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‘Amor mio’: projeto que fala da emigração e culinária italiana é lançado em Niterói

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Além de livro sobre a história e receitas de italianos, projeto chegará a três escolas públicas; Chef italiano Bruno Marasco vai cozinhar, enquanto conversa com os jovens sobre o seu ofício
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Obra fala de memória, sobretudo, de um importante legado cultural e histórico compartilhado entre italianos e brasileiros. Foto: Divulgação

De italiano para italianos. Essa é a proposta que reluz do projeto “Niterói, Amor Mio!”, cujo principal objetivo é narrar os aspectos oriundos da imigração para o Brasil. Produzido com incentivo da Prefeitura Municipal de Niterói e da Secretaria Municipal das Culturas, o projeto conta a trajetória de 21 famílias que deixaram a Itália e se instalaram em Niterói. “Quem veio primeiro?”. Esse e outros questionamentos funcionam como um fio condutor para relatos que, juntos, traduzem o real significado do termo muito falado entre os imigrantes italianos: “fazer a América”.

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O projeto será lançado no dia 30 de agosto e é composto por três frentes: Livro, exposição e a exibição de um filme institucional. Produzido pela Texto & Café Comunicação e Editora, a gestão fica a cargo de Verônica Oliveira e Maria Gomes. Os locais escolhidos para os eventos foram Theatro Municipal de Niterói e Sala Carlos Couto. No âmbito social, o “Niterói, Amor Mio!” vai abraçar três escolas públicas, com o objetivo de falar um pouco sobre a imigração e o segmento de restaurante. O Chef italiano Bruno Marasco vai cozinhar, enquanto conversa com os jovens sobre o seu ofício e esclarece possíveis dúvidas e curiosidades.

De acordo com a historiadora, Priscila Aquino a presença italiana em Niterói é tão marcante que os historiadores especializados identificam a criação de uma ‘Pequena Itália’ na cidade.

– Aqui, essas famílias reproduziam suas formas de vida, sua cultura e costumes, sendo o hábito de se reunir em torno da mesa um deles. Detentoras das receitas e preparos, protagonistas dessas reuniões, as mulheres cumpriam um papel essencial – pontua.

Já o livro “Cucina d’Amor – Histórias e Receitas de italianos no Brasil” narra a trajetória das famílias Marasco, Sassi, Petraglia, Buzin, Bruno, Tagliabue, Polizzo, Pollola, Lorusso, Paura, Fuscaldo, Chinelli, Carino, Lucchesi, Acceta, Villa, Cappucci e D’Andrea. Mais que um livro de receitas, a obra fala de memória, sobretudo, de um importante legado cultural e histórico compartilhado entre italianos e brasileiros.

– A imigração italiana em Niterói vem de longa data. Desde a chamada “Grande Imigração”, entre 1870 e 1930, os italianos se fixavam em Niterói e São Gonçalo, pela proximidade da Hospedaria de imigrantes da Ilha das Flores, aberta desde 1883. Essas famílias que aqui se fixaram ocuparam ofícios como engraxate, vendedor de frutas e jornaleiros. Dessa forma, se inseriram no dia a dia da cidade, trazendo consigo a magia do gestual e o gosto pela cultura da boa mesa. Como ressaltam vários autores (DaMatta, Cascudo e Montanari), a culinária por si só representa um “marcador identitário” de grande relevância. De acordo com eles, “comida é cultura” e constitui-se como importante narrativa de uma memória social da comunidade – destaca a gestora de projeto, a jornalista e escritora niteroiense, Verônica Oliveira.

As receitas do coração

Das tardes regadas a pão e vinho, entre outras especialidades italianas, Suzanne Iervolino, também uma descendente, se dedicou à escuta ativa de 21 histórias contadas por imigrantes ou por seus descendentes. Como resultado as transformou em crônicas que traduzem o universo dessas famílias, e como elas conseguiram se estabelecer na cidade e prosperarem, a despeito de todas as adversidades.

Cada uma dessas crônicas é representada por um prato típico da culinária italiana que pode ser doce, apimentado ou salgado – assim como as lágrimas –, de acordo com a essência do texto. E cada receita foi produzida pelo Chef Bruno Marasco, sob os olhares curiosos dos entrevistados – muitos não faziam ideia do prato que seria preparado e do poder que trazia, tendo como referência as suas lembranças compartilhadas durante a entrevista. Enquanto isso, a cineasta Naila Gianni e a fotógrafa Adriana Oliveira registraram todos esses momentos.

Filme e exposição

O filme institucional do projeto e a exposição, que conta com a curadoria de Wil Catarina e Bê Sancho, são complementares e convida o público a experienciar essa vivência da emigração italiana em um período histórico de profundas mudanças no cenário mundial. Na realidade, a política emigratória foi fruto de um casamento de anseios e necessidades.

Com o fim do trabalho escravo no Brasil, a aristocracia portuguesa buscava uma mão-de-obra barata e pronta para o trabalho braçal. Com base nas teorias racialistas do período, o Estado Brasileiro resolveu investir na vinda de imigrantes europeus. Na Europa, os italianos já viviam um fluxo de emigração rumo às Américas. Trazer essas famílias para o Brasil foi uma forma de suprir a ausência de trabalhadores experientes para atuar nas lavouras cafeeiras, especialmente, no interior de São Paulo.

– No ano em que Niterói completa 450 anos de fundação, ter a oportunidade de conhecer um pouco das nossas origens e entender de que forma elas influenciaram em nossa trajetória histórica considero um importante ganho para a nossa memória coletiva. A grande questão é que muitas vezes desconhecemos todos esses fatores por eles já estarem tão amalgamados em nossos hábitos e costumes, tais como os culinários, que não nos damos conta disso. O projeto “Niterói, Amor Mio!”, através do resgate das histórias de 21 famílias de imigrantes italianos, demonstra, em um pequeno recorte, o quanto essas vidas estão tão presentes no nosso dia a dia, seja com os seus restaurantes, realçando a fama de Niterói como polo gastronômico, ou por seus ofícios e profissões que tanto acrescentam ao desenvolvimento da nossa cidade – conclui Verônica.

A emigração

Enquanto isso, na Itália, no período compreendido entre 1870 e 1900, vários italianos estavam deixando o país em busca de condições de vida mais atrativas. As crises econômicas e sociais que assolavam o país empurravam os trabalhadores, sobretudo operários, agricultores, pedreiros, artesãos e colonos, a cruzarem os mares em busca da realização do seu sonho. A maioria deles queria conquistar um pedaço de terra que pudesse ser chamado de seu. Ou seja, buscar um novo recomeço!
A emigração italiana totalizou um período de 140 anos, com início em 1861 e término na década de 1980, totalizando um quantitativo de 29 milhões de italianos que deixaram o seu país rumo às Américas.

Esses e outros dados foram levantados pela historiadora Priscila Aquino, PhD em História pela Universidade Federal Fluminense – UFF, que assina todo o embasamento histórico, tanto no livro quanto na exposição. Em seu texto introdutório no Cucina d’Amor, ela reflete bem o papel do livro no projeto: o livro que aqui se apresenta costura a malha fina da trajetória de muitas famílias que chegaram a Niterói, oriundas de diferentes movimentos emigratórios, e que cruzaram o Atlântico em busca de uma vida melhor.

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