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O apagão que fechou o Mercado de São Pedro na quinta-feira (5) não foi um problema isolado. Se repetiu várias vezes ao longo do ano.
A Enel, que já mereceu até uma CPI diante de tantos transtornos causados pela irregularidade do fornecimento de energia elétrica, alega que muitas vezes o aumento de consumo, em função de novas atividades econômicas, sobrecarrega o sistema e provoca o blecaute. A “pane” acontece também em outros serviços, como transportes, saúde e educação.
A economia melhorou, depois da pandemia, com a retomada de setores importantes, em Niterói, como comércio e serviços, mas a cidade não consegue atender a demanda gerada pelo aumento das atividades.
O transporte público é outro setor que torna a vida do morador de Niterói mais difícil, com a redução da frota de ônibus e o aumento da espera nos pontos, sempre cheios. As empresas alegam a defasagem da tarifa e reduzem a circulação para diminuir o prejuízo.
Um dos dados mais marcantes de 2023 foi a retomada da atividade econômica, que se ensaiava desde o fim da pandemia. O ano terminou com forte aumento do PIB, da ordem de 3%, e a melhor taxa de emprego, desde o início da pesquisa, com o desemprego em torno de 7%.
Niterói sentiu esta retomada: foi uma das a cidades com maior aumento na oferta de emprego no estado.
Veja mais: Niterói é o município do Leste Fluminense que mais contratou, (aseguirniteroi.com.br)
As lojas que ficaram vazias desde a crise de 2016 e, depois com a Covid, foram reabertas. Difícil encontrar pontos nos principais centros comerciais da cidade.
Bares e restaurantes estão cheios. Shows, superlotados. O réveillon foi um bom retrato desta dinâmica: 1 milhão de carros cruzaram a Ponte Rio-Niterói, um número recorde, como também foi recorde o número de pessoas que saiu de casa para ver os fogos e festejar o novo ano.
Tudo isto indica que há mais gente trabalhando, gerando renda, circulando.
O aumento da atividade, no entanto, não tem sido acompanhado pela melhoria dos serviços públicos e da infraestrutura da cidade.
Os agravamento dos congestionamentos, que hoje acontecem em todos os sentidos, a qualquer hora do dia, é um sinal do problema.
O transporte público piorou, como pode ser medido pelo aumento das filas nos pontos de ônibus. E a cidade com o maior número de carros per capita no estado, com uma frota de 300 mil veículos, fica parada.
Embora o Censo tenha registrado uma redução da população, estimada até o ano passado em 516 mil pessoas, pelo IBGE, e hoje com documentados 481 mil moradores, a construção imobiliária em torno das principais vias da cidade, como Icaraí, Centro e Fonseca, na política de adensamento proposta pelo município, agrava o problema, com a entrada e saída de carros em prédios e no comércio interrompendo o trânsito.
O adensamento também contribuiu para a degradação de bairros tradicionais da cidade, que hoje tem 35 mil imóveis abandonados, no Centro, Fonseca, Santa Rosa e na Região Oceânica.
A própria Prefeitura de Niterói já alegou esta “sobrecarga” ao explicar a falta de vagas na Educação Infantil e no Ensino Básico, no ano passado pela procura maior pela escola pública. Na Saúde, as filas no atendimento, com demora de até seis meses para atendimento em algumas especialidades, é justificada pela forte demanda.
A questão do adensamento sem o aumento correspondente da oferta de serviços foi um dos temas mais discutidos no debate em torno do novo zoneamento da cidade, a Lei do gabarito, como ficou conhecida.
Por determinação da Justiça, que suspendeu a tramitação do projeto de lei para a realização de debates antes da votação, foram realizados encontros setoriais, que abordaram os efeitos das propostas do governo. trânsito, escolas e saúde apareceram com destaque entre as preocupações de arquitetos e urbanistas.
Um bom exemplo aparece no Centro da cidade, um dos principais projetos do governo, que liberou a construção de edifícios de mais de 20 andares, numa área onde não há escolas.
As dores do crescimento podem tornar a vida dos moradores de Niterói mais difícil, em 2024, se o poder público não souber responder às novas demandas de serviços.
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