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A um mês das eleições, democracia dá o tom nas ruas de Niterói

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Sozinho ou em grupo; cabos eleitorais vão ocupando as ruas da cidade; tá valendo até partidos tidos como “inimigos” dividirem esquina
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Ao todo, 302 candidatos a vereador e 7 à prefeitura de Niterói disputam a atenção do eleitor. Foto: Divulgação

Os sete candidatos à Prefeitura de Niterói e 302 candidatos a vereador registrados pelo TRE  têm cerca de um mês para conquistar o voto do eleitor. A partir de agora, as ruas tendem a ficar cada vez mais tomadas por cabos eleitorais, bandeiras e panfletos.

Para quem acha que tem muito candidato este ano, vale lembrar que, na eleição passada, em 2020,  o total de candidaturas para o pleito municipal foi 684.

Leia mais: Acabar com a Emusa, dar ônibus grátis, zerar fila da creche: conheça as propostas dos candidatos à prefeitura de Niterói

São menos 384 candidatos disputando votos por 17 partidos ou federações de partidos. Isso aconteceu porque houve uma mudança na legislação eleitoral.

Atualmente, a legislação eleitoral estipula que cada partido político ou federação poderá registrar candidatas e candidatos para as Câmaras Municipais no total de até 100% do número de vagas a preencher mais um (em Niterói, significa 22 candidaturas). Em 2020, o limite era de 150%.

Engana-se, porém, quem acha que a vida do candidato de 2024 ficou mais fácil.

– Esta mudança na regra fez com que candidatos mais “experimentados” tenham nesta eleição cabos eleitorais com mais poder de votos. Antes,  antes, muitos candidatos estavam registrados para cumprirem as exigências das regras eleitorais da época. – afirmou o jornalista Vinícius Martins, que há mais de 20 anos acompanha a política de Niterói, como assessor do vice-prefeito Paulo Bagueira.

Uma caminhada pelas ruas mostra muitas bandeiras estampando o rosto do candidato a vereador ou com ele dividindo espaço na propagando com o candidato majoritário.

Porém, a principal novidade é o clima. Ao contrário da eleição de 2022, que registrou confrontos, bate-boca e brigas, a democracia parece ter voltado às ruas. A Paulo Gustavo, em Icaraí, é quase uma síntese desse quadro.

Na rua, que é endereço de comitês eleitorais montados em espaços de lojas que estavam vazias, disputa a atenção do eleitor desde cabo eleitoral solitário que tenta fazer um transeunte receber material de campanha.

quanto mãe de candidato pedindo voto para o filho, ao lado de outros integrantes da família.

– Na rua a gente vê o melhor e o pior das pessoas. Muita gente faz cara de nojo e responde com grosseria quando ofereço algum material de campanha. Se eu levar para o pessoal, enlouqueço. Tenho que insistir em oferecer o material, ser simpática e me mostrar aberta a conversar. O mais importante é ter uma oportunidade de apresentar o candidato e suas propostas – afirmou Isabela Carvalho, que divulgava a candidatura à reeleição de Leonardo Giordano (PCdoB) no lado oposto da rua onde se encontravam cabos eleitorais de outros partidos.

Na sexta-feira passada (30), cerca de uma quadra distante dela, estava Soraya Saad, mãe do candidato Michel Saad Neto. Ela improvisou uma espécie de comitê na esquina das ruas Paulo Gustavo com Lopes Trovão, colocando o material de propaganda do filho em uma mesa plástica.

Mãe de candidato entra na disputa pelo voto do eleitor. Foto: Sônia Apolinário

– As pessoas não acreditam em mais ninguém. É preciso resgatar a confiança das pessoas. Nós mobilizamos a família e os amigos, na campanha. Ficar aqui na rua com bandeiras é importante para dar visibilidade para a candidatura, mas o que pode trazer voto, mesmo, é o trabalho de formiguinha, é quando um amigo nosso nos apresenta um amigo e conseguimos conversar com ele – afirmou Soraya cujo filho candidato tem 28 anos.

Apesar de jovem, ele já tem passagem pela administração municipal de Niterói. Durante a pandemia, por um ano, foi secretário do Idoso, cargo já ocupado pelo pai Beto Saad.

No “novo normal” político das ruas, o “desfile” de pequenos grupos de cabos eleitorais com suas bandeiras pelas vias não é mais considerado provocação. E até quem pertence a partidos políticos diametralmente opostos no espectro político está dividindo pacifica e democraticamente esquinas.

Foi o que se viu na esquina das ruas Paulo Gustavo com Otávio Carneiro. Lado a lado, mas cada um voltado para uma rua, cabos eleitorais do PSOL e PL balançavam bandeiras dos seus candidatos em perfeita harmonia.

Nesse ponto bastante visado pelos coordenadores de campanhas, o PSOL tinha chegado primeiro, mas o PL também pode se acomodar.

– Parece que tem mais candidato do que eleitor – brincou Marco Antonio da Rosa, morador de São Gonçalo, na sua terceira campanha como cabo eleitoral, desta vez, para candidatos do PL, no caso Matheus Dominguez. Ele continua –  A eleição passada teve muito atrito, agora, as coisas estão de boa.

Ao seu lado, Vitor Valle balança a cabeça concordando com o “colega”. O coordenador da candidatura  à reeleição de Paulo Eduardo Gomes (PSOL) contou que ano passado seria impossível dividir uma esquina com um cabo eleitoral de um partido tão “oposto”.

Os dois concordam em mais uma coisa: os olhares e “cara de nojo” que recebem dos transeuntes quando tentam entregar material de campanha seguem firmes e fortes.

Cabos eleitorais do PSOL e PL dividem democraticamente uma esquina, em Icaraí. Foto: Sônia Apolinário

Renovação

Apesar de não ter bola de cristal, Vinícius Martins acredita que  a renovação será pequena na Câmara Municipal, da ordem de  30 % das 21 cadeiras:

– O tempo de campanha é curto, 40 dias no total. Os vereadores de mandato largam na frente, pois têm mais poder de fogo para a captação desse exército de ex-candidatos. Soma-se a isso, mais recursos financeiros junto ao Fundo de Financiamento Público de Campanha, recursos próprios e de apoiadores e material de campanha, que tradicionalmente é disponibilizado pelas coligações majoritárias, aos candidatos proporcionais que compõem o seu arco de aliança. Ou seja, mais recursos e condições para um número menor de pretendentes – avaliou.

Na sua opinião, os candidatos, este ano, terão que usar de mais criatividade nas suas campanhas para atrair a atenção do eleitor. Quem se limitar ao que Vinícius Martins chamou de propagandas pasteurizadas e homogêneas pode vir a sentir o gosto amargo da derrota.

Ruas Paulo Gustavo com Lopes Trovão, em Icaraí: esquina cobiçada pelos cabos eleitorais. Foto: Sônia Apolinário

Cotação

Se campanha eleitoral é vista como uma época de ganhar um dinheiro extra, é preciso iniciativa para conquistar essa grana. Para o A Seguir, um cabo eleitoral contou que a todo momento é abordado por vendedores ambulantes ou motoristas de aplicativo, de todo tipo de veículo, oferecendo “serviços”.

Os ambulantes se propõem a segurar bandeiras por R$ 50. Já os motoristas para grudar adesivos nos seus veículos. Atualmente, a tabela é a seguinte: bicicleta: R$ 70; moto: R$ 150; carro: 200.

Ainda não se teve notícias de moradores de Icaraí cobrando para colocar bandeiras nas suas varandas:

– Já já vão aparecer. Sempre aparecem – disse um coordenador de campanha que preferiu não se identificar.

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