24 de novembro

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Casa 264, em Niterói, completa dois meses de arte e diversidade

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Em entrevista ao A Seguir, a multiartista cearense Bia Rodrigues, idealizadora do espaço, fala sobre o novo reduto cultural de São Domingos e o que está por vir: curso de fotografia, cinema ao ar livre e sarau
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A Casa fica localizada em São Domingos. Foto: Soraya Albuquerque

Aconchego em forma de arte. Um espaço livre para ser quem se é. Norteada por toda a espontaneidade, pelo que é instigante e pela sensação de pertencimento, a Casa 264, em Niterói, completa dois meses desde a sua inauguração em Outubro.

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Foto: Soraya Albuquerque

A Casa 264

– O intuito da Casa é explorar um mercado já saturado de dizeres e modos de fazer. A não institucionalização da arte reside justamente no posicionamento dela diante do público: dessacralizada, cotidiana e experimental – afirmou a idealizadora da Casa 264, a multiartista cearense Bia Rodrigues, que conversou com o A Seguir, em entrevista que você confere mais abaixo.

Localizado no tradicional bairro boêmio de Niterói, em um casarão de Art Déco com uma arquitetura que remonta à década de 1930, o espaço oferece uma vasta programação de shows e performances. Conta, ainda, com uma carta de drinks assinada pela premiada bartender, Vitoria Oliver, que elaborou mixologias especialmente para o espaço, com sabores e aromas diretamente do Ceará, terra natal da especialista.

Antes mesmo de entrar na casa, já se tem uma amostra do que ela tem a oferecer. A arte da fachada é resultado de uma obra de dois artistas do Acidum Project, Tereza e Robézio. Os artistas, também cearenses, retratam nas paredes a essência e a força da ancestralidade brasileira.

A fachada da Casa 264. Foto: Soraya Albuquerque

Arte em todos os cantos

A Casa 264 respira arte por todos os poros. E não esconde. Assume esse papel e convida o público para experimentar as mais diversas vertentes da arte.

Exposições, teatro, lançamentos de livro, saraus, performances, clube de vinil, jazz ao vivo, e “pistinha” com DJ residente são algumas das atividades oferecidas pela casa.

No momento, a exposição “Enternecer” está em cartaz na Casa 264. Foto: Soraya Albuquerque

Próximos eventos

No dia 18 desse mês, a casa irá abrigar o Festival Cinema à Brasileira, que traz grandes nomes do cinema nacional, como Guto Parente e Luís Carlos de Alencar, além de 45 curtas selecionados pela curadoria da Casa 264. Os filmes terão projeções múltiplas, inclusive na rua.

A Casa ainda irá oferecer debate sobre o mercado audiovisual e mostra-oficina para estudantes da rede pública também compõem a programação do festival.

Outra novidade que virá em breve será o curso de fotografia, com Soraya Albuquerque. Um projeto que a idealizadora da casa, Bia Rodrigues,  tem com a fotógrafa de Acompanhamento Artístico.

O objetivo é  possibilitar que artistas dos mais variados formatos consigam trabalhar em seus projetos e pesquisas, trocando com o grupo através de provocações e exercícios.

Outros sabores podem ser encontrados nos drinks – todos autorais – e comidinhas como as empanadas e as tortinhas veganas, feitas pelo ateliê culinário, NÓS, um projeto também criado por mulheres.

Confira a entrevista:

A  SEGUIR: NITERÓI: Você define a Casa 264 como “um espaço que tira a arte do lugar sacralizado e institucional e traz para dentro de casa”. De que forma você acha que o espaço pode contribuir para a democratização da arte? A ideia é dar visibilidade para artistas independentes, certo?

Bia Rodrigues: A Casa 264 foi pensada a partir da experiência. Um lugar onde a casualidade, as artes contemporâneas e as sensações tomam forma e se introjetam no cotidiano daqueles que a frequentam.

