fogo

Se no ano passado, uma cobra se arrastando pelo chão do Sambódromo foi a grande surpresa da comissão de frente, em 2025, foi o fogo que marcou o começo da passagem da escola. E em vários momento, chegou a assustar o público nas arquibancadas.

Wesley Torquato, que no ano passado “pilotou” a cobra gigante da comissão de frente, desta vez, ficou na linha de frente do fogo. A escola levou lança-chamas para a avenida.

– Quando a gente ensaiava, era tudo direcionado para que o fogo não chegasse perto – afirmou.

De acordo com a coreógrafa Priscilla Motta, todo o processo para a criação da comissão de frente contou com uma consultoria do Corpo de Bombeiros do RJ. Além disso, o tripé foi confeccionado com materiais não inflamáveis. A comissão também apresentou “fogo cenográfico”, para reforçar o efeito.

–  Os lança-chamas foram projetados para expelir as labaredas longe dos componentes e principalmente do público. Os testes com fogo começaram há 3 meses. Os 15 bailarinos revezavam os ensaios com treinamento contra incêndios – contou.

Dez extintores foram colocados em pontos estratégicos da estrutura e uma brigada com 6 bombeiros acompanhou o elemento cênico por toda a Sapucaí.

Ed Vieira, outro integrante da comissão de frente, afirmou que era possível sentir a emoção do público, com o fogo:

– Na hora do fogo, a gente ficava dentro do carro. A gente ouvia as pessoas gritando, e gritávamos junto.

Além do fogo, outro impacto visual da comissão de frente da Viradouro foi proporcionado por drones. Os aparelhos foram colocados dentro de chapéus que voaram na avenida, em momentos precisos, ao serem controlados de perto.

Sobre esse efeito, Priscilla afirmou que o maior desafio foi a aerodinâmica.

– Por causa das abas e do vento que batia. Mas ensaiamos muito e em todas suas condições climáticas – explicou.

Intitulada “Sobô Nirê Mafá”, a comissão de frente narra o momento em que Malunguinho é ferido por um feitor; depois, ele é ajuremado, ou seja, curado pelos poderes da Jurema. “Sobô Nirê Mafá!” é como o Reis Malunguinho é saudado.

Os chapéus representam o momento que ele entra em transe e evoca os encantados da mata. Se torna, então, mestre juremeiro e recebe juremeiros. Com a volta do seu algoz, acontece uma batalha, desta vez espiritual. É neste momento que entra o fogo, quando Malunguinho queima o inimigo.

Ao longo do desfile, a escola usou efeitos holográficos que representaram a chave do cativeiro do catimbó.

Queda

Musa da Viradouro, Lorena Improta levou um tombo durante o desfile da escola. A modelo escorregou e caiu com o corpo de lado no chão, mas foi erguida rapidamente por um profissional da escola.

– Não foi o chão, não foi minha sandália, nada. Foi um resto de fantasia de alguma alegoria que estava no chão que provocou a queda. E eu não vi porque eu estava olhando para frente – contou ela que sofreu alguns cortes pelas pernas e pés.

Segundo a musa, na hora da queda, ela não sentiu dor. Após se levantar, seguiu “desfilando lindamente”.

– Estou radiante, estou feliz. A Viradouro fez um desfile lindíssimo e, graças a Deus, minha queda não tira ponto da escola – afirmou.

Profissionalismo

Na opinião do carnavalesco Tarcísio Zanon, a Unidos do Viradouro fez um “desfile de alto nível de profissionalismo”:

— Eu sempre gosto de trabalhar um desfile que tem um conjunto muito equilibrado, e acredito que esse ano, mais uma vez, a gente conseguiu um desfile de alto nível de profissionalismo. A Viradouro é uma escola que está de parabéns. É uma escola que trabalha muito e que merece ser premiada por isso, porque dá dignidade aos profissionais da cultura. Isso é de suma importância para todos nós e para essa grande festa. O enredo do ano que vem já está todo pronto na minha cabeça, só falta botar no papel.

Mais desfiles

O desfile das escolas de samba do Grupo Especial do Rio seguem nesta segunda (3) e terça-feira, sempre a partir das 22h. Confira a ordem:

Segunda-feira (3 de março)

1. Unidos da Tijuca (11ª colocada do Grupo Especial 2024)
2. Beija-Flor de Nilópolis
3. Acadêmicos do Salgueiro
4. Unidos de Vila Isabel

Terça-feira (4 de março)

1. Mocidade Independente de Padre Miguel (10ª colocada do Grupo Especial 2024)
2. Paraíso do Tuiuti
3. Acadêmicos do Grande Rio
4. Portela