COMPARTILHE
Uma área dedicada ao treinamento de ciclistas de alta performance. Esse é o projeto da Prefeitura de Niterói com a criação da Área de Proteção ao Ciclista de Competição (APCC), no túnel Charitas-Cafubá. A medida, que consiste numa adaptação da operação de trânsito nas faixas exclusivas de ônibus do sistema BHLS da Transoceânica, levou ciclistas profissionais de Niterói a fazerem algumas críticas, como ao estreitamento de curvas. Outros relatam o não funcionamento do GPS dentro do túnel, o que dificulta o acompanhamento real do treino. Há também queixas sobre o tamanho reduzido do circuito e da faixa de horário em que é permitido o treinamento.
Curvas estreitas
A nova operação começou a funcionar na quinta-feira (1). No período das 4h às 6h, o corredor de ônibus ao longo do túnel Charitas-Cafubá, em suas duas galerias, passa a ser destinado ao treino de ciclistas de alta performance, com operação de trânsito para bloquear a entrada de automóveis neste trecho. A medida tem como objetivo dar mais segurança aos niteroienses em seus treinamentos de ciclismo de estrada. No entanto, de acordo com o ciclista Felipe Coquito, as curvas estreitas podem provocar acidentes. Ele também diz que fica preocupado com os tachões que vão ser colocados em São Francisco, segregando a ciclofaixa, o que também pode ser perigoso para quem treina.
– Eu acho a iniciativa importantíssima. É uma vitória a gente finalmente ter uma APCC, mas as curvas são bastante fechadas e isso é preocupante porque pode gerar acidentes. No sentido Charitas, o trajeto é, em sua maioria, uma descida e a gente pega bastante velocidade. A curva exige uma freada brusca e isso pode ser um perigo. Eu sugiro uma APCC na Orla de Gragoatá, no Campus da UFF, onde ficam os quiosques. Para isso, seria necessário fechar um dos sentidos e deixar o outro de mão-dupla. Outra possibilidade é a pista que vai para a Praia de Itaipu, porque ali tem um trecho plano em que poderia ser delimitada uma pista de treino – pontuou.
Ele também sugere como alternativa fechar a pista da areia, em São Francisco e deixar a pista de dentro de mão dupla. “Seria legal se domingo ela ficasse fechada, como é no Aterro do Flamengo, mas entendo que seria mais complicado porque ali costuma ter mais trânsito por conta do retorno da praia, mas talvez se fosse só de manhã seria viável”, acrescentou.
Temperatura desigual
A diferença de temperatura é outra questão levantada pelos ciclistas. De acordo com Maurício Guimarães, a criação da APCC não levou em consideração a densidade de ciclistas do aplicativo Strava, que realmente treinam para competição durante a semana. Ele ainda relembra que, o fato de a concentração de monóxido de carbono e SOx ser elevada no túnel, há uma diferença de temperatura considerável dentro e fora dele.
O ciclista Domingos Maciel conta que já treinou muito no trecho Charitas-São Francisco e diz que continua gostando de treinar nessa área, apesar de achar perigoso. Mas, tem preferido se deslocar para treinar em Camboinhas e Piratininga, por achar mais seguro, sem ser tão ameaçado pelo trânsito. Ele conta que, antes da abertura do túnel, o treino era feito no trecho entre Charitas-São Francisco. Ele explica que a partir da abertura do túnel, o treinamento nessa área ficou bem difícil, o que levou os ciclistas a replanejar suas rotas, se deslocando para Camboinhas e Piratininga para treinar com mais segurança.
Um aspecto do qual ele se queixa, no túnel Charitas-Cafubá, é o fato de a ciclovia ser estreita e, nos pontos onde há o recuo para carros enguiçados, o desvio, em uma curva diagonal pouco suave, pode provocar grande perigo.
– É o trecho onde a parede rochosa do túnel fica bem próximo de sua cabeça, então pode haver um desequilíbrio. Não existe, na ciclovia, a possibilidade de andar rápido, porque nesses trechos ela é escura – ressaltou. Ele sugeriu a implantação de uma APCC no Caminho Niemeyer.
– No Rio, os ciclistas obtiveram um grande êxito na aprovação das APCCs. Inclusive, temos o Aterro durante a semana, o trecho da Saúde nos domingos. Acredito que poderíamos ter no Caminho Niemeyer a criação de um circuito para esse tipo de treinamento. Seria a possibilidade de termos um local para que se pudesse treinar durante o dia com horários administrativos. Já chegamos a fazer essa sugestão, em determinado momento – destacou.
Nos finais de semana, Domingos gosta de fazer treinamentos mais longos, de até 150 km. Às vezes vai para a estrada para treinar em subidas também. Treinos na Rio Teresópolis, Guapimirim até a serra de Friburgo. Esses treinos são feitos com carro de suporte. No domingo, curte ir para a APCC no Rio, no Porto Maravilha, Paineras, Mesa do Imperador.
O ciclista Carlos Eugênio também deixa a sua sugestão da criação de uma outra APCC em Niterói: na orla de Piratininga, no trecho do início do praião até a prainha, que dá em torno de 5km, ida e volta. “Os ciclistas podiam ficar costeando o canteiro da orla. As pistas externas ficariam disponíveis para os carros, o que seria bom, já que a maioria dos moradores do bairro quase não usa a orla para ir e voltar para o trabalho. E lá poderia ser definitivo. Diferente do túnel Charitas-Cafubá, que é paleativo. Acho que essas soluções que vêm sendo apresentadas não são pensando em treinamento de ciclista de alta performance”, destacou.
Antes da implantação da APCC, Niterói contava com uma infraestrutura dedicada a esta prática do ciclismo: a ciclofaixa temporária em São Francisco, ao longo da Avenida Quintino Bocaiúva, implantada com o intuito de ser uma faixa exclusiva para o uso da bicicleta, sem necessidade de operação de trânsito. Fora do seu horário regulamentado, das 4h às 6h, podia ser usada como faixa de rolamento ou estacionamento.
COMPARTILHE