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Chef vegana de Niterói lança livro com receitas práticas e acessíveis

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Thallita Xavier conta sobre sua relação com o veganismo, a desmitificação da gastronomia saudável para a classe mais alta e sua história com a arte
Thallita Xavier : Foto- Arquivo Pessoal
Thallita Xavier / Foto: Arquivo Pessoal

Quando não fica imersa na culinária vegana, Thallita Xavier está nos palcos atuando. Mas ela também pode ser vista na lona do circo, fazendo malabarismos. Ou dando aula para detentos em unidades prisionais. Thallita, que escolheu Niterói para viver, tem a arte impregnada em tudo o que põe as mãos.

Ela se define como uma trabalhadora da cultura, já que atua em três ramos conectados à arte: gastronomia, circo e teatro. Mas nem ela se dá conta de sua multiplicidade. Com o segundo volume do seu livro “Cozinhe seus vegetais” recém lançado, Thallita deixa claro que tem como proposta desenvolver a autonomia alimentar das pessoas por meio da cultura do veganismo. Não por acaso, a metodologia do seu livro não recorre às medidas de ingredientes como fórmulas tradicionais.

A sua intenção é simples, porém desafiadora: promover um diálogo com o leitor para que ele desenvolva seu próprio processo criativo. A ideia é democratizar o acesso, para que todos possam desfrutar dos benefícios que a cultura vegana traz: qualidade de vida, abolição da exploração animal e do desmatamento. E, claro, não perder de vista sua luta com a comunidade negra periférica, mais vulnerável.

Thallita é fundadora do Banana Buffet, criado com a intenção de oferecer um serviço o mais ético possível, onde não há qualquer exploração animal. Como já trabalhava no segmento de eventos com seus pais, pode trazer mais para perto sua experiência prática através da criação do seu próprio empreendimento. Thallita mora em Niterói há seis anos, mas diz ser acolhida pela cidade.

– Eu não sou nascida aqui na cidade, mas tenho um carinho muito grande por ela, ainda que qualquer espaço que eu esteja será uma forma de resistir – diz.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

A Seguir: Niterói: Você faz parte de um movimento que propõe reeducação drástica na alimentação, especialmente nas classes mais populares, para frear, por exemplo, o problema maior do desmatamento e o aquecimento global. É uma filosofia que interliga a alimentação e os problemas ambientais, de saúde e da esfera social. Poderia falar um pouco sobre isso?

Thallita Xavier: Quando comecei meus estudos sobre autonomia alimentar lá em 2013, percebi o quanto a comunidade negra brasileira sofria com o nutricídio, que é o extermínio da população através da má alimentação. Por meio de pesquisas, vi o quanto a nossa alimentação é colonizada e entupida de produtos de origem animal, o que contribui para que a maioria das pessoas consumam carne e laticínios em excesso, além de colaborar para impactos negativos às nossas terras e à própria saúde. A minha luta é para que a comunidade negra, que é a maioria periférica, alcance a autonomia alimentar e todos os benefícios que ela carrega consigo (qualidade de vida, abolição da exploração animal e do desmatamento).

Você tem um buffet com essa proposta e lançou o segundo volume do seu livro recentemente, que ensina receitas práticas e baratas para desmitificar o veganismo como cultura alimentar de classe mais alta. Vi que o livro contém seis receitas. Poderia falar um pouco sobre como foi essa seleção?

Eu criei o Banana Buffet com a intenção de oferecer um serviço o mais ético possível para eventos, que não envolve exploração animal humana e não humana, ou seja, fazemos uma gastronomia à base de plantas e também valorizamos cada trabalhador envolvido no processo. Por conta do apagamento histórico que o Continente Africano sofre, desenvolvi um trabalho com receitas autorais afrodiaspóricas (ou afrobrasileiras) para que possamos ampliar a nossa cultura gastronômica e não valorizar apenas o que vem da Europa.