O intuito da Casa é explorar um mercado já saturado de dizeres e modos de fazer. A não institucionalização da arte reside justamente no posicionamento dela diante do público: dessacralizada, cotidiana e experimental. Um artista, em seu sentido mais fulcral, é, para mim, aquele que dissimula a realidade, criando um canal, que não é ilusório ou alienado, mas transitório, onde é possível estar presente, enxergando a realidade atravessada por outro olhar.

Conte um pouco sobre como será a programação do festival de cinema na rua, que será realizado em frente à Casa 264? Você que fez a curadoria? Quais foram os filmes selecionados? Quando vai acontecer? Como o público poderá participar?

O Festival Cinema à Brasileira, ainda neste mês, trará grandes nomes do cinema nacional, como Guto Parente e Luís Carlos de Alencar, além de 45 curtas selecionados por nossa curadoria numa mostra que contará com projeções múltiplas, inclusive na rua.

Debates sobre o mercado audiovisual e mostra-oficina para estudantes da rede pública também compõem a programação do Festival.

O Festival é uma celebração ao cinema nacional independente, direcionando o olhar do público e dando espaço e tela para produções de todos os estados do Brasil.

O Festival Cinema à Brasileira acontecerá nos dias 18, 19, 20, 25 e 26 de outubro, na Casa 264, em seu teatro e na Travessa Manoel Continentino (esquina onde a Casa é localizada). Nos dias 20 e 26, a exibição se dará na rua e o convite é que todas e todos tragam as suas cadeiras de praia (disponibilizaremos apenas 40). No Teatro, a distribuição dos lugares se dará por meio do Instagram (20) e outra parte, para os que chegarem primeiro.

A casa já completou dois meses desde a sua abertura. Qual sua análise até agora? Quais foram os eventos de maior sucesso?

Tudo o que foi feito teve muita dedicação e amor! Jazz na Casa, com Joe Pepe e Marcus Nimrichter; Nossas sextas com a DJ residente, Taia Pitaia, que criou versões temáticas da “Pixtinha”; como a Disco e a 2000’s; O set Soul do DJ Amsa; a “Quinta Cultural”, que reúne os amantes do vinil; Nosso Bar Borogodó, com a experiência multissensorial dos nossos drinks  autorais: Gal, Elis, O “Diabo no Meio do Redemoinho” e Dona Onette.

E, é claro, nossa Exposição coletiva, ENTERNECER – amenidades brasileiras, com curadoria minha e de Soraya Albuquerque, que contou com artistas como Ivan Grilo, Jorge Fonseca, Hildebranda, Pedro Carneiro entre outros. A exposição encerra na próxima semana e foi tema de debate no Circuito ArtRio, no espaço‘Artistas Latinas’.

Acho que ter na Casa artistas generosos e dividir a curadoria com a potência que é a Soraya, me dá essa sensação de estar trilhando algo bonito.

O espaço dedicado a vinis é um charme. Você tinha me dito que atualmente ele é um espaço de dança, mas que futuramente pretendia fazer dele um outro ambiente de ciclos de debate/workshops. O que tem em mente nesse sentido?

Todos os espaços da casa são multiuso. Tudo aqui é possível, com o olhar certo. A Casa é um local de artes, experiências e pesquisa, sendo assim, eventos literários, workshops e cursos fixos serão realizados constantemente.

Em breve, a Casa abrirá um curso de fotografia com Soraya Albuquerque e um projeto que temos juntas de Acompanhamento Artístico, que possibilita que artistas dos mais variados formatos consigam trabalhar em seus projetos e pesquisas, trocando com o grupo através das nossas provocações e exercícios.

O espaço utilizado será o Hall superior, que é mais reservado e perfeito para esse tipo de proposição.

De que forma a gastronomia representa o espaço?

Além dos drinks autorais, que trazem o sabor e o frescor da minha terra; criados pela minha amiga, a mixologista premiada, Vitória Olivier; temos as empanadas e as tortinhas veganas, feitas pelo ateliê culinário, NÓS, um projeto lindo (e delicioso), também criado por mulheres.

