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Há 15 dias, a cafeteria Não Me Torra, que funcionava em uma banca de jornal em frente ao Clube Regatas, na Praia de Icaraí, precisou mudar de endereço, pois o prédio do clube foi vendido e as obras vinham afastando a clientela. Com autorização da Prefeitura, a banca saiu do número 63 da Avenida Jornalista Alberto Torres para o número 113. A remoção da banca foi feita à noite, na véspera de um feriado, sem barulho para não incomodar os vizinhos. Esforço em vão, pois alguns moradores do prédio em frente ao novo endereço do café reagiram à mudança de forma negativa, publicando reclamações nas redes sociais e enviando mensagens intimidatórias para a página do pequeno empreendimento.
Jéssica Lima (30), inaugurou o Não Me Torra há três anos com mais dois colegas. O empreendimento rapidamente se tornou uma parada obrigatória no bairro, recebe muitos elogios diariamente em sua rede social. Por isso mesmo, a equipe viu com espanto a reação dos novos vizinhos, e desistiu de reabrir as portas após a mudança, com medo que as ameaças feitas se concretizem.
Aflita, Jéssica falou ao A Seguir: Niterói sobre a pressão que vem sofrendo, mas também do apoio que recebe nas mensagens dos clientes, que saíram em defesa do lugar, em resposta às intimidações virtuais.
– Pedimos a mudança por causa da obra no prédio, e a gente está com autorização da Prefeitura para mudar. Mas o pessoal que mora em frente não está aceitando. O café está há praticamente 20 dias fechado. Os clientes estão se mobilizando, fazendo abaixo assinado… só que a gente não esperava era que iria repercutir tanto na internet, e que um monte de clientes nossos iriam se manifestar. Temos repostado as mensagens, que vieram pra nossa felicidade, porque a gente vinha recebendo todos os dias ameaças dos moradores do prédio. A gente não entende o porquê de tudo isso.
Algumas publicações foram feitas em grupos de moradores de Niterói, reclamando do espaço da calçada, criticando a instalação elétrica, de esgoto e o fato de a mudança ter sido feita à noite. Jéssica rebateu alguns comentários, que posteriormente foram apagados pelos próprios autores.
Além do assédio virtual, um morador chegou a fazer uma confrontação cara a cara contra Jéssica e os sócios, na última quinta-feira (02). Ela conta que foi pouco antes das 15h,quando recebeu a ameaça diretamente de um jovem morador do prédio:
– Ontem (02) estávamos eu, meu marido e o Helbert limpando a banca, e aí passou um rapaz jovem, um playboy, que perguntou “Ah, vocês não vão fechar não? Ó, se não for por bem, vai ser por mal”. Insuportável.
Ela ainda não prestou queixa, mas disse que, se a situação não melhorar, sente que vai precisar fazer um registro de ocorrência. A jovem empreendedora diz ter dificuldade de entender as reclamações e as exigências dos moradores, que a acusam de cometer infrações como ligação de luz e esgoto ilegais.
– A gente fica muito triste, porque é uma banca inovadora, não existe isso no estado do Rio de Janeiro, somos a primeira banca de Niterói, tem gente que vem do Brasil inteiro conhecer o café. A gente que começou a movimentar essa cena de cafés especiais em Niterói, outras cafeterias locais abriram depois da gente. Então, a gente desbravou tudo isso e é isso? Manda quem pode, obedece quem é pobre no Brasil. Eu tenho medo do que eles podem querer fazer contra a gente ou a banca.
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