Em 2020, lancei o livro “Cozinhe Seus Vegetais” e semana passada lancei o volume dois desse livro. Esse livro digital tem como método desenvolver a autonomia alimentar das pessoas. Por conta disso, ele não possui medidas de ingredientes. Eu compartilho as receitas e vou dialogando com o leitor, para que ele desenvolva seu próprio processo criativo.

A ideia é que você compre um caderno, caso já não tenha, e crie suas próprias proporções, montando assim sua versão da receita que será passada de geração em geração da sua família.

Na gastronomia a gente aprende que, por mais que uma receita esteja descrita passo a passo como tem que ser feito, com cada grama especificada, cada mão é uma mão. Se não é o mesmo cozinheiro de antes, não será o mesmo prato, mesmo que tenha sido reproduzido fielmente. É preciso que a gente tenha identidade na cozinha e autonomia, para decidir os melhores caminhos durante o processo de cozinhar.

Foto: Yuri Mendes

Desde quando você começou a atuar nessa área? Como começou sua relação com o veganismo e em que momento você abriu seu próprio negócio?

O buffet surgiu da necessidade de oferecer serviços os mais éticos possíveis. E, obviamente, essa demanda surge por conta de eu ter excluído tudo de origem animal da minha rotina lá em 2013. Eu já trabalhava no ramo de eventos com os meus pais, então sempre gostei de fazer casamentos, aniversários. E, como gostava de gastronomia, pensei que poderia ser uma boa fundar uma empresa desse gênero. A luta contra o especismo veio de uma inquietude minha de não querer compactuar com a exploração de animais humanos e não humanos da melhor maneira, dentro do possível e praticável.

Foto: Yuri Mendes

Poderia falar um pouco sobre sua relação com Niterói? O que curte fazer no tempo livre e quais restaurantes costuma frequentar?

Niterói me acolhe desde 2015! Eu não sou nascida aqui na cidade, mas tenho um carinho muito grande por ela. Claro que tem muitos problemas, principalmente sociais e raciais, porém qualquer lugar que eu vá será difícil de me estabelecer. Qualquer espaço que eu esteja será uma forma de resistir.

Eu adoro ir ao ALUÁ, um restaurante vegano e orgânico em Piratininga. Eles têm uma comida com muito afeto feita pela Chef Mari Menezes e tem um preço super acessível para uma gastronomia que trabalha com ingredientes sem veneno. As entradas, os pratos principais e as sobremesas dão facilmente para dividir com duas pessoas. Além de ser super aconchegante, aberto, arejado… amo demais!

Quais feiras você costuma ir? Onde adquire os produtos?

Sabe que não costumo ir as feiras? Não com muita frequência. Muito de vez em quando vou a algumas feiras gastronômicas para fortalecer alguns amigos e amigas que trabalham com culinária e, claro, comer uns salgados deliciosos sem nada de origem animal! Mas em quesito de produtos alimentícios, para casa, higiene e etc, compro tudo em sacolões e mercados tradicionais.

Thallita Xavier / Foto: Klacius

Você também é atriz e tem uma relação estreita com o circo e o teatro. Conte um pouco sobre sua história e sua relação com a arte.

Sim, sou atriz e palhaça profissional! O teatro está na minha vida desde 2010, e o circo desde 2015. Eu tenho uma companhia de circo de rua junto com meu companheiro, Eddie Miranda, aqui na cidade, que é a Companhia Mala de Mão. O foco do nosso trabalho é a arte de rua, principalmente para público das favelas, pois a gente acredita muito num trabalho de base da nossa arte favelada para o público favelado.

Eu também dou aula de teatro na Oficina Social de Teatro no Centro de Niterói, e também sou professora num projeto de extensão da faculdade de “Teatro na Prisão” onde dou aulas para detentos e detentas de unidades prisionais. A verdade é que eu sempre me defino como uma trabalhadora da cultura, pois eu amo e trabalho em três ramos culturais: a gastronomia, o circo e o teatro.

Thallita Xavier / Foto: Klacius

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