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Uma pesquisa de recadastramento e demarcação do Sambaqui Camboinhas e Duna Pequena está sendo realizada por arqueólogos de várias instituições e busca vestígios dos habitantes que ocupavam a região há 5 mil anos. O trabalho começou há cerca de duas semanas, tendo à frente o Museu de Arqueologia de Itaipu que conta com a parceria da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Museu Nacional (UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
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Localizados na área remanescente de restinga próxima à laguna de Itaipu, o Sambaqui Camboinhas e a Duna Pequena integram, junto com a Duna Grande, um amplo território tido como de grande valor arqueológico.
Em seu perfil do Instagram, o Museu informa que as primeiras sondagens em subsolo realizadas para delimitar os sítios, em extensão e profundidade, “revelaram uma camada arqueológica rica em restos de fauna aquática e terrestre, artefatos produzidos com pedras, vértebras e conchas, corantes naturais, estruturas de fogueiras pré-coloniais e aglomerados de conchas”.
O trabalho está sendo conduzido pela arqueóloga Michelle Maymi Tizuka, coordenadora de campo, e pelo arqueólogo e professor do Departamento de Arqueologia da UERJ e coordenador do Núcleo de Pedagogia Institucional (Nupai) da UERJ Anderson Marques Garcia.
Autorizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Instituto Estadual do Ambiente (INEA), a pesquisa foi organizada nos moldes de um sítio-escola, com participação de alunos de graduação de arqueologia da UERJ.
De acordo com o Nupai-UERJ, a pesquisa é a primeira ação de recadastramento no município de Niterói que tem, até o momento, 24 sítios arqueológicos cadastrados no Iphan. Com ela, será possível “resgatar a memória do mais antigo patrimônio arqueológico da cidade de Niterói”.
Dados de uma pesquisa anterior, realizada no final dos anos 1970, e início dos 80, indicam que os sambaquieiros habitaram a região que vai de Itaipu a Camboinhas há, pelo menos, 5 mil anos. Eles eram pescadores-coletores.
Uma de suas características era trabalhar materiais trazidos de fora, tais como o quartzo, apropriados para a confecção de artefatos. Os sambaquieiros utilizavam os recursos “de forma sustentável, com produção mínima de resíduos”.
O PL Nº 00161/2022 que trata da Lei Urbanística de Niterói, prevê possibilidade de adensamento urbano justamente na área em que as pesquisas estão sendo realizadas. De acordo com o texto, o local seria uma Zona Residencial Ambiental (ZRA) onde seria permitido construir edifícios de até seis andares.
O PL está em tramitação na Câmara dos Vereadores.
O Museu de Arqueologia de Itaipu foi fundado em 1977 com o objetivo de preservar e difundir o patrimônio cultural de natureza arqueológica da região, inclusive com foco no fortalecimento da atividade turística local.
No site da instituição é informado que, na época da inauguração, a região oceânica de Niterói passava por modernizações urbanísticas e as obras acabaram por levar a novas descobertas arqueológicas. Foi durante a abertura da estrada para Camboinhas, em 1978, que o sítio arqueológico da Duna Pequena foi localizado. Porém, parte dele já tinha sido parcialmente destruído pelas próprias obras.
A descoberta da Duna Pequena levou à localização do Sambaqui de Camboinhas, “último remanescente arqueológico de tipo sambaqui entre a região de Niterói a Saquarema”.
É desse sítio que provém os “blocos testemunhos” pertencentes ao museu, cuja técnica de preservação – cimentação ou plastificação do encaixotamento de vestígios arqueológicos, tais como o solo e a estratigrafia – foi desenvolvida e aplicada pioneiramente pelo Padre Rohr, no Sítio do Sambaqui de Camboinhas. Somente um dos seis blocos foi datado, constando sua existência de 6000 a.C. (cerca de oito mil anos de idade).
Esses blocos testemunhos do Sambaqui de Camboinhas, hoje sob guarda do Museu de Arqueologia de Itaipu, foram preservados graças à “Pesquisa de Salvamento em Itaipu”, realizada em 1979 sob coordenação da Prof. Dra. Lina Maria Kneip, por meio de um acordo de cooperação técnica entre o Iphan e o Museu Nacional/UFRJ.
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