Observei que o espaço é todo autoral, desde a sua concepção, vista na pintura da casa, que é uma obra de arte, à carta de drinks autorais. É raro ver um espaço que tenha essa preocupação em Niterói. Isso faz parte da identidade da casa e é um pouco da sensação que você pensa em levar para o público, certo? Um quê de originalidade, autenticidade, mas ao mesmo tempo conforto e pertencimento?

Exatamente isso. Da fachada aos sofás, que dão esse ar de casa, esse espaço foi pensado para gerar sensações. Há algumas que foram pensadas, como o pertencimento e o conforto, mas a experiência de cada pessoa em sua subjetividade é bem-vinda e me interessa! Depois da obra (literalmente haha), o artista não tem mais controle sobre nada.

O que você acha que traz do seu olhar de uma pessoa que vem de fora e logo carrega uma outra perspectiva de Niterói para a Casa 264?

Acho que ser migrante já traz esse olhar que cerca as coisas com curiosidade; mas a Casa leva minha história, meu acervo, meus desejos, minhas relações e a minha força de querer fazer. A Casa é um pedacinho de mim no mundo, mas também não é; é quase uma criatura pulsante, que se desdobra, que soma e que chama uma outridade.

Em nossa conversa, você também falou de um espaço nos fundos que seria dedicado ao teatro. Como ele irá funcionar? O que pensa em levar para lá? Performances e danças também estão nos planos?

Nosso Teatro é multiuso, assim como todos os espaços da casa. Teremos solos teatrais, performances, sessões de cinema, palestras e o que mais puder se inventar. Tem espaço para 45 pessoas e funciona como um ‘site specific’.

Quem trabalha junto contigo? Fale um pouco da formação da equipe e quais critérios você adotou para selecioná-la?

Soraya, é sem dúvidas, uma das pessoas que mais somaram nesse processo. Dividimos os cachos (risos) e a mesma forma de olhar para o mundo das artes, e é por isso que nosso trabalho resultou nessa exposição tão potente. Temos vários projetos juntas dentro da Casa e teremos ainda mais!

O que você sentia falta em Niterói que você acha que conseguiu alcançar com esse espaço?

Eu acho injusto criar um ‘antes e depois’ Casa 264, já que a cidade pulsa cultura e tem espaços super interessantes. Acho que senti falta de casa (Fortaleza), senti falta do que não sabia que existia e aí nesse bolo todo nasceu isso aqui. Um espaço que é tempo presente e que vai se transmutando; aprendendo com o hoje. Só de existir, a Casa já é algo ‘alcançado’.

O que você acha que poderia ainda incluir na programação da Casa 264?

No dia 13 de outubro, a Casa 264 promove o evento “Canto Exato”, um Sarau com leituras, de textos e conversas que contará com escritores e poetas do Nordeste, como Sara Síntique, Manoel Ricardo de Lima e Júlia Studart; além da francesa radicada em Fortaleza, Martine Kunz e outras escritoras da coleção “diabo na aula”, da editora Mórula.

Entre dezembro, a Casa recebe a sua 2ª Residência Internacional, desta vez com a artista multilinguagem, Marita Bullmann, que junto a mim e Soraya Albuquerque, irá inaugurar o Projeto ‘Residindo Mulheres’ (Re-side Woman), proposta que abrirá chamada para artistas mulheres de todo o estado do Rio de Janeiro, com intuito de oferecer espaço e proposições disruptivas para que elas possam desenvolver seus trabalhos, fortalecendo as suas pesquisas e seu desenvolvimento profissional.

Fechando as atividades do ano, a primeira edição da feira MEIO, focada na diversidade de suportes. Seguindo a proposta da casa, o evento propõe uma imersão e acontecerá em dezembro.

Esse projeto desenhado pela Soraya tem como proposta horizontalizar a venda de obras de arte com valores acessíveis, aproximando a arte contemporânea do cotidiano através desse experienciar.

 

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