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Claudio Castro foi o único candidato que não fez campanha em Niterói

Por luiz claudio costa latge
| aseguirniteroi@gmail.com

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Niterói aparece no mapa político como a aldeia gaulesa de Asterix no Império Romano, cercada por todos os lados
claudio castro em nova iguaçu
Claudio Castro assume o controle político do estado com forte apoio na capital, Baixada e no interior. Foto: Campanha do governador

A vitória de Cláudio Castro para o Palácio Guanabara no primeiro turno, contrariando todas as pesquisas, com 58% dos votos, redesenha o mapa político do estado do Rio, construindo fortes apoios em todas as regiões: na capital, na Baixada, no interior e no Norte Fluminense. Com uma política clientelista – que distribuiu cargos e dinheiro, através do Ceperj, e sem viés ideológico, para atrair eleitores de Bolsonaro e de Lula – se afirma como novo cacique fluminense, como um Chagas Freitas revivido. Terá também ampla maioria na Assembleia Legislativa.

Não é boa notícia para o estado – este tipo de controle político sem freios sempre teve consequências desastrosas na gestão do Rio. E menos ainda para Niterói, uma das poucas cidades em que o governador não pisou durante a campanha. Niterói deu mais votos a Lula que a Bolsonaro, e mais apoio ao ex-prefeito Rodrigo Neves do que a Castro ou Freixo.  Aparece no mapa da política estadual de 2022 como a aldeia de Asterix na Gália, cercada por todos os lados pelo Império Romano.

Alianças políticas

O governador Claudio Castro chegou ao Palácio Guanabara na onda bolsonarista de 2018 que elegeu o desconhecido  Wilson Witzel. Era seu vice. Herdou o governo quando Witzel foi afastado por corrupção e impedido por maioria absoluta dos votos da Assembleia. Desde então, costurou alianças para sua permanência no governo. Buscou apoio na Baixada e entregou diversas secretarias para seus aliados, como os prefeitos de Nova Iguaçu e Caxias. Nenhum político em campánha pelo governo do estado visitou tanto a região quanto Castro.

A base política, aos poucos, foi sendo ampliada e no começo da campanha Castro já exibia acordo com mais de 80 de 92 prefeituras do estado. Apostou em programas clientelistas, como mutirões de saúde e saneamento.  Distribuiu poços artesianos e pastilhas de cloro. E arregimentou um exército de cabos eleitorais para abanar bandeiras e distribuir santinhos nas cidades. A distribuição de R$ 250 milhões pelo Ceperj, com recursos da venda da Cedae, provavelmente ajudou para conquistar este apoio, como sugerem denúncias publicadas pelo Globo de que seus apoiadores foram beneficiados por saques na boca do caixa. Com tanta penetração, levou também a família Garotinho, Campos e o Norte Fluminense.

Mas Castro ganhou também na capital, que, dizia-se, seria o território de Freixo. Mesmo no Rio construiu importante votação baseado no voto evangélico (o mesmo que já havia levado o agora deputado federal Marcelo Crivela à prefeitura), no apoio da máquina do estado e da milícia.

Contou também com enorme contribuição do prefeito Eduardo Paes, que disputou com Ciro Gomes o papel de pior desempenho político da eleição. Mirando em 2026, não apoiou Freixo, barrando seu crescimento, achando que seria mais fácil enfrentar no futuro um herdeiro político de Castro, que já não terá a possibilidade de se reeleger. Fingiu apoiar Rodrigo Neves, sem lhe oferecer palanque. Atirou no próprio pé – e no pé do eleitor.

Castro teve 58% dos votos. Freixo 27%. Rodrigo Neves, 8%.

Uma vitória inquestionável. E a construção de uma base de apoio que estabelece um novo domínio sobre a política do estado, depois de Chagas Freitas e de  Sérgio Cabral. Brizola não entra na conta, porque carregava um voto ideológico e não havia reeleição, embora tenha feito sucessores Marcelo Alencar e Garotinho, pelo PDT.

A aldeia de Asterix

Neste ponto, voltamos à aldeia de Asterix, criação dos franceses  Albert Urdezo e René Goscinny, de 1959. Asterix era um guerreiro da de uma aldeia gaulesa que resistia ao Império Romano, que dominava todo o mundo conhecido então.

Niterói, por sua singularidade, não mereceu a visita do governador Claudio Castro e nenhuma promessa mirabolante, como metrô por baixo da baía de Guanabara. A candidatura do ex-prefeito Rodrigo Neves, com forte apoio na cidade, tornava o difícil o território de apenas 406 mil eleitores, metade do eleitorado da vizinha São Gonçalo, que visitou meia dúzia de vezes e onde promoveu programas clientelistas com o prefeito Capitão Nélson. Não foi um problema para sua eleição, embora tenha tido menos votos aqui que os 36% de Rodrigo Neves. Niterói também deu mais votos a Lula que a Bolsonaro.

As revistas de Asterix começavam sempre da mesma forma. “Estamos no ano 50 antes de Cristo. Topda a Gália foi ocupada pelos romanos…. Toda? Não Uma aldeia povoada por irredutíveis gauleses ainda resiste aos romanos. E a vida não é nada fácil para as guarnições de legionários romanos…”

Asterix – e os habitantes da aldeia – encontravam sua força numa poção mágica produzida pelo druida Panoramix. Seu principal aliado, Obelisco, era o único que não precisava beber periodicamente a poção; havia caído no caldeirão em que o druida preparava o líquido, quando criança. Era apenas uma história. Resta saber como Niterói vai se sair no estado de Castro. Se será uma força de resistência ou será engolida pelo esquema político que se desenha.

Isso, sem poção mágica.

 

 

 

 

 

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