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Centro de Artes UFF reúne lideranças pretas em evento comemorativo do mês da Consciência Negra

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Atividades começam na próxima quinta-feira (17). Ao longo de uma semana, serão realizadas conferências e apresentações de teatro e dança
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A cantora baiana Gloria Bonfim se apresenta no primeiro dia do evento, na quinta-feira (17), às 20h. Foto: Divulgação

Como parte das celebrações do mês da Consciência Negra e da luta antirracista, o Centro de Artes da Universidade Federal Fluminense promoverá o evento “Atelerió – afropresenças e luta”, entre os dias 17 e 23 de novembro. O encontro vai reunir intelectuais, artistas, coletivos e potências pretas em uma grande variedade de atividades culturais. Ao longo de uma semana, serão realizadas conferências, rodas de conversas, vivências, teatro, dança, artes visuais, cinema, shows e feira.

Leia mais: UFF também recomenda volta do uso de máscara em sala de aula como prevenção à Covid-19

O termo que dá nome ao evento é uma reverência aos ancentrais. Sua origem é iorubá, um dos maiores grupos étnico-linguísticos da África Ocidental. A ideia é que, em Atelerió, passado e presente unam forças para enfrentar o racismo e afirmar a vida por meio de um “aquilombamento cultural”. A expressão se apresenta em oposição à de “apartheid” e aponta para uma busca de afirmação e protagonismo de espaços de negritude.

Para a coordenadora do evento, Janaína Dias, o projeto Atelerió reforça a importância da história e da cultura do povo negro na sociedade brasileira e acende um alerta para urgência da luta antirracista: “A arte e a cultura são dimensões importantes de existência, resistência e afirmação da negritude!”, afirmou.

Também coordenador, Rodrigo Nunes, que desde pequeno conviveu com grandes mestres e comunidades tradicionais, endossa ao reafirmar a importância de saber sua origem para construir o futuro para onde se quer ir:

– Exaltar os que vieram antes e pavimentaram caminho para os avanços na direção de políticas afirmativas na construção de uma sociedade mais equânime e efetivamente antirracista é a possibilidade de voltar às nossas raízes, para poder realizar nosso potencial para avançar! – enfatiza.

Um dos destaques da programação é a cerimônia de homenagem a representantes pretos que se sobressaem em áreas normalmente dominadas pela corporeidade branca. Nessa edição do evento, a homenageada será Isildinha Baptista Nogueira, psicanalista, doutora em psicologia escolar e desenvolvimento humano, pesquisadora de questões sobre o corpo negro e autora de diversos livros, entre eles, “A cor do inconsciente – significações do corpo negro”, indicado ao prêmio Jabuti 2022, na área da Ciência.

A psicanalista, doutora em psicologia escolar e desenvolvimento humano, Isildinha Nogueira será a homenageada do evento. Foto: Divulgação

Para o reitor da UFF, Antonio Claudio Lucas da Nóbrega, “a luta antirracista deve ser um dos compromissos essenciais da universidade pública, e ela se materializa nos sujeitos, conhecimentos e práticas que vão existir nesse espaço.

– O Atelerió será o primeiro grande momento de aquilombamento cultural promovido pela UFF, necessário dentro e fora da universidade. Nossa homenageada será a Dra. Isildinha Baptista Nogueira, uma referência na academia e ativista que todos deveriam conhecer, precursora da luta antirracista e que representa em seu trabalho e vida o papel da universidade pública na construção e transformação dos saberes e do mundo – ressaltou.

Isildinha Baptista Nogueira foi uma das primeiras intelectuais a abordar, por meio do instrumental psicanalítico, tanto a dimensão sociocultural como subjetiva da condição de negro no Brasil. Partindo de seu lugar como mulher, negra e brasileira, ela delineia as muitas amarras que interditam o desenvolvimento, a exemplo da autodepreciação e de outros processos culturalmente introjetados em uma sociedade de características racistas.

Diz a psicanalista:

“O racismo adoece a todos, brancos e negros. Acredito que esse esforço de pensarmos sobre isso pode nos libertar dessa perversa fantasia de que a humanidade se compõe de seres superiores a outros. Todas as vidas importam. A despeito de nossas diferenças, precisamos pensar formas de nos respeitarmos. Vencer o racismo é uma luta de brancos e negros”.

Além da homenagem, nomes representativos de todas as artes e de movimentos e pensamentos antirracistas estarão presentes na programação desta edição inaugural do projeto.

A programação

Para a abertura, dia 17 de novembro, às 17h30, o professor, antropólogo e escritor Júlio Tavares irá apresentar a conferência “A construção do apartheid brasileiro”. Julio Tavares é autor dos livros Diásporas Africanas na América do Sul (2008), Dança de guerra (2012) e Gramáticas das corporeidades afrodiaspóricas (2020). Nesse mesmo dia, às 19h, será inaugurada a exposição “Invencível novembro”, na Galeria de Arte UFF, e a cantora baiana Gloria Bonfim fará um show inspirado nos terreiros de candomblé, no Teatro da UFF, às 20h.

A variada programação ainda inclui mesas de conversa, sempre às 15h, com os temas “Aquilombamento na pesquisa”: no dia 18/11, com o Coletivo Marcos Romão, “Empretecer o pensamento pelas políticas públicas da educação”; dia 21/11, com os professores Alexandra Anastacio (pró-reitora de graduação – UFF), Natalia Barbosa (COLUNI – UFF) e Renato Ferreira (EDUCAFRO), “Corpos negros e religiosidades”; dia 22/11, com o babalorixá Dário de Ossain, mãe Márcia d’Oxum e o pastor Henrique Vieira (eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro), e “Aquilombamento da arte”; dia 23/11, com professor Jorge Vasconcellos (UFF) e o artista visual Marlon Amaro (integrante da exposição “Invencível novembro)”.

Além do show da cantora Gloria Bonfim, haverá apresentações de Jef Rodriguez, do jongo Folha da Amendoeira e da bateria da Viradouro. Dentre outras atrações, haverá uma apresentação, dia 23/11, do espetáculo teatral “Baquaqua”, criado a partir de relatos sobre o único negro escravizado a ter uma biografia lançada (Mahommah Gardo Baquaqua), no século XIX, quando firmou sólido contato com os abolicionistas na América do Norte, após uma tentativa bem-sucedida de fuga. O monólogo, encenado por Wesley Cardozo, tem dramaturgia de Rogério Athayde e direção assinada por Aramís David Correa.

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