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Benny Briolly: ‘Vou lutar pela política de direitos humanos em Niterói’

Por Por Livia Figueiredo

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Entre os campeões de votos, vereadora eleita pelo PSOL fala dos seus planos e de sua trajetória na política
Candidata a vereadora pelo PSOL, Benny Briolly / Foto: Arquivo pessoal

Uma das campeãs de votos na bancada dos vereadores, Benny Briolly fez história em Niterói, com 4.358 votos. Militante há seis anos, ela entende que a atuação política que carrega no corpo vem de muito tempo. Benny remete à batalha da sua avó para que estudasse e à sua mãe, para que ajudasse a alcançar uma saúde digna. Vive e resiste nela mesma que, desde sempre, enfrenta as desigualdades sociais na sua pele.

Transexual, negra, nascida em comunidade, Benny foi obrigada a lidar com todas as adversidades impostas pela sociedade. Não foi fácil, como era de se esperar, e continua não sendo. Benny chegou a ser ameaçada de morte nas redes sociais no final de outubro por um grupo da extrema direita. Enquanto ainda trabalhava no gabinete da vereadora Talíria na Câmara Municipal, ela foi xingada e hostilizada na rua. Na sua pré-campanha à vereadora, ocorreram novos ataques, que foram registrados como ameaça de morte e crime de LGBTfobia. As investigações foram abertas para que as pessoas responsáveis por esses perfis pudessem responder pelos seus atos criminosos.

-Não é a primeira vez que me sinto insegura e ameaçada. A gente reforçou algumas medidas e não vamos recuar na política – desabafa.

Benny conta que desde sempre organizou muitas lutas populares e coletivas. Assessora da deputada federal, na época vereadora, Talíria Petrone, no período de 2016 a 2018, ela foi responsável por acompanhar os fóruns e movimentos LGBTQIA+ da cidade. Além de participar dessas atividades na Câmara, ela estava sempre a par dos casos de violações dos direitos humanos. Tudo em sintonia com seu compromisso com os movimentos sociais.

Como vereadora, ela planeja um mandato que esteja a serviço dos movimentos sociais e da auto-organização das comunidades, priorizando uma política feminista, que acolha a demanda das mães trabalhadoras, por exemplo, que necessitam de creches noturnas e uma educação infantil integral e segura. Entre os seus projetos, a implantação de uma política de cota, geração de emprego e renda para a juventude negra, além de um sistema de saúde preventivo e comunitário.

Em entrevista ao A Seguir Niterói, a futura vereadora do PSOL fala da sua luta pelos direitos humanos, da sua experiência como assessora da deputada federal Talíria Petrone e dos principais planos.

A Seguir: Niterói: Você foi assessora da deputada federal Talíria Petrone. Poderia contar um pouco dessa experiência?

BENNY BRIOLLY: Fui assessora da Talíria desde a mandata municipal, eleita em 2016, e permaneci na mandata federal após 2018, quando saí para me tornar candidata. A gente organizou muitas lutas populares e coletivas durante esse processo, como uma audiência pública sobre trabalho informal com os ambulantes e camelôs. Eu já fui camelô e participava dessa pauta na cidade. Acompanhava os fóruns e movimentos LGBTQIA+ da cidade e a realização de ações desde atividades e campanhas na Câmara, até o atendimento de casos de violações de direitos humanos. Tudo sempre com um compromisso com o território, com os movimentos sociais. Construímos juntas um mandato que perturbava aquele espaço branco, engravatado, ultrapassado, colocando no plenário mulheres negras, camelôs, favelados e que também se comprometia em visitar o território e acompanhar a cidade. Toda quinta eu ia para a Praça do Rink prestar contas do nosso trabalho e junto de Talíria visitei todas as Unidades Municipais de Educação Infantil (UMEIs), além do Getulinho, Alzira Reis, etc. Um trabalho muito potente que queremos dar continuidade.

Quais seus principais planos?

Fazer um mandato com participação popular, abrindo discussões importantes e caras para a nossa cidade com o povo. Queremos um mandato que esteja a serviço dos movimentos sociais, da auto- organização das favelas. Queremos lutar pela assistência social e pela política de direitos humanos na cidade, que é muito afetada pela crise econômica que vivemos. Priorizando uma política feminista, que acolha a demanda das mães trabalhadoras, por exemplo, que necessitam de creches noturnas e uma educação infantil integral, com vagas para deixar seus filhos com segurança. Uma política que priorize a negritude e se comprometa com propostas que enfrentem a desigualdade racial que marca Niterói. Implantando, por exemplo, políticas de cota e geração de emprego e renda para a juventude negra e o compromisso com a redução da letalidade policial que mata muito na nossa cidade. Uma política que dê atenção para a população LGBTQIA+, pensando uma saúde preventiva, comunitária e específica para a gente.

Você chegou a ser ameaçada de morte nas redes sociais. Os ameaçadores foram punidos por isso? Como isso impactou sua rotina de trabalho?

A gente fez um Boletim de Ocorrência e o caso está sob investigação. Não é a primeira vez que me sinto insegura e ameaçada. A gente reforçou algumas medidas e não vamos recuar na política. Aprendi que não dá mais para silenciar e tratar como normal quem não sabe conviver num ambiente democrático, no debate de ideias. Não me calo mais e quem pensar em me calar, vai ter que comprar o barulho de muitas. Não andamos sozinhas.

Há quanto tempo você está atuando na área da política? O que te fascina nesse meio que exige tanta luta?

Sou militante organizada há seis anos, mas entendo que a atuação política para nós, que carregamos no corpo a luta, é de muito antes. Veio com a batalha da minha avó para que eu estudasse, da minha mãe, por saúde digna, e trago em mim desde sempre porque vivo as nossas desigualdades sociais na minha pele. Então costumo dizer que a luta política para a gente não é uma escolha. É o que a gente precisa para melhorar a vida do nosso povo preto, mulheres, favelados, LGBTQIA+: luta para a gente é briga mesmo.

O que gosta de fazer em Niterói no tempo livre? O que te ocupa a mente? Qual seu refúgio?

Ultimamente esse tempo nem está existindo por conta da campanha, mas quando posso gosto de ir à praia, ir ao meu barracão cuidar do meu axé, sair com as minhas amigas, conversar com a minha avó, como todo mundo.

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