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Com a disparada de preços nos supermercados, o niteroiense reclama, anda muito para pesquisar atrás de valores mais baixos e até muda hábitos alimentares. É que, para onde se olha, a impressão é que tudo aumentou (e bem) de preço. Em 2021 o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) bateu dois dígitos: 10,06%. Mas alguns itens, mesmo os da cesta básica, subiram bem mais.
Parte do aumento de preços é efeito da pandemia de Covid-19, que causou desemprego em massa, desestabilizando a economia. Parte é efeito da desvalorização do real frente ao dólar, parte é resultado da redução do consumo das famílias, enfim, são vários os fatores.
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– Hoje em dia a gente suspeita quando algo está barato. Aqui na loja (de especiarias), os clientes costumam desconfiar de algumas mercadorias. Nós explicamos que repassamos mais ou menos o mesmo preço que compramos, mas ainda assim não cola – relata um funcionário de uma loja de temperos e especiarias em Icaraí.
Essa não é uma percepção isolada. O aumento dos preços não tem dado trégua mesmo com a população comprando menos. Mesmo com pouca procura, e portanto, pouca demanda, o preço daquilo que vai para as prateleiras aumenta porque produzir está cada vez mais caro.
No Brasil, o impacto tem sido pior, em função de vários outros fatores. Os alimentos acumulam alta de 14,66% em 12 meses, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com destaque para açúcar (44%), óleo de soja (32%) e carnes (25%).
A alta dos preços pode ser atribuída à valorização de muitos deles nos mercados internacionais, como por exemplo, os preços do milho, da soja e do trigo, que subiram consideravelmente em bolsas internacionais, como commodities importantes. Outro fator que ajuda a explicar o aumento é a disparada do dólar. A moeda norte-americana subiu 29,33% em 2020 e já acumulou alta de 6,33% em 2021, sendo vendida acima de R$ 5,50.
A disparada dos preços em supermercados
O engenheiro Ricardo Ferreira, de 55 anos, vem observando ao longo dos últimos meses um aumento expressivo de vários itens do supermercado. Acostumado a percorrer os mercados da sua redondeza, o engenheiro diz que conseguia encontrar com mais facilidade produtos em promoção. Após ir a quatro ou cinco mercados, costumava sair satisfeito depois de garimpar as melhores ofertas. Agora, ele diz que, mesmo fazendo as compras a pé, não compensa.
Ele destaca o aumento de alguns itens como leite e seus derivados (iogurte, queijo, leite), carne, peixe e algumas frutas, como banana prata. Ele também cita como exemplo os pães de forma tradicional que custavam R$3,99 há cerca de um ano e atualmente custam R$5,99.
– A percepção é que há cerca de um ano produtos como queijo, leite e carne dobraram de preço. Digo isso porque costumo fazer o controle dos meus gastos todo mês. A carne, por exemplo, que era R$20 o quilo, praticamente dobrou para 40 e não parece que vai diminuir nem tão cedo. O feijão aumentou também cerca de 30% em dois anos, sem falar na disparada do arroz. Leite e derivados também estão caríssimos – conta.
Ao consultar a sua planilha dos gastos com alimentação, o engenheiro observou que, em dois anos, considerando todo o tempo da pandemia, houve um aumento de 70% dos seus gastos com supermercado e restaurante.
– O aumento real nesses grupos foi bem acima da inflação oficial no período, que foi de 15,03%, mas isso ajuda a entender porque os restaurantes também foram afetados e ajustaram o preço. Não foi apenas o supermercado que aumentou consideravelmente. O serviço, de forma geral, está mais caro. Tansporte, lazer, etc, além, é claro, da gasolina. Todos as áreas foram afetadas e com os restaurantes não podia ser diferente – complementa.
Uma rápida pesquisa mostra que o queijo mussarela no supermercado Real estava a R$40 o quilo. No supermercado, o tomate, mesmo selecionado nas ofertas da semana, estava saindo a R$5,99 o quilo, mesmo valor da banana prata. O azeite, também em promoção, estava por R$23,98. Açúcar refinado custava R$3,99, cerca de 30% mais caro que no ano anterior. No mercado, o iogurte Itambé saía por R$11,98 a unidade. A manteiga Elegê, por R$10. Itens considerados de luxo, como salmão e picanha argentina também subiram de preço.
No supermercado Prix, a estratégia adotada foi criar um clube Pix para cashback. Funciona assim: a cada compra de produtos selecionados de Cash Prix, o cliente recebe 1 real de volta. É o caso do feijão “Máximo”, que está a R$7,99 e do leite Molico que está R$12,98. No Mundial, café pilão 500g está R$19,80, o que costumava ser R$15 até pouco tempo, um aumento de 30%. Um pacote de 5kg de arroz está saindo por R$15,90.
A aposentada Paula Fonseca diz que teve de repensar sua rotina de alimentação devido ao aumento de itens do dia a dia, como arroz, feijão, leite e carne. Reduzindo um gasto aqui e outro ali, ela trocou o jantar por um lanche.
– Às vezes eu procuro fazer um lanche, faço uma pastinha de berinjela e coloco no pão árabe. Reaproveito o espinafre que sobrou do almoço anterior e faço uma quiche. Temos que ser criativos – diz ela, destacando mudanças de hábitos que têm sido adotadas por muitas famílias.
– Nunca mais comprei carne de boi. Agora é só frango ou peixe porque não dá para pagar o preço absurdo da carne. Só voltarei a comprar quando ficar pelo menos razoável, mas não é possível pagar isso que estão cobrando – diz o taxista Márcio Ferreira, de 66 anos.
Mudanças nos preços da carne têm sido o principal fator para os aumentos gerais dos preços dos alimentos. É o que apontam alguns especialistas, que explicam que os preços da carne têm uma grande influência nos índices de preços porque os consumidores gastam uma parte relativamente alta de seu orçamento alimentar com esses itens.
Tarifa das barcas aumenta em 11,60%
O aumento também foi sentido no bolso daqueles que costumam pegar as barcas com uma certa regularidade. A travessia Arariboia (Niterói) x Praça Quinze (Rio) passou de R$6,90 para R$7,70 no dia 12 de fevereiro, seguindo um valor próximo à correção prevista pela inflação. O aumento da passagem foi de 11,60% em um ano. Já o catamarã, que faz o percurso Charitas x Praça Quinze, sobe de R$19 para R$21.
Os aumentos foram autorizados no ano passado pela Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários, Metroviários e de Rodovias do Estado do Rio de Janeiro (Agetransp). Mesmo com o aumento, passageiros continuam a reclamar da qualidade do serviço e, principalmente, dos intervalos ainda grandes entre as partidas das barcas.